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CONSIDERAÇÕES E CONJECTURAS SOBRE A SUPREMACIA MASCULINA: O PATRIARCADO COMO MODELO DE GESTÃO.

DIVISÃO SEXUAL E REDES DE SIGNIFICADOS: ou sobre o monopólio dos meios sociais de coerção como fonte de poder do patriarcado.

2.1 CONSIDERAÇÕES E CONJECTURAS SOBRE A SUPREMACIA MASCULINA: O PATRIARCADO COMO MODELO DE GESTÃO.

Tem sido dito que a história da humanidade é a história dos homens como o universal. De fato, a escrita relegada a nós atesta um certo tipo de universalidade. “Dada a predominância masculina na esfera pública, os próprios registros sociais, historicamente” (GIFFIN,1991,p.193) foram feitos por eles, sob interesse de seu sexo. Entretanto, se invertêssemos dentro dessa própria lógica essa afirmação e disséssemos que a história da humanidade tem sido a história de como os homens se esforçaram para justificar sua universalidade? Uma série de atos apareceriam sobre outra ótica e revisitaríamos a ciência, a literatura etc.

Também teríamos que pensar e reconsiderar os testamentos que dizem que as mulheres ocuparam um segundo lugar na história; como se elas tivessem sido passivas e coniventes com a sua subordinação, como indica Beauvoir (2009). Isso faria com que pensássemos que, em verdade, foram alijadas das partes essenciais da vida cotidiana, ou melhor, que não foram registrados os seus feitos na vida cotidiana. E como não compunham o campo da escrita formal o registro de suas atividades foi considerado inexistente.

E se continuássemos invertendo os próprios ditos, teríamos que pensar nas estratégias de resistência, que vem aparecendo na história com os avanços dos estudos de mulheres, feministas e de gênero. Por exemplo, com um olhar na perspectiva do gênero pensaríamos no valor das articulações que as mulheres faziam para pressionar e ter algo a partir de sua posição numa sociedade extremamente misógina, como era o caso das mulheres da Grécia antiga (VEYNE, 2009); que segundo os autores da época eram insuportáveis, onde o casamento se tornava um “martírio” na visão deles. E se olhássemos para as bruxas e curandeiras, que detinham um poder médico que fora tomado pelos homens, mas não sem antes demonizá-las, e mesmo assim mantém se até hoje a história delas. Boureau (2016) em um estudo sobre a demonologia da baixa idade média, nos fornece os dados de como a presença de Lúcifer foi sendo aos poucos carregada de significação mais densa, não como uma força repelível que antes era, mas como um ente, denso, inteligente e poderoso nos quais as mulheres se aproximavam para obter poder. Por acaso, necessitaria de grandes convenções, tribunais, justificações, coerções e violências um sistema que fosse absoluto?

Teriam elas realmente ocupado um segundo lugar? É uma pergunta que não pode se contentar com respostas afirmativamente imperativas, pois como nos lembra Bock (1991) não podemos reputar como atrasadas ou sem ação às mulheres do passado e ver “el pasado sólo em función del presente o como um instrumento de éste” (p.58) impossibilitando o diálogo com as resistências anteriores à organização política contemporânea.

Se colocaria na mesa, também, para escrutínio a noção de Homem como universal. O “é” teria que ser revisto como “se tornou”. Sob esta ótica, do apagamento contínuo do feminino, percebemos que tal universalidade se torna hegemônica, mas nunca de forma absoluta; o fantasma do feminino não desaparece no decorrer dos tempos, ele é ignorado e o corpo das mulheres é violentado como forma de afirmação tal universalidade. O homem é o sujeito universal por articular um conjunto de saberes que ao mesmo tempo que lhe dá visibilidade, apaga às mulheres. No “ser” se encontra a forma bruta de exclusão, pois, ser algo é se colocar diante de algo que não é. Ser homem é não poder se comportar igual a uma mulher, e o trabalho para modelar isso assume diversas frontes de acordo com o contexto histórico.

Por esse caminho, a violência se torna uma ferramenta não de subordinação – para subordinar é exigido outros mecanismos – mas de velamento da fragilidade da dominação masculina e da cadência de seu poder. Tal qual um criminoso que executa a testemunha de um ato impróprio que revelaria todo o esquema cambaleante de um crime nada primoroso, assim é a violência patriarcal. Aqui estaríamos nos alinhando a ideia de poder e violência presente no pensamento filosófico de Hannah Arendt (1994): para ela o poder é uma equação de persuasão, convencimento, coerção e em certa medida de conivência, de um determinado grupo: não se exerce poder sozinho. Já a violência é fenômeno quando o poder vacila e não consegue se sustentar pelo vigor ou autoridade.

A violência, dentro do quadro da dominação masculina sob a dogmática do patriarcado, é uma forma de enfraquecer a existência do outro, construindo uma “debilidade” como fruto da natureza e não como construção social. É como uma luta onde o mais forte justificaria sua vitória pelo seu vigor e não por outros fatores como noites de sono dormidas, acesso à alimentação e outras coisas. Com isso, levaríamos o pensamento para reconstruir o caminho que grupos específicos usaram para forjar essa ideologia de supremacia masculina – os homens não pretendem dominar outras mulheres, querem também dominar outros homens, e isto é determinado, também, “geoetnicorracialmente”. É demasiado perigoso construirmos uma linha contínua da dominação masculina, e atribuir universalidade ao patriarcado (BUTLER, 2014).

Isso não quer dizer que a dominação masculina não se apresente em grande parte do globo terrestre, mas que cada local tem uma forma específica de dominação que corresponde aos seus signos e as suas justificações, especificamente, para a troca das mulheres (RUBIN, 1975).

É intrigante pensar que algo a ser defendido entre ameaças e coerções seja tão poderoso assim - e isso não quer dizer que não cause grandes danos. Mais acuradamente, o patriarcado se manteve de pé graças à exclusão das mulheres de diversos lugares. Talvez, querer carregar o título de ser o universal pode nos fazer perceber que a masculinidade, hombridade, virilidade, estavam desde sempre ancoradas na fragilidade e na realização de violências para se manter. Assim, a promoção de violência simbólica para a subjugação de classe, sexo, gênero e território, foi fator tão decisivo para a manutenção do patriarcado, que é algo imbuído há tempos na história da humanidade. O patriarcado se constitui como o processo de desenvolvimento masculino onde as condições concretas impedem as mulheres de participar da vida cotidiana pública e coletiva.

Mas como ocorreu essa universalidade? Pelo exercício contínuo e articulado ao contexto social, da expulsão das mulheres de diversos espaços, pelos monopólios das ferramentas de poder, pela violência e pelo monopólio dos artefatos de guerra (aqui cabem os saberes militares, como estratégias, manejo de armas etc. E, assim, como muitos jovens são iniciados em plena puberdade, é de se considerar que não são as armas que são feitas para os homens, mas os corpos masculinos que são preparados para as armas – nestes casos).

A divisão sexual do mundo é algo que existe desde muito tempo, e isto não é um problema. Entre o paleolítico e adentrando na antiguidade, se mantém uma reverência à mulher enquanto ser sagrado e misterioso. O que nos leva pensar que a sedentarização de parte do corpo social e até sua atribuição para cuidar da prole, ou até de outras meninas (quem sabe?) fez com se dividisse sexualmente as tarefas. Se pensarmos assim a divisão sexual das tarefas poderia muito bem ser entendida. Entretanto, a atribuição de seus significados e valorizações não foi algo dado desde sempre; e essa atribuição em algum período passa a ser favorável aos homens – compreendemos que alguma perturbação nas relações de poder da antiguidade mudou isso, entretanto, a análise das relações de poder da antiguidade não pode ser feita aqui dada a amplitude dos fatores, mas, cabe lembrar como a arqueologia aponta, que as mulheres foram agentes no processo de hominização e até na condução religiosa. Mas foi uma atribuição que teve que lidar com resistências e questionamentos. Um processo que a arqueologia vem construindo e desvendando aos poucos como as mulheres foram importantes para o

desenvolvimento da civilização não só na pré-história (SOFFER et al., 2009), mas em toda a história. Uma série de fatores são importantes e demonstram que não foi um imperativo que surtiu o revés para as mulheres, mas foi algo construído pela e na propaganda da supremacia masculina, que depois serviu para a dominação masculina finalizada ocidentalmente no patriarcado.

De fato, quando a humanidade se descobriu humanidade, a sexualidade veio à reboque. Quando nós pusemos de pé nossos órgãos ganharam posições diferentes, e surgiu uma diferenciação sexual nítida. Entretanto, essa diferenciação não constituiu valor a princípio, mas mistério. A vulva permanecia um arcanum sexualis, em contraponto com o órgão masculino que era localizado e vulnerável, dada a externalidade do escroto e do pênis. Isso modificou completamente o modo como nos relacionaríamos com a sexualidade e saltamos à natureza em estatuto ontológico. Assim,

A permanência dos estímulos sexuais visuais, como polo preponderante nas trocas sexuais dos indivíduos da espécie, fez com que a atividade sexual humana, tornando- se aperiódica e contínua, acabasse por ser a mais rica dentre os animais. (JORGE, 2008, p.167)

Nossa sexualidade passou a ser mediada por explicações, por costumes. Justificações míticas e sobrenaturais já sinalizavam que a cultura era uma rede de significações muito mais precoce que podemos imaginar – como a inumação ocorria periodicamente já no paleolítico, podemos supor que certo grau de cultura já administrava a existência humana; a crença na vida após a morte já apresentava uma a noção de vínculo com algo que ficava na Terra, o que se entende pela propriedade de posses.

A diferenciação sexual se tornou correlato para a realidade que era explicada por sistemas cósmicos. O cosmos incidia sobre a vida da coletividade, de forma que casas e locais eram separadas de acordo com o princípio masculino e feminino, havendo, aliás, uma ideia de complementaridade entre as pulsões masculinas e femininas (ELIADE, 2010). A periodicidade da fisiologia feminina30 – e aqui devemos lembrar que a menarca não é nivelada para todas as mulheres, podendo chegar mais cedo ou mais tarde, e também os casos de amenorreia que é

30 Quando falamos do passado, geralmente, é sinalizada uma homogeneidade nos corpos; como se os distúrbios e

as irregularidades não fossem, também, presentes naquele tempo. Ocorre, igualmente, nas análises partirem da heterossexualidade moderna, desconsiderando os arranjos que eram mais diversificados: a presença de práticas homossexuais era constante em povos antigos, de modo que entre relatos religiosos e artefatos arqueológicos se encontram imagens de práticas homoeróticas.

quando a mulher por algum motivo de saúde deixa de menstruar - que não se encontrava nos homens, instituía uma correlação entre o corpo terrestre e corpo útero-vagínico31.

A passagem entre os períodos mesolítico e neolítico vai cada vez mais sexualizar as esferas humanas; é presente esculturas de formato fálico e a presença da deusa-mulher, geralmente nua, seguida do touro (ELIADE, 2011). O fato de engravidar e dar à luz uma nova vida, carregava o corpo útero-vaginal de poder semelhante aos ciclos da Terra. Os homens eram limitados por não poder dar à luz, e assim, alguns supõem que os homens iam coletar comida para o sustento feminino.

Vale considerar que como o grupo trabalhava coletivamente, o nascimento de novos sujeitos era proveitoso, a princípio; pois renovava a mão de obra do grupo, e mantinha viva suas tradições. O aparecimento de novos sujeitos interligava gerações, histórias e saberes, e também expectativas. Assim, quanto mais nos tornamos humanos, mas nos constituímos como seres coletivos guiados por saberes, e a sexualidade, a reprodução e a procriação passam a ser intercaladas por esferas de produção de conhecimento32.

Como a “linguagem” e a “cultura” já se encontravam presentes, a mediação oral dessas significações sexuais poderiam ser justificadas, inscritas e repassadas, e, assim, foram “imersas no conjunto das oposições que organizam todo o cosmo, os atributos e atos sexuais [e assim] sobrecarregados de determinações antropológicas e cosmológicas” (BOURDIEU, 2014,p.20). Edgar Morin (2012) diz que há uma articulação entre natureza e cultura como constituinte da humanidade. Entretanto, como mencionamos, mesmo a natureza, como a conhecemos e a apreendemos é uma construção subjetiva de nossa atividade humana. De acordo com o preenchimento das condições materiais, a humanidade ia aos poucos moldando a si e a sua volta (MARX, 2007). Isso pode surtir vários reveses; e podemos supor que essa imprevisibilidade de confluências contingentes foi algo que acumulou até a consolidação da dominação masculina.

Durante muito tempo o culto à deusa e sua hegemonia se fez presente nas comunidades de coletores e caçadores (ELIADE, 2010; MARCONI,2008). Beauvoir (2009), vai dispor desse fato não com muita centralidade para entender que as mulheres constituíam uma classe superior;

31 Uso esta expressão para denotar corpos que fisiologicamente determinados por imperativos da espécie. Útero

por procriar, engravidar ou abortar. Vagínico no sentido da ausência do pênis e do saco escrotal. Se ligarmos a feminilidade à presença da vagina ocorremos no erro de vincular as genitálias as noções de sexo-gênero.

32O processo de hominização tangenciou nossa sexualidade, pois, continua Jorge (2008) “O advento da postura

vertical fez com que a cópula passasse a ser realizada na espécie humana na posição face-a-face, tendo à frente do corpo passado a funcionar como o lado mais importante no desencadeamento da atração sexual, enquanto que, em todos os outros primatas, a postura sexual típica é o macho colocado por detrás da fêmea” (p.168).

ela concebe que a centralidade dos homens já era um dado àquela época. Entretanto, deve-se considerar que a ideia de divindades, já supunha uma noção de potência, que gerava um certo tipo de temor. A superação do medo dessa potência é que fará com que os homens se insurjam contra as mulheres e as dominem. Não é estranho que durante a constituição de narrativas míticas a mulher tenha sido tratada como estorvo – desde as narrativas Eloistas e Javistas a de Hesíodo a Homero33. Não é à toa que os homens mais tarde vão dominar o espaço religioso, propagando através desse espaço a inferioridade da mulher.

Saffioti (2004) diz que a diferenciação sexual das tarefas foi o que constituiu em parte a primeira derrota das mulheres. Ela faz o contraponto entre as tribos de caça e coleta e pastoreio, onde, os homens acabaram descobrindo sua necessidade para a mantimento e procriação do grupo. Em parte, sim, devemos considerar, e em parte se deve duvidar dessa análise. Essas versões tendem a considerar que era a heterossexualidade que nominava as funções do grupo, esquecendo que os sujeitos intersexos, lésbicas virilizadas e gays afeminados não são uma exclusividade de nosso tempo. Seria, então, do fato de serem homens simplesmente que decorria a dominação ou da presença simbólica do falo, ou de outros sinais?

A fisiologia e maternidade muitas vezes é apontada como o pivô que levou às mulheres para o rebaixamento de sua condição (BEAUVOIR, 2009). Entretanto, hoje na contemporaneidade é comum a presença de grávidas até os últimos meses da gestação em academias em levantamento de pesos, o que nos leva a considerar que a fisiologia deve ser vista com outros olhos, abertos a muitas conjecturas. Sobre o cuidado das crianças, o aleitamento – que nem sempre foi algo feito pela genitora - poderiam fazer com que a caça se tornasse perdida (SAFFIOTI, 2004), enquanto a cozimento e coleta eram atividades mais silenciosas e condizentes com a maternidade. Porém, essa análise continua em padrões heterossexuais, desconsiderando que poderiam haver sujeitos masculinos que cuidassem dessas crianças, e mulheres que enjeitassem as crias indo para a caça. Desconsidera também que a realização de trabalhos externos expõe os sujeitos a fraturas, lesões etc. Sedo necessária presença de alguém que conhecesse aos produtos curativos. Também, achar que só as crianças ficassem no colo das mulheres tem uma conotação muito idealizada de uma natureza materna. E achar que a coleta era uma atividade pacífica, esquecendo os perigos que a fauna e a floresta trazem, é menosprezar as dificuldades dessa atividade, que requer grau de saber avançado.

Entretanto, por alguma coisa no mundo, coube a feminilidade a coleta – e isso não quer dizer que não eram acompanhadas por meninos, por exemplo, já que a maiorias dos povos possuem ritos de separação da mãe (desde ritos de passagem na puberdade, até a creche nos tempos modernos) é de imaginar que eles ficassem com elas durante algum tempo – e a masculinidade a caça. Talvez a coleta por ser mais rápida pudesse dar as mulheres um retorno mais breve aos demais no grupo, e como ser sagrado devia essa atividade as pouparem de longos tempos longe do lar. Se os homens iam a caça e ficavam dias, é de se imaginar que eles também compartilhassem de algum saber de coleta e cozimento – demonstrando então que ou eles levavam suprimentos, ou que por estar próximos delas soubessem as atividades tidas como femininas34. Entretanto, coube aos homens a caça e isso deve ser levado em consideração de como possibilitou um maior reflexo, desenvolvimento somático, uso social da agressividade, conhecimento territorial, novos códigos de linguagem para comunicação a longa distância, noções de estratégias, fora uma alimentação vegetal mais diversificada no caminho que poderiam ter mais nutrientes. De fato, a caça possibilitou aos homens um avanço, no uso do fogo para dominar, e das armas, não mais para coleta de frutas, mas, como ferramenta para ataque a outros animais e grupos.

O prestígio da caça deve ser levado em conta: quando retornavam, era de se imaginar que os deuses estavam a seu favor – as narrativas do oriente próximo mostram que a vitória de um povo sobre outro, era decorrente do favorecimento ao povo vencedor e superioridade de uma deidade sobre a outra. Beauvoir (2009) lembra também na primeira parte de seu famoso livro como houve uma derrocada das deidades femininas no decorrer do tempo – e não devemos esquecer que a queda dessas deidades aos poucos foi sendo substituída pela noção de deidade dos grandes conquistadores militares: Marduque, Ares, Marte, Jeová. Por eles, Dario, Nabucodonosor, César, Constantino, se fazem como grandes conquistadores que não possuíam somente direção bélica. César, antes de se tornar conquistador, era pontífice, Dario era o Grande, e tinha um poder de sanção de permitir o livre culto. Constantino, com a lenda da visão da Cruz, vence a batalha e garante a sua hegemonia religiosa.

Voltando, se os homens iam a caça em grupo é de se imaginar que soubessem dos perigos, declives e intempéries que a paisagem apresentava. E mesmo a “certeza” da coleta era abalada em tempos de carestia, sendo a alimentação por carne de diversos animais um importante escape e quando a estepe começava a mudar e apresentar dificuldades é presumível

que os homens possuíssem maior saber de mobilidade, e como eram direcionados para a caça tinham melhor disposição física. Se os homens ficavam livres da criação em sua maioria ( é o que se pensa ) é de se imaginar que eles ficassem com as armas em guarda e as mulheres com as crianças. As esculturas pré-históricas da mulher com corpo mais gordo podem nos indicar que não foi a força, mas um conjunto de disposições que possibilitou a emergência dos homens. Não seria pelo fato de eles serem mais fortes, mas por terem se tornado mais fortes, o que é totalmente diferente. A sedentarização do corpo feminino pode ter sido suplantada pela melhor disposição física dos machos, sendo invertido posteriormente, produzindo nas mulheres uma debilidade. Um corpo mais leve tende a ser mais ágil, e como era os homens a irem para a caça é de se imaginar que seriam armados.

Também não podemos pensar o desenvolvimento das forças produtivas como sequenciais. Deleuze e Guatarri (2012) nos fazem pensar que havia a presença de diversos grupos, não sendo a história uma linha evolutiva; os períodos contavam com a presença de diversos grupos: múltiplas formas de organização viveram e se desenvolveram por uma grande parte da história de forma coeva. E isso fez com que grupos distintos se encontrassem e partilhassem de saberes e permutassem práticas.

O evolucionismo econômico é impossível: não se pode crer numa evolução mesmo ramificada “coletores –caçadores –criadores –agricultores – industrias” [...] os nômades não precedem os sedentários, mas o nomadismo é um movimento, um devir que afeta os sedentários, assim como a sedentarização é uma parada que fixa os nômades [...] A história tão somente traduz em sucessão uma coexistência de devires. (DELEUZE e GUATARRI, 2012,p.128-129)

Não se pode precisar quando o homem descobriu que podia dominar a mulher. Se isso ocorreu quando já dominava a fabricação da arma de ataque, se quando descobriu que podia dominar outro povo e assim tomar como despojos as mulheres, se quando percebeu que podia