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4 MODELO TEÓRICO: VALORAÇÃO AMBIENTAL E MÉTODO DE VALORAÇÃO CONTINGENTE

4.2 MÉTODO DE VALORAÇÃO CONTINGENTE

4.2.3 Considerações críticas sobre o MVC

Decidiu-se por não abordar os vieses, com exceção do viés hipotético devido à sua marcante referência nas críticas, pois além de serem por demais extensos, as recomendações para atenuação desses vieses já são amplamente tratadas na literatura. Portanto, quanto às críticas levantadas na subseção 4.1.4 foi possível acrescentar outras, relacionadas às dificuldades do MVC originadas principalmente do desconhecimento teórico. Essas críticas e suas réplicas são apresentadas a seguir.

Desconhecimento do recurso: Uma das limitações do método reside em captar valores ambientais que indivíduos não entendem, desconhecem ou simplesmente que não estão disponíveis em razão da complexidade de relações ecossistêmicas. Réplica: Informações relevantes podem ser obtidas da aplicação do questionário ou se pode estabelecer uma campanha prévia, sempre com o cuidado de divulgar informações criteriosamente elaboradas a fim de evitar vieses. Para casos em que as informações não existem e/ou são demasiadamente complexas, como por exemplo, o número de espécies e toda relação ecossistêmica dos seres vivos que compõem a biodiversidade de determinado local, a avaliação da DAP pode ser realizada a partir do conhecimento da existência dos elementos incerteza e complexidade. Afinal, o que se pretende é obter mais subsídios para tomada de decisão, não a consultoria de experts.

Viés hipotético. O MVC baseia-se em mercados hipotéticos, o que pode levar à obtenção de respostas irreais, resultando em valores que não refletem verdadeiras preferências das pessoas. Os entrevistados podem não tratar a pesquisa com a devida seriedade, por se tratar de simulações e acreditar que não serão prejudicados se fornecerem uma informação deturpada. Réplica: Há procedimentos para atenuar o teor hipotético, é estratégico, por exemplo, “conquistar” o entrevistado, convencendo-o da seriedade da pesquisa e da importância de sua participação. Daí a necessidade de uma equipe de entrevistadores adequadamente treinada. Para minimizar o viés hipotético Seroa da Motta (1997, p. 39), alerta que a credibilidade dos cenários e proximidade destes com a realidade são fundamentais, e, além disso, deve-se utilizar perguntas do tipo DAP.

Fundamenta-se sob “valores” invertidos. O MVC se baseia na disponibilidade monetária do indivíduo, como se esta disponibilidade fosse mais importante à análise do que o meio ambiente e suas relações ecossistêmicas. Réplica: O MVC é uma ferramenta auxiliar e não tem a dimensão de um Estudo de Impacto Ambiental e, tão pouco, o elixir para a solução de todos os problemas ambientais. Portanto, convêm adotá-lo em uma abordagem transdisciplinar como proposto pela Economia Ecológica. Ou seja, as decisões que farão uso do MVC como subsídio, também devem se basear em estudos ambientais.

Ótimo econômico versus ótimo ambiental. O ótimo econômico não assegura o ótimo ambiental, mas, pelo método se aceita implicitamente que os indivíduos são capazes de estabelecer alocações ótimas ambientais. Réplica: Na aplicação do MVC não se pondera sobre o quanto é necessário, mas sim, sobre o quanto as pessoas estão dispostas a pagar para garantir um benefício, a DAP é um indicador monetário de preferências. Assim, a decisão do quanto é necessário dependerá de outros elementos, analisados caso a caso, associados ao estágio de degradação, tempo de atuação dos efeitos lesivos, tipo de impacto e tecnologia disponível, entre outros fatores pertinentes. Portanto, reitera-se a necessidade da utilização de seus resultados em uma análise transdisciplinar, tal qual defendido na réplica anterior.

Negligencia as gerações futuras. Para delimitação da amostra o MVC considera somente os indivíduos diretamente afetados, no presente, pois não é possível considerar as gerações futuras, por mais que também possam ser afetadas. Réplica: Fatalmente gerações futuras não consomem e não podem opinar no presente, de modo que dependerão do desempenho das gerações atuais para usufruírem das amenidades ambientais. Porém, esta limitação temporal não implica em negligenciamento das gerações futuras, dada a comum consideração das mesmas em reflexões presentes, haja vista os valores de opção e de existência componentes do VET.

Inserção social do indivíduo: Dois indivíduos com renda substancialmente diferentes podem apresentar visões também muito divergentes sobre o valor atribuível ao recurso natural. O indivíduo com renda bastante elevada pode considerar que determinado valor atribuível a um ativo natural é irrisório, por seu turno, não seria surpreendente que na visão de um trabalhador de baixa renda o mesmo valor seja considerado demasiadamente alto. Réplica: Esta colocação é pertinente. Apesar de, no processo de obtenção do valor econômico total, os entrevistados serem arguidos por um valor individualmente e não pelo valor total, esta colocação continua sendo pertinente quando comparados os valores individuais. Uma alternativa seria considerar o peso relativo da DAP individual com relação aos gastos com alimentação (compras no supermercado, feiras, restaurantes

e lanches) para obter valores capazes de traduzir o benefício gerado pelo recurso, isoladamente, sem refletir a diferenciação de renda.

Obtenção de valores medíocres no caso de haver nenhuma ou quase nenhuma disposição a pagar, o que viabilizaria a destruição do recurso. Se os entrevistados atribuírem valores significativamente baixos para o ativo natural, a agregação das DAP resultará em valor inexpressivo. Réplica: Pouco provável. Não é o que se verifica empiricamente e, caso esta anormalidade ocorra, seria preciso verificar primeiramente a validade do emprego da DAP no contexto social ou possíveis falhas na aplicação.

Contingência: o valor atribuído depende das circunstâncias particulares do momento em que se aplicou a entrevista. Réplica: Para atenuar a possível inconstância do valor estimado a aplicação deverá observar prováveis efeitos externos que possam influenciar a pesquisa, considerá-los quando da elaboração do cenário e proceder ao teste do questionário, devendo reformulá-lo ou adiar a aplicação, caso necessário.

Rejeição à teoria neoclássica: Um crítico da teoria neoclássica rejeitará o MVC por estar fundamentado nesta teoria. Réplica: O debate e as opiniões contrárias são intrínsecos à ciência e chegar a um consenso não é a regra. Portanto, não se pretende exaurir esta discussão impondo a aceitação do MVC.

Complexidade do assunto e excesso de informações a serem processadas: O entrevistado é submetido a um assunto complexo e a um número de informações novas a serem processadas num curto período de tempo, impelido a emitir resposta a questão pouco usual. Réplica: O MVC requer que a elaboração do cenário e das questões considere esta dificuldade do entrevistado de processar informações rapidamente para responder o que lhe parece inusitado: atribuir preço para algo que não tem mercado. Há formas alternativas de elaborar a pergunta sobre DAA/DAR para facilitar o raciocínio do entrevistado.

Impossibilidade de conhecer o preço antecipadamente: O preço é determinado pela interação da oferta com a demanda, ou seja, resulta do jogo de mercado, não é possível conhecer o preço sem a verdadeira noção de mercadoria, sem que ela faça parte do mercado. Réplica: O MVC é uma simulação de mercado. Cada consumidor é capaz, com maior ou menor dificuldade, de determinar um preço limite acima do qual não está disposto a pagar. No MVC, as preferências podem ser

reveladas por meio de pesquisa a partir de seus indicadores monetários – DAP/DAA –, os quais viabilizam a simulação de mercado que, por seu turno, determina o preço.

Necessidade de multidisciplinaridade na abordagem ambiental. As decisões ambientais devem ser realizadas sob abordagem multidisciplinar, considerando os fatores econômico, social e biofísico. Réplica: A aplicação do MVC não impede a multidisciplinaridade na tomada de decisão, aliás, esse enfoque é muito bem vindo. No entanto, melhor ainda é considerar a abordagem transdisciplinar, noção que vai além do conceito de disciplinas isoladas e requer trabalho em equipe.

Essa exposição não visou refutar críticas referentes ao MVC, mas sim, reforçar o debate sobre a validade do método, mostrando a sua legitimidade. Foi na tentativa de contribuir para uma melhor eficiência no uso dos resultados do método aplicado que se optou pela realização da Análise Ambiental Inicial nas praias do bairro Rio Vermelho, conforme proposto na ISO 14004 e exposto no capítulo anterior.

5 PESQUISA EMPÍRICA: AMOSTRAGEM, ELABORAÇÃO DO QUESTIONÁRIO E