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CONSIDERAÇÕES E PERSPECTIVAS

2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

2.6 CONSIDERAÇÕES E PERSPECTIVAS

Anderson e Dron (2011 apud MATTAR, 2012) sumarizam a historicidade dos movimentos pedagógicos da EAD e apontam três gerações da pedagogia EAD – behaviorista-cognitivista, socioconstrutivista e conectivista. No entanto, ressaltam que essas três pedagogias ainda coexistem e que deveriam ser utilizadas de acordo com as necessidades de aprendizagem, levando-se em conta o contexto e o conteúdo pretendido. (MATTAR, 2012). Os modelos behavioristas-cognitivistas privilegiam a aprendizagem individual do aprendiz, possibilitando-lhe uma maior liberdade em seu ritmo, com pouca presença docente. É muito utilizado pelas megauniversidades a distância, devido aos custos baixos e produção de cursos em larga escala (MATTAR, 2012) e traduzem o industrialismo instrucional advindo do fordismo (BELLONI, 2001).

A pedagogia socioconstrutivista da EAD têm como fundamentos os estudos de Piaget, Vygotsky e Dewey. Defende como prioritário as interações entre alunos e professores, nesse viés a aprendizagem a distância deve deixar de se pautar na transmissão de conhecimento, para ser construída e desenvolvida nas interações humanas, especialmente entre professor e aluno e alunos e seus colegas, por meio de atividades síncronas e assíncronas. São consideradas como uma era pós-industrial da EAD, ou seja, pós-fordista. (MATTAR, 2012).

Por último, há a pedagogia conectivista da EAD, identificada mais recentemente. Essa pedagogia surgiu da constatação de fenômenos de aprendizagem advindos da rede mundial de computadores. (MATTAR, 2012). Entre esses fenômenos podemos destacar a criação espontânea de trabalhos cooperativos entre os internautas e a ecologia cognitiva, evidenciada por Levy (2012). Na pedagogia conectivista, há uma abertura do ambiente de aprendizagem para o ambiente da Web “As atividades dos alunos são refletidas em suas contribuições em wikis, Twitter, discussões de texto e voz, e outras ferramentas de rede.” (MATTAR, 2012, p. 20). Além disso, a interação entre alunos e professores é otimizada, para que, de forma colaborativa, possam construir juntos o conteúdo.

Como na aprendizagem construtivista, a presença do ensino no conectivismo é criada pela construção de caminhos de aprendizagem e pelo design e suporte a interações, de tal forma que os alunos fazem conexões com recursos de

conhecimentos existentes e novos. Ao contrário das pedagogias anteriores o professor não é o único responsável pela definição, pela geração ou pela distribuição do conteúdo. Em vez disso, os alunos e os professores colaboram para criar o conteúdo do estudo e no processo recriam esse conteúdo para uso futuro por outros, incluindo os alunos, ensinando os professores e uns aos outros. (MATTAR, 2012, p. 20-21).

A pedagogia conectivista, como o próprio nome diz, ressalta a conexão entre as pessoas como possibilidade de aprendizagem e desenvolvimento. Pressupõe que, na sociedade do conhecimento, as interações realizadas na web são fundamentais uma vez que oportunizam a aprendizagem contínua por meio do diálogo com diferentes pessoas, levando em consideração as relações sociais e a dinâmica da vida, sem limitar-se ao ambiente de educação formal. (MATTAR, 2012).

A escolha de uma destas pedagogias delineia o modelo pedagógico concebido e assumido pela instituição de Educação a Distância, influenciando sobremaneira o processo de ensino aprendizagem e a formação do aprendiz.

Para Moran (2011, p. 48), “Não se mede qualidade pelo número de alunos envolvidos, mas pela seriedade e coerência do projeto pedagógico, pela competência dos gestores, educadores e mediadores e pelo envolvimento do aluno.” O grande desafio da EAD não se constitui prioritariamente no domínio das tecnologias e no desenvolvimento das competências pelos seus atores. Ele é muito maior: diz respeito a dimensões axiológicas. Além de escolhas metodológicas “de como fazer”, não podemos negligenciar a discussão de “para quem fazer” e “por que fazer”. A seriedade das políticas públicas e das instituições reguladoras que estabelecem critérios e supervisionam o processo é imprescindível, entretanto é crucial que toda a sociedade cobre isso.

Oliveira (2012, p. 34) ressalta:

A EAD interessa a muitos. Ao Estado, para expandir rapidamente a formação universitária em todo país; às universidades públicas, como forma de ampliar seus serviços sem precisar construir novas instalações; às instituições privadas de ensino, atraídas pelas possibilidades de reduzir seus custos operacionais com uma grande demanda de alunos virtuais; e, finalmente, aos fabricantes de equipamentos e softwares, que comemoram um novo mercado. Do ponto de vista dos estudantes, principalmente dos que trabalham e/ou residem em locais distante das grandes metrópoles, a EAD democratiza o acesso ao ensino superior, quebrando as barreiras geográficas.

Como mencionado pela autora, a EAD interessa a muitos e os interesses são de naturezas diversas. Libâneo (2001, p.7) salienta a educação enquanto processo de transformação do ser humano, desencadeado a partir de intervenções de outros seres humanos. Para ele, educação é “[...] uma prática humana, uma prática social, que modifica os

seres humanos nos seus estados físicos, mentais, espirituais, culturais, que dá uma configuração à nossa existência humana individual e grupal.”

Moran (2013, p. 15) explica que “As sociedades sempre encontraram suas formas de educar. [...] A sociedade explicita seus valores básicos fundamentais em cada momento histórico e define os lugares, os conteúdos e procedimentos válidos por meio de diretrizes políticas”. Inerente ao ato de educar, existe uma concepção de mundo, de homem, de sociedade e da própria educação pretendida. Esse processo necessariamente é realizado a partir de certos princípios, de certos valores que os regem. Assim, espera-se que a Educação a Distância, como o próprio nome diz, priorize a educação como sua finalidade fundamental, considerando suas múltiplas dimensões.

Ao falar dos desafios da educação escolar, tanto presencial, quanto a distância, Moran (2013, p. 16) ressalta que:

[...] os desafios sociais são tão gigantescos, as mudanças acontecidas e em fase de implantação são tão dramáticas em todos os setores, que estão pressionando violentamente a educação escolar por novas soluções em todos os níveis: nos valores; na organização didático-curricular, na gestão de processos. Estamos diante de uma tarefa imensa, histórica e que levará décadas: propor, implementar e avaliar novas formas de organizar processos de ensino-aprendizagem, em todos os níveis de ensino, que atendam às complexas necessidades de uma nova sociedade da informação e do conhecimento.

A EAD ainda é relativamente nova e, como tudo que é novo, ela exige discussão e aprendizagens. Ainda estamos aprendendo a identificar as possibilidades dessa modalidade de educação e como ela pode ser usada em nosso contexto, em nosso tempo, de acordo com as necessidades e os valores de nossa sociedade. Moran (2011, p. 45) ressalta que

Ainda há resistências e preconceitos e estamos aprendendo a gerenciar processos complexos de EAD, mas cresce a percepção de que um país do tamanho do Brasil só conseguirá superar sua defasagem educacional por meio do uso intensivo de tecnologia em rede, da flexibilização dos tempos e do espaço de aprendizagem, e da gestão integrada de modelos presenciais e digitais.

Os processos de EAD, como salientou o autor, são complexos. Além disso, práticas do modelo fordista e neofordista evidenciaram perspectivas negativas de industrialização do conhecimento, deflagradas pelo mau uso dessa modalidade, suscitando resistências e preconceitos. Mas os princípios que norteiam a Educação a Distância podem se basear na pedagogia socioconstrutivista e na pedagogia conectivista (MATTAR, 2012) e nas teorias de interação e comunicação (HOLMBERG, 1995 apud VALENTE, 2011), e então, alavancar uma educação de qualidade acessível a uma população que não teria outro meio.

Assim, a EAD configura-se como um recurso crucial para viabilizar um salto de desenvolvimento intelectual da população. É natural que a descoberta dos melhores caminhos desta modalidade demande certo tempo de busca que pode durar décadas – um tempo de desenvolvimento e mudança de estrutura. Esse é um processo histórico de luta, inclusive, política, que demanda tempo e tentativas, mas ignorar esse recurso democrático significa negligenciar a oportunidade de expansão do acesso à educação para milhares de brasileiros (MORAN, 2011, 2013; MATTAR, 2011, 2012; VALENTE, 2011).

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