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“O percurso de assumir-se homossexual é muito solitário. Se um menino negro é ofendido na rua, ele chega em casa e vai encontrar mamãe e papai pretos que vão consolá-lo. Um menino homossexual não. Ele chega em casa e continua sozinho, na grande maioria das vezes”. Essa é a opinião dada por Alexandre Ribondi, 62 anos, em entrevista a mim, no dia 9 de outubro de 2015. Ele foi um dos ícones da contracultura brasiliense no período do Desbunde e da ditadura militar, na década de 60. Encabeçou o Grupo Homossexual Beijo Livre, que discutia a luta e questões homoafetivas por meio de guerrilhas teatrais e de um pequeno jornal mimeografado, Beijo Livre, distribuído nas portas das boates LGBT da época. Também foi um dos colaboradores na criação do Lampião da Esquina, jornal homossexual brasileiro que circulou nacionalmente nos anos de 1978 a 1981, e repórter do veículo de comunicação. Atualmente, dá cursos de teatro na Faculdade Dulcina e monta espetáculos com temas tabus que envolvem as nuances do amor, sem preconceitos.

Em nossa entrevista, Ribondi, entre outros assuntos, comenta sobre a importância da representação nas mídias. Exemplifica o pensamento ao relembrar a idade em que normalmente surgem as primeiras paixões – aos 15, 16 anos. Questiona que uma pessoa homossexual não tem com quem partilhar o sentimento sem sofrer preconceito ou violência, por isso se sente confusa e solitária. “Se essa pessoa [um personagem qualquer na mídia] é legal, é do bem, essa pessoa tem imagem positiva e é homossexual. Então eu [pessoa em descoberta sexual] não sou esse monstro que estou me sentindo por dentro. É legal. Por isso acho que ter um modelo é bom. Todo mundo precisa de um modelo”, argumenta.

Diariamente a comunidade LGBT busca visibilidade. Não é raro abrir os portais de notícias e nos depararmos com notícias de violência homofóbica, de interdição de políticas públicas voltadas ao grupo, de desrespeito com pessoas que decidiram viver livremente a sexualidade. Nas mídias sociais, o clima é de intolerância em textos de repúdio a propagandas que buscam a diversidade ou em desabafos preconceituosos no Facebook. Por outro lado, eventos para debater problemas relacionados ao tema ou manifestos relacionados a alguma notícia que ganhou grandes proporções também pipocam nas páginas pessoais de pessoas públicas ou anônimas.

O último caso que recentemente atingiu o mundo aconteceu na madrugada do dia 11 para 12 de junho de 2016. Foi sobre um atirador que invadiu a boate gay Pulse, em Orlando, nos Estados Unidos, e fez 50 vítimas. O atentado escandalizou por se tratar de um ato

homofóbico. A situação trouxe o assunto da intolerância sexual à tona. Na coluna semanal, Vozes LGBT, Ítalo Damasceno diz – quase esbraveja:

Aqui eu me permito ser totalmente clichê: LUTO para mim é verbo. O que eles querem é nos amedrontar, que a gente tenha medo de ser quem somos, que a gente se feche, se esconda. A maior reação à loucura e à violência é ser feliz, ter coragem ao mesmo tempo que se batalha pelo respeito que se merece, porque é disso que trata o terrorismo, criar medo. Ame ainda mais, viva ainda mais, faça ainda mais coreografias na pista de dança. E, como alguém escreveu no Facebook, se eu morrer em algum ataque homofóbico, don´t pray for me. LUTEM (14 de junho de 2016).

Enquanto uns decidem por batalhar sendo quem são, alguns seguem pela militância e outros optam por resistir criando arte. Mais especificamente, produzindo literatura. De acordo com Roberto Muniz Dias, no capítulo um da dissertação Editoras LGBTTT Brasileiras Contemporâneas Como Registro De Uma Literatura Homoafetiva, buscou-se resgatar a postura da literatura universal.

(...) canonizada pelas mãos de homens (escritores, agenciadores, críticos literários) que escreveram esta história literária. O contraponto por si só se estabelece diante dos fatos elencados pelos detentores do poder econômico e, por conseguinte, controladores dos bens culturais. (DIAS, 2013, p.94) A falta de abertura para mais agenciadores do produto cultural, nesse caso o livro, faz que ocorra uma restrição nas representações criadas. Os temas das obras publicadas são seletos e cíclicos, eventualmente temas tidos como marginais são trazidos para o centro. Normalmente isso ocorre quando é preciso movimentar o mercado editorial. Se a chance não aparece, a literatura alternativa tem que buscar outras plataformas de publicação e distribuição, como a internet. Ela sozinha, porém, não dá prospecção a um autor. Precisa-se de um conjunto de fatores para conseguir alcançar um nível de reconhecimento. Um deles é o aparecimento do(a) escritor(a) e das obras nas mídias convencionais – jornais, revistas e TVs.

Ao tecer a justificativa deste trabalho, não encontrei matérias que abordassem em profundidade o tema da literatura LGBT. Nos anexos da dissertação citada acima, encontram- se algumas reportagens publicadas na Revista CULT Literatura e na editoria de cultura do Correio Braziliense. Todas focam nas editoras LGBT e nas obras, mas não procuram apresentar as mentes e histórias por trás das produções.

Diante disso, passei a me perguntar: por que estava buscando uma formação em jornalismo? De que maneira eu iria dar a minha contribuição ao mundo com a minha profissão? Como eu poderia utilizar o meu conhecimento para retratar as coisas que me incomodam socialmente? Encontrei as respostas na problematização do tema.

A motivação para a realização do trabalho foi uma: representação. Quis sair da armadilha em que nós, profissionais da comunicação, caímos de que devemos noticiar o instantâneo, o espetacular de modo frio e mecânico. Além de querer invocar a voz de grupos dos quais não pertencemos. Levei em consideração que o maior problema enfrentado pela comunidade LGBT hoje é a falta de empatia da sociedade, provocada por anos de cultura excludente, pela falta de representação desprovida de julgamentos, pelo preconceito, que muitos indivíduos internalizaram, de que a aproximação contamina. Por isso, quis resgatar o meu papel de jornalista humanista e entregar um produto no qual houvesse o estímulo da sensação no todo e o qual despertasse a emoção nos leitores.

Anexo Anexo 1

Apêndice Apêndice 1

Apêndice 3

Apêndice 4

Apêndice 6 Apêndice 7

Apêndice 10

Referencial

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