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ABORDAGENS ESPECÍFICAS

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho constatou-se que o matrinxã é um bom modelo para os estudos das respostas ao estresse em peixes. Essa espécie apresentou-se bastante responsiva aos diversos estímulos impostos no decorrer dos protocolos experimentais. Por outro lado, confirma-se que o matrinxã é uma espécie bastante sensível ao manuseio usualmente praticado nas fazendas brasileiras, recomendando-se assim que esse seja realmente executado com cautela extrema.

Muitos estímulos adversos a homeostase são cotidianamente impostos aos peixes, que infelizmente na maioria dos casos são inevitáveis por questões operacionais da piscicultura. Os estímulos de estresse térmico são bastante danosos ao matrinxã, que não apresentou respostas fisiológicas e celulares ao choque frio abrupto. Isso pode explicar as elevadas taxas de mortalidade relatadas em condições de campo semelhantes às simuladas no capítulo 6. Dessa forma, caso os peixes tivessem permanecido na água fria a 18 °C por mais tempo, mortalidade seria esperada. Assim, novos trabalhos serão conduzidos, no que concernem à tolerância do matrinxã a abruptas mudanças de temperatura da água, avaliando-se temperaturas letais, faixas de bem estar térmico, bem como a associação com outros estressores relacionados com a piscicultura intensiva, tais como, a despesca e o transporte em condições de água mais fria que as águas encontradas na região de origem do matrinxã, a bacia amazônica.

O manuseio direto de peixes é um estressor agudo para o matrinxã, cujas respostas fisiológicas e bioquímicas foram prontamente detectadas. O uso de anestésicos como o eugenol, a benzocaína e o fenoxietanol não diminuíram as respostas fisiológicas do estresse durante manuseios de matrinxã, demonstrando que não existe um produto ideal para se manipular peixes. Ou seja, dificilmente encontrar-se-á um produto no mercado que propicie o manuseio do matrinxã, fazendo-se ainda com que os peixes não sintam qualquer conseqüência fisiológica, mesmo que em níveis mínimos.

Logo o uso de anestésicos como o eugenol, a benzocaína e o fenoxietanol é necessário, pois cada um proporciona aos profissionais da área de piscicultura manusear matrinxãs com o risco mínimo de acidentes ao redor de equipamentos cortantes e/ou pontiagudos em conseqüência da movimentação excessiva que os peixes realizam, quando acuados. Além do mais, a imobilização de peixes durante o manejo é muitas vezes necessária para se evitar ferimentos na superfície do corpo dos mesmos, que podem também posteriormente facilitar a manifestação de organismos patogênicos.

O transporte de peixes parece ser a prática de campo mais complexa nas fazendas de produção comercial de peixes, pois associa seqüencialmente diversos estressores (despesca, carregamento, deslocamento, descarregamento e mudança de ambiente) num curto período. O matrinxã apresentou-se também bastante responsivo a essa prática, que deve ainda ser mais estudada para a espécie em questão, avaliando-se as condições iniciais dos peixes, tais como, o estado nutricional dos animais, a infestação crônica por parasitas e a exposição

crônica à baixa qualidade da água de cultivo, anteriormente a imposição de qualquer estressor.

O estudo das alterações nos valores do cortisol plasmático foi a melhor resposta fisiológica detectada no matrinxã, quando submetido aos estímulos estressantes de choque térmico, manuseio e transporte. O desencadeamento das demais respostas de estresse pelo aumento do cortisol plasmático foi também detectado, principalmente através do aumento dos valores de glicose, lactato e amônia do plasma. Além disso, o decréscimo dos valores dos íons plasmáticos de sódio, potássio e cloreto foram também ótimos sinais das respostas secundárias do estresse no matrinxã. As alterações dos valores de proteína plasmática puderam indicar de alguma forma resposta do matrinxã ao estresse, sendo, entretanto, sua aplicabilidade um pouco limitada. Mais estudos das respostas de estresse no matrinxã devem ainda ser implementados, no que tange aos efeitos de vários outros estressores, além dos aqui estudados, nos valores de cortisol plasmático e sua dinâmica e mecanismos de ação na regulação do metabolismo e sistema imune do matrinxã.

De acordo com os nossos levantamentos bibliográficos, o estudo das respostas de estresse do matrinxã, em nível celular, foram aqui investigados pela primeira vez. A detecção do estresse em peixes em nível celular tem sido mais amplamente divulgada através da expressão da hsp-70, que foi detectada no matrinxã somente em seus níveis constitutivos. Outros estressores (exposições de peixes a organismos patogênicos e/ou compostos químicos tóxicos) serão ainda estudados no matrinxã no que concernem às respostas de estresse em nível celular. Outras proteínas de estresse como a hsp-20 e a hsp-90 parecem estar

também associadas ao estresse do matrinxã em nível celular, faltando ainda para isso mais esforços de pesquisas.

Dentro das condições do presente trabalho, confirma-se a responsividade do matrinxã a manipulação direta de peixes vivos adotadas nas fazendas brasileiras, evidenciando-se a necessidade de mais estudos em diferentes campos da biologia de peixes, não somente para fins de aperfeiçoamento do cultivo dessa espécie, mas também para a compreensão de muitos mecanismos biológicos básicos, que envolvem a origem dos peixes tropicais e suas diferentes respostas a fatores estressantes, resultantes de variações ambientais ou impostas pelo homem. O matrinxã como as outras espécies de peixes amazônicos habitam uns dos ecossistemas aquáticos mais complexos do planeta, onde muitos fatores parecem influenciar em suas respostas de estresse, principalmente em se tratando das características naturais da bacia amazônica e sua história evolutiva.

Anexos

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