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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento ALICE ZAMBONI (7.311Mb) (páginas 145-156)

São diversas visões e opiniões que cercam o aparecimento de ocupações irregulares nas cidades atuais, fruto de um processo de expulsão de uma parcela mais vulnerável do sistema social, político e econômico que organiza as sociedades. Através da pesquisa desenvolvida foi possível identificar alguns destes olhares para esta população, buscando defender e questionar a proximidade da sociedade a esta questão.

O que se percebe na conformação das cidades, são consequências de um sistema bruto que mantem a pobreza de parte de sua população. A origem desta pobreza no Brasil e no mundo aparece em um contexto histórico de acúmulo de riquezas por parte do sistema econômico, ligado a uma carência de políticas sociais eficientes, o que determina características de opressão de um contingente da população.

A partir de uma análise atual deste complexo sistema de expulsão, muito relacionado a ideais liberais, é possível observar a existência de uma responsabilização dos pobres sob sua condição social, onde surge uma identidade “precariezada” do indivíduo, que é culpado e discriminado por sua condição social de pobre e ao mesmo tempo impossibilitado de uma autonomia e resiliência, capazes de mudarem sua situação de vida.

Esse processo, atrelado à carência das políticas públicas de assistência, colabora para a formação de movimentos de luta social, onde se busca mais do que a organização em vida comunitária, é um chamado por direitos humanos e cidadania. Dentro deste contexto

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aparecem as ocupações de pessoas em situação de rua e grupos de liderança comunitária.

Os dados atuais, promovidos por pesquisas realizadas pelo IBGE e pelo instituto FIPE da prefeitura de São Paulo, indicam um crescimento da pobreza no país e das ocupações na cidade. O olhar aproximado para a Comunidade do Cimento, como objeto principal da pesquisa, permite identificar estas características complexas da pobreza dentro de um grupo específico que surgiu na cidade de São Paulo.

Ao mesmo tempo, a descrição da comunidade por parte de uma experiencia pessoal e a opinião de voluntários sobre a ação social de assistência no local, contribuem para a discussão que inicia a pesquisa, onde são questionados a eficiência de políticas assistenciais e o papel da sociedade como um todo na busca por soluções.

O que se conclui com este olhar mais aproximado a esta realidade é que existe o isolamento destas pessoas em sua situação, o que muitas vezes não é enxergado pelo resto da população, como o próprio arquiteto Hector Vigliecca afirma ser uma característica das sociedades atuais. Apesar dos diferentes pontos de vista sobre o problema, parece ser opinião da grande maioria que existe a marginalização e exclusão dos pobres no contexto de cidade e sociedade.

Este distanciamento entre os grupos e a disparidade social, também observada fisicamente no perfil das cidades, colabora com a resistência criada nos movimentos de luta social das comunidades. a falta de confiança e diálogo entre agentes sociais e estes grupos

também é um obstáculo a ser enfrentado.

Partindo desta afirmação, faz-se necessário um olhar sobre o espaço que estas pessoas usufruem e que ao mesmo tempo é negado a elas. O tema em questão prevê uma interdisciplinaridade na abordagem de políticas de intervenção do problema. Dentro do papel da arquitetura e do urbanismo sobre a questão se questiona quais as intenções com o espaço público e quais as soluções para a necessidade desta população de um lar e um lugar na cidade.

O tratamento da malha urbana, portanto, parece ser uma preocupação principal no foco das soluções. Enquanto ainda se estuda, na arquitetura e demais disciplinas, projetos adequados e voltados especificamente para populações em situação de rua, foi constatada a necessidade de abordagens não generalizadas e que respeitem e aceitem os direitos destes indivíduos. A heterogeneidade comentada na pesquisa é um fator que dificulta na proposição de soluções e obriga um olhar ampliado ao assunto, onde se crie oportunidades de manutenção da autonomia dos moradores destas comunidades.

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03. Autoria própria

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12 – 13. Tabela e gráfico baseados na pesquisa da FIPE

14. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/cidade-de- sao-paulo-tem-206-ocupacoes-onde-moram-45-mil-familias.ghtml

15. Base do Google Maps

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17. Autoria própria

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19. Disponível em: https://ponte.org/nao-sou-tratado-como-cidadao- afirma-morador-da-favela-do-cimento-na-zona-leste-de-sp/ 20. Autoria própria 21. Autoria própria 22. Autoria própria 23. Autoria própria

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27. Autoria própria 28. Autoria própria

29. Foto de trabalho na semana de integração 30. Autoria própria

31. Autoria própria 32. Disponível em:

https://www.metrojornal.com.br/foco/2019/04/18/viadutos-bresser-e- glicerio-terao-analise-emergencial.html

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34 – 40. Disponível em:

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48 – 54. Disponível em: https://www.archdaily.com/115040/the-bridge- homeless-assistance-center-overland-partners?ad_medium=gallery 55 – 81. Desenhos e imagens produzidos para o projeto

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