São diversas visões e opiniões que cercam o aparecimento de ocupações irregulares nas cidades atuais, fruto de um processo de expulsão de uma parcela mais vulnerável do sistema social, político e econômico que organiza as sociedades. Através da pesquisa desenvolvida foi possível identificar alguns destes olhares para esta população, buscando defender e questionar a proximidade da sociedade a esta questão.
O que se percebe na conformação das cidades, são consequências de um sistema bruto que mantem a pobreza de parte de sua população. A origem desta pobreza no Brasil e no mundo aparece em um contexto histórico de acúmulo de riquezas por parte do sistema econômico, ligado a uma carência de políticas sociais eficientes, o que determina características de opressão de um contingente da população.
A partir de uma análise atual deste complexo sistema de expulsão, muito relacionado a ideais liberais, é possível observar a existência de uma responsabilização dos pobres sob sua condição social, onde surge uma identidade “precariezada” do indivíduo, que é culpado e discriminado por sua condição social de pobre e ao mesmo tempo impossibilitado de uma autonomia e resiliência, capazes de mudarem sua situação de vida.
Esse processo, atrelado à carência das políticas públicas de assistência, colabora para a formação de movimentos de luta social, onde se busca mais do que a organização em vida comunitária, é um chamado por direitos humanos e cidadania. Dentro deste contexto
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aparecem as ocupações de pessoas em situação de rua e grupos de liderança comunitária.
Os dados atuais, promovidos por pesquisas realizadas pelo IBGE e pelo instituto FIPE da prefeitura de São Paulo, indicam um crescimento da pobreza no país e das ocupações na cidade. O olhar aproximado para a Comunidade do Cimento, como objeto principal da pesquisa, permite identificar estas características complexas da pobreza dentro de um grupo específico que surgiu na cidade de São Paulo.
Ao mesmo tempo, a descrição da comunidade por parte de uma experiencia pessoal e a opinião de voluntários sobre a ação social de assistência no local, contribuem para a discussão que inicia a pesquisa, onde são questionados a eficiência de políticas assistenciais e o papel da sociedade como um todo na busca por soluções.
O que se conclui com este olhar mais aproximado a esta realidade é que existe o isolamento destas pessoas em sua situação, o que muitas vezes não é enxergado pelo resto da população, como o próprio arquiteto Hector Vigliecca afirma ser uma característica das sociedades atuais. Apesar dos diferentes pontos de vista sobre o problema, parece ser opinião da grande maioria que existe a marginalização e exclusão dos pobres no contexto de cidade e sociedade.
Este distanciamento entre os grupos e a disparidade social, também observada fisicamente no perfil das cidades, colabora com a resistência criada nos movimentos de luta social das comunidades. a falta de confiança e diálogo entre agentes sociais e estes grupos
também é um obstáculo a ser enfrentado.
Partindo desta afirmação, faz-se necessário um olhar sobre o espaço que estas pessoas usufruem e que ao mesmo tempo é negado a elas. O tema em questão prevê uma interdisciplinaridade na abordagem de políticas de intervenção do problema. Dentro do papel da arquitetura e do urbanismo sobre a questão se questiona quais as intenções com o espaço público e quais as soluções para a necessidade desta população de um lar e um lugar na cidade.
O tratamento da malha urbana, portanto, parece ser uma preocupação principal no foco das soluções. Enquanto ainda se estuda, na arquitetura e demais disciplinas, projetos adequados e voltados especificamente para populações em situação de rua, foi constatada a necessidade de abordagens não generalizadas e que respeitem e aceitem os direitos destes indivíduos. A heterogeneidade comentada na pesquisa é um fator que dificulta na proposição de soluções e obriga um olhar ampliado ao assunto, onde se crie oportunidades de manutenção da autonomia dos moradores destas comunidades.
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03. Autoria própria
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12 – 13. Tabela e gráfico baseados na pesquisa da FIPE
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