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Considerações finais

No documento Universidade e educação ambiental (páginas 137-143)

Capítulo III – Ambientalismo e Universidade

IV- Considerações finais

IV- Considerações Finais

Ao analisarmos as políticas universitárias e as políticas ambientais percebemos que muitas interfaces já estão evidenciadas e instituídas através das mesmas e de projetos originados tanto no âmbito educacional como ambiental. Contudo, há fatores que impedem a continuidade das propostas, isso é um ponto delicado, que reafirma as disputas e conflitos entre os agentes do campo universitário e que acabam por interferir na ação pertinente aos dois campos.

A própria história do surgimento e expansão da universidade no Brasil é um fator de conflito que dificulta a inserção e concretização das ações ambientalistas no contexto universitário. Se lembrarmos que a universidade brasileira surgiu paralelamente à implantação da indústria no Brasil, e a industrialização está associada à degradação do meio ambiente, que é difícil o diálogo entre interesses econômicos e conservação ambiental, fica explícito um foco de tensão no espaço universitário.

Uma das principais características e desafios na constituição do campo ambiental é seu conteúdo interdisciplinar. A riqueza de conhecimentos e propostas articuladas entre diversas áreas é um modelo que acaba estrangulado quando tenta adentrar numa estrutura departamental, fragmentada como é a da universidade.

A transformação da sociedade, a proposição de novos valores, de novas formas de viver é outra característica inerente ao ambientalismo. Possivelmente esteja aqui outro ponto de conflito, já que a reprodução de valores sociais é intrínseca ao ensino.

Por outro lado, é preciso incentivar o papel de agente transformador da sociedade. A universidade, defendida por Darcy Ribeiro, Saviani, Luis Antonio Cunha, tem esse potencial e é parte do papel educacional criar condições de ter uma visão crítica, de entender e transformar o mundo a sua volta, como ousou fazer Paulo Freire e tantos outros educadores.

Ao procurar sua legitimação e um avanço para além das discussões políticas que demarcam esse campo em formação, os ambientalistas não

conseguem, ainda, uma ação que faça a questão ambiental efetivamente ser valor estruturante nas políticas universitárias ou nas ações acadêmicas.

A escolha pela análise a partir da Teoria do Campo Social, de Bourdieu, se deu justamente pela possibilidade de fazer uma leitura das estruturas formadoras do universo acadêmico e do ambiental, percebendo os conflitos, as hierarquias e as dificuldades de diálogo entre os mesmos, contemplando assim os objetivos delimitados para a tese.

Assim, entender a universidade como um campo de lutas e conflitos, envolvido por interesses políticos, é importante na medida em que permite identificar que estratégias são utilizadas para legitimar a manutenção de programas e políticas e como se dá a inserção de interesses de outros campos, como o ambiental. A universidade proporciona o acúmulo e criação de novos conhecimentos, a formação profissional, sendo possivelmente um dos locais propícios para a discussão, entendimento e produção de novas reflexões a partir das concepções de mundo e de ambiente.

A análise das Diretrizes Curriculares das Ciências Naturais nos possibilitou entender melhor como as concepções de explicação do mundo estão presentes em nosso fazer científico, e nos mostrou um quadro de avanço na estruturação curricular que já inclui as questões ambientais na formação dos profissionais da ciência. Permite também entender que parâmetros direcionam o ensino, possibilitando criar estratégias para as práticas educativas.

Muito há que se caminhar para consolidar a questão ambiental no âmbito do ensino e da pesquisa, pois o que se percebeu foram ações isoladas de diferentes áreas que dificilmente extrapolam os limites das quatro paredes da sala de aula ou do laboratório, e que poderiam ser mais ricas se houvesse um diálogo de construção conjunta com outras áreas. Esse é o desafio da interdisciplinaridade, que aos poucos começa a se realizar na universidade.

Ficou claro ao estudarmos a Extensão Universitária, que as ações por si só não se mantém ao longo do tempo. Para que aja uma permanência de programas que criem uma interface com a sociedade, seja na área ambiental ou em qualquer outra área, é necessária sua legitimação, através da

institucionalização, como produção continuada, fazendo parte dos estatutos e políticas que delineiam o meio acadêmico.

A possibilidade de uma práxis do conhecimento é possibilitada pela extensão universitária, porém os resultados se perdem no modelo burocrático de administração que inviabiliza a transparência das experiências acadêmicas, repetindo o ciclo vicioso das estruturas de ensino e pesquisa. Pouco se avança e a descontinuidade dos projetos retrata a “volatilidade” das ações.

Ao estudarmos o Programa Nacional de Educação Ambiental, percebemos que a estratégia de descentralização de poder pode ser eficaz quando pensamos na relação entre ambientalismo e universidade. A universidade ainda possui uma administração, um modelo de estruturação que dificulta o diálogo entre seus diversos departamentos, e isso não facilita a visibilidade das ações acadêmicas.

A interação com o campo ambiental aponta uma nova forma de estruturação para a universidade, com planejamento estratégico mais intenso e uma gestão mais participativa. Uma possibilidade que começa a ser viabilizada nesses termos é justamente a criação de redes interinstitucionais, regionais e nacionais, que facilitam a participação e a transparência das ações.

Assim, percebe-se que os fatores que limitam, conflituam ou fazem evoluir as discussões ambientais no campo acadêmico vão muito além da leitura simplista de que não há interesse institucional, ou que não há iniciativas na área. A complexidade dos fatores históricos, das questões hierárquicas, dos valores embutidos, das questões econômicas vão criar uma realidade que deve ser entendida em todos os seus aspectos.

Desta forma, as concepções de mundo nos servem de elo de entendimento de como se construiu a relação homem/natureza desde os primórdios. Estudar as diferentes concepções ao longo das eras foi base para compreender como a universidade absorveu as diferentes visões e de que forma está reagindo no atual contexto histórico.

Isso significa entender as estratégias de pensamento dominantes em cada época, e saber os limites de cada uma, pois o conhecimento está em

constante evolução, e as contribuições das sistematizações de cada momento histórico vão fundamentar as elaborações presentes e futuras.

O aspecto mais evidente que se pode perceber ao longo dos séculos é que todos os mecanismos de pensamento e de apropriação dos recursos naturais fazem parte de um mesmo processo.

Desta forma, não se deve fazer uma análise superficial e dizer que os problemas ambientais são fruto exclusivamente da sociedade industrial, como muitos comentadores defendem. De acordo com o primeiro capítulo, vimos que há vários momentos marcantes na evolução humana que possibilitaram ao homem uma visão diferenciada sobre o ambiente a sua volta, momentos nos quais se desenvolveram técnicas que permitiram revoluções (nos mais diversos aspectos – do pensamento, geográfica, tecnológica) e cada vez um maior potencial de manipulação desse meio.

O mais importante das revoluções não foi apenas uma nova cosmologia, mas uma nova formulação, um novo sistema de idéias, não só do mundo físico, mas humano. Houve uma ruptura diante da autoridade do mundo antigo, relacionado ao conhecimento escolástico, pois a experiência da autoridade começou a ser substituída pela autoridade da experiência.

Entender as concepções de mundo, as possibilidades que as mesmas proporcionam para o pensamento humano, para a exploração do ambiente a sua volta, os valores que as legitimam, nos permite entender o contexto histórico em que nos encontramos e poder a partir desse entendimento, propor novas estratégias de pensamento que colaborem para uma relação homem/natureza equilibrada.

Este equilíbrio pode ser pensado nos termos da biologia, sabemos que fazemos parte de um ecossistema que está ameaçado, ameaça essa que não fica concentrada localmente, mas que pelos sucessivos ataques, se tornaram globais.

Espera-se que os conteúdos desenvolvidos nesta tese contribuam para clarear as estratégias de pensamento que se fazem necessárias para encontrar caminhos, possibilidades acadêmicas para o fortalecimento da questão ambiental

na universidade e sirva também de base para outros estudos que explorem esse relacionamento universidade/ambientalismo.

No documento Universidade e educação ambiental (páginas 137-143)