• Nenhum resultado encontrado

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento Amor como medida de satisfação marital (páginas 75-86)

O comportamento reprodutivo humano é um dos que mais desperta interesse, e

são vastas as pesquisas acerca das preferências românticas e da seleção de parceiros

(Buston & Emlen, 2003; Castro & Lopes, 2011; Castro et al., 2012; Kniffin & Wilson,

2004; Miller et al., 2002; Lippa, 2007; Schmitt, 2005), mas poucas são as que se inte-

ressam no relacionamento estável pós-escolha, como os casamentos e uniões estáveis

(Buckle et al. 1996; Kaighbadi et al., 2010; Shackelford et al., 2005). Destes a maioria

foca nas estratégias de retenção de parceiros (Kaighbadi et al., 2010; Miner et al.,

2009; Shackelford et al., 2005), e poucos são os trabalhos sobre as diferenças sexuais

(Buunk et al., 2002; Weisfeld et al., 2011) e o amor no relacionamento romântico

(Contreras et al., 1996; Lucas et al., 2008; Schmitt, 2006).

Na sociedade ocidental, o amor romântico é um sentimento muito importante

para os relacionamentos românticos a ponto de, atualmente, a grande maioria deles se

fundarem em cima desse sentimento. Hoje podemos dizer que o amor romântico é tão

antigo quanto a humanidade, sendo considerado pela maioria dos antropólogos como

parte da cultura universal (Lieberman & Hatfield, 2006; Jankowiak & Fisher, 1992).

Como dito por Lieberman e Hatfield (2006), o amor romântico é considerado como o

sine qua non do casamento. Para evidenciar isso foi desenvolvida “A Pergunta”: na

metade de 1960, Kephart (1967) perguntou a vários universitários: “Se um homem

(mulher) tivesse todas as qualidades que você deseja, você se casaria com ele(a) se

você não estivesse apaixonado(a) por ele(a)?”. Kephart (1967) encontrou que os ho-

mens consideravam a paixão como essencial e que as mulheres eram mais práticas di-

zendo que a ausência do amor romântico não faria com que elas desconsiderassem a

possibilidade de casamento. Desde então vários pesquisadores continuaram a fazer “A

mandam cada vez mais a presença do amor no casamento (Lieberman & Hatfield,

2006). Atualmente, jovens homens e mulheres de muitos países (inclusive do Brasil)

consideram o amor romântico como pré-requisito para o comportamento de corte e

casamento. Apenas em poucos países Orientais, com uma cultura coletivista e baixo

poder socioeconômico, consideram o amor com um luxo no relacionamento (Lieber-

man & Hatfield, 2006).

Diante disso, nos propusemos a pesquisar sobre o que é o amor romântico, de-

vido a uma carência de definição do construto que encontramos na literatura, e pela

possibilidade de sua utilização em pesquisas sobre relacionamentos estáveis, em espe-

cial sobre a satisfação nesses relacionamentos. Para tal, escolhemos utilizar o Marria-

ge and Relationship Questionnaire (Russel & Wells, 1986) em especial a sua Escala

Amor que foi desenvolvida para medir o vínculo emocional no contexto de relaciona-

mentos estáveis.

Nossa pesquisa tomou como base uma compreensão do amor romântico como

uma complexa estratégia reprodutiva desenvolvida para favorecer os comportamentos

sexuais, como a escolha de parceiro e a manutenção do parceiro (Fisher et al., 2002).

Partindo disso, a validação da escala se mostrou forte, e encontramos correlações en-

tre a medida de vínculo afetivo e idade dos participantes, duração do relacionamento e

satisfação sexual. Nossos resultados também indicaram que o amor romântico de ca-

sais que pensam em se separar é menor que o daqueles casais que não pensam nessa

possibilidade. A literatura mostra que apesar de ser universal, o amor romântico sofre

desgastes no relacionamento com o tempo (Wendorf et al., 2011) e com os problemas

que o próprio relacionamento traz, como a manutenção do lar, o cuidado das crianças,

cionado com a satisfação sexual, pois esta é um dos componentes do amor (Fisher et

al., 2002).

Em nosso segundo estudo, investigamos diferenças sexuais que poderiam in-

fluenciar o amor romântico e consequentemente a satisfação do relacionamento. Nos-

sos resultados indicaram que a presença de filhos pode desgastar o relacionamento.

Uma vez que filhos são dependentes do momento que nascem até saírem de casa, nes-

se meio tempo os pais devem manter um ambiente propício para seu desenvolvimento

e crescimento. O cuidado de filhos requer tempo, atenção e investimento, por si só

eles diminuem o tempo que o casal passa a sós, aumentam a responsabilidade, trazem

preocupações e um alto investimento financeiro. De acordo com o Instituto de Vendas

e Trade Marketing (Invert, 2013) o custo financeiro pode variar de 53 mil reais (classe

D) a 2 milhões de reais (classe A) para criar um filho até os 23 anos. Além disso, o

amor romântico entre o casal pode diminuir com a chegada de filhos sendo recompen-

sado pelo sentimento de satisfação de ter filhos (Wendorf et al., 2011). Os resultados

também mostram que o amor romântico não possui fronteiras, e independe da escola-

ridade e religião do casal.

Ainda no segundo estudo, com relação às diferenças, vimos que as mulheres

permanecem mais seletivas depois do casamento/união, sempre julgando e avaliando

seus parceiros. O amor romântico dela é influenciado pela inteligência, possessividade

e compreensão do parceiro. Quando elas amam seus parceiros, elas pensam menos em

mudá-lo, em se separar, e não se arrependem de estar com ele. A percepção do estado

de ânimo, da fidelidade e da sociabilidade do parceiro também são melhores quando

ela o ama. Com isso podemos concluir que o amor romântico mexe com a percepção

feminina, ou seja, quando estão apaixonadas pelo parceiro as mulheres consideram os

parecem não julgar tanto suas parceiras depois que casam, apenas a sociabilidade e a

compreensão da parceira parecem afetar o amor romântico que eles sentem.

Este trabalho sugere, portanto, que o amor romântico é capaz de influenciar a

percepção que o indivíduo tem de sua(seu) parceira(o), e que apesar disso, algumas

características pessoais têm mais peso para um sexo que para o outro. Mas de uma

forma geral, a avaliação de um parceiro não para após a escolha, ela continua durante

o relacionamento.

Concluímos que a utilização de um instrumento validado para o português

para mensurar o vínculo afetivo pode trazer novas informações para a compreensão de

relacionamentos amorosos e para o sentimento de amor no Brasil. Acreditamos que a

partir de nossos trabalhos abrimos portas para futuras pesquisas que queiram examinar

o poder do amor nos relacionamentos e quais os fatores que podem influenciar a satis-

fação marital. Esta área de pesquisa é pouco estudada e ainda falta muito para esclare-

7. REFERÊNCIAS

Allen, J. S. & Bailey, K. G. (2007). Are mating strategies and mating tactics

independent constructs? Journal of Sex Research, 44(3), 225-232.

Buckle, L., Gallup Jr., G. G., & Rodd, Z. A. (1996). Marriage as a reproductive

contract: Patterns of marriage, divorce, and remarriage. Ethology and

Sociobiology, 17, 363-377.

Buss, D. M., & Barnes, M. (1996). Preferences in human Mate Selection. Journal of

Personality and Social Psychology, 50(3), 559-570.

Buss, D. M., & Schmitt, D. P. (1993). Sexual Strategies Theory: An evolutionary

perspective on human mating. Psychological Review, 100(2), 204-232.

Buss, D.M. (2006). The evolution of Love. In R. J. Sternberg & K. Weiss (orgs.), The

New Psychology of Love (pp. 65-86). New Haven, Conn.: Yale University

Press.

Buston, P. M., & Emlen, S. T. (2003). Cognitive process underlying human mate

choice: The relationship between self-perception and mate preference in

Western society. PNAS, 100(15), 8805-8810.

Buunk, B. P., Dijkstra, P., Fetchenhauer, D., Kenrick, D. T. (2002). Age and gender

differences in mate selection criteria for various involvement levels. Personal

Relationships, 9, 271-278.

Cassep-Borges, V., & Teodoro, M. L. M. (2007). Propriedades psicométricas da

versão brasileira da escala triangular do amor de Sternberg. Psicologia:

Reflexão e Critica, 20(3), 513-522.

Castro, F. N., & Lopes. F. A. (2011). Romantic preferences in Brazilian undergraduate

students: From the short term to the long term. Journal of Sex Research, 48(5),

Castro, F. N., Hattori, W. T., & Lopes, F. A. (2012). Relationship maintencence of

preference satisfaction? Male and female strategies in romantic partner choice.

Journal of Social, Evolutionary, and Cultural Psychology, 6(2), 217–226.

Contreras, R., Hendrick, S. S., & Hendrick, C. (1996). Perspectives on marital love

and satisfaction in Mexican American and Anglo-American couples. Journal of

Counseling & Development, 74, 408-415.

Darwin, C. R. (1871). The descent of man and selection in relation to sex. London:

Murray

Dawkins, R. (9189). The selfish gene. 2ª

ed. New York: Oxford University Press.

Fisher, H. E., Aron, A., & Brown, L. L. (2006). Romantic love: a mammalian brain

system for mate choice. Philosophical Transactions of The Royal Society B,

361, 2173-2186.

Fisher, H. E., Aron, A., Mashek, D., Li, H., & Brown, L. L. (2002). Defining the brain

systems of lust, romantic attraction, and attachment. Archives of Sexual

Behavior, 31(5), 413-419.

Gangestad S. W., & Simpson, J. A. (2000). The evolution of human mating: Trade-

offs and strategic pluralism. Behavioral and Brain Sciences, 23, 573-644.

Geary, D. C., Vigil, J., Byrd-Craven, J. (2004). Evolution of Human Mate Choice. The

Journal of Sex Research, 41, 27-42.

Gutierres, S. A., Kenrick, D. T., & Partch, J. J. (1999). Beauty, dominance, and the

mating game: Contrast effects in self-assessment reflect gender differences in

mate selection. Society for Personality and Social Psychology,25(9), 1126-1134.

Hendrick, C., & Hendrick, S. S. (1986). A theory and Method of Love. Journal of

Huber, H. C., Navarro, R. L., Womble, M. W., & Mumme, F. L. (2010). Family

resilience and midlife marital satifaction. The Family Journa, 18(2),136-145.

Jankowiak, W. R., & Fisher, E. F. (1992). A cross-cultural perspective on romantic

love. Ethnology, 31(2), 149-157.

Kaighbadi, F., Shackelford, T.K., & Buss, D.M. (2010). Spousal mate retention in the

newlywed year and three years later. Personality and Individual Differences, 48,

414-418.

Karremans, J. C., Frankenhuis, W. E., & Arons, S. (2010). Blind men prefer a low

waist-to-rip-ratio. Evolution and Human Behavioral, 31, 182-186.

Kenrick, D. T., & Keefe, R. C. (1992). Age preferences in mates reflect sex

differences in human reproductive strategies. Behavioral and Brain Sciences,

15, 75-133.

Kephart, W. M. (1967). Some correlates of romantic love. Journal of Marriage and

the Family, 29, 470-479.

Kniffin, M. K., & Wilson, D. S. (2004). The effect of nonphysical traits on the

perception of physical attractiveness: Three naturalistic studies. Evolution and

Human Behavior, 25, 88-101.

Krugger, D. J. (2010). Female scarcity reduces women’s marital ages and increases

variance in men’s marital ages. Evolutionary Psychology, 8(3), 420-431.

Landis, D., & O’Shea III, W. A. (2000). Cross-cultural aspects of passionate love: An

individual differences analysis. Journal of Cross-Cultural Psychology, 31(6),

752-777.

Lee, J. A. (1973). The colors of love. An exploration of the ways of loving. Don Mill,

Lieberman, D., & Hatgield, E. (2006). Passionate Love: cross-cultural and

evolutionary perspectives. In R. J. Sternberg & K. Weiss (orgs.), The New

Psychology of Love (pp. 274-297). New Haven, Conn.: Yale University Press.

Lippa, R. A. (2007). The preferred traits of mates in a cross-national study of

heterosexual and homosexual men and women: An examination of biological

and cultural influences. Archives of Sexual Behavior, 36, 193–208.

Lucas, T., Parkhill, M. R., Wendorf, C. A., Imamoglu, E. O., Weisfeld, C. C., &

Weisfeld, G. E. (2008). Cultural and evolutionary components of marital

satisfaction: A multidimensional assessment of measurement invariance.

Journal of Cross-Cultural Psychology, 39(1), 109-123.

Miller, L. C., Bhagavatula, A. P., & Pedersen, W. C. (2002). Men’s and women’s

mating preferences: Distinct evolutionary mechanisms? Currents Directions in

Psychological Science, 11(3), p. 88-93.

Miner, E. J., Starratt, V. G., Shackelford, T. K. (2009). It’s not all about her: Men’s

mate value and mate retention. Personality and Individual Differences, 47(3),

214–218.

Pawlowski. B. (2000). The biological meaning of preferences on the human mate

market. Anthropological Review, 63, 39-72.

Pawlowsky, B., & Dunbar, R. I. M. (1999). Impact of market value on human mate

choice decisions. Royal Society London, 266, 281-285.

Regan, P. C. (1998). What if you can’t get what you want? Willingness to compromise

ideal mate selection standards as a function of sex, mate value, and relationship

Rhodes, G., Simmons, L. W., & Peters, M. (2005). Attractiveness and sexual

behavior: Does attractiveness enhance mating success? Evolution and Human

Behavior, 26, 186-201.

Russell, R. J. H., & Wells, P. A. (1986). Marriage questionnaire. Unpublished

booklet.

Russell, R. J. H., & Wells, P. A. (2000). Predicting marital violence from the Marriage

and Relationship Questionnaire: Using LISREL to solve an incomplete data

problem. Personality and Individual Differences, 29, 429-440.

Schmitt, D. P. (2006). Evolutionary and cros-cultural perspectives on love: The

influence of gender, personality, and local ecology on emotion investment in

romantic relationships. In R. J. Sternberg & K. Weiss (orgs.), The New

Psychology of Love (pp. 249-273). New Haven, Conn.: Yale University Press.

Schmitt, D. P. (2005). Fundamentals of Human Mating Strategies. In D. M. Buss

(org.), The Handbook of Evolutionary Psychology (pp. 258-291). New Jersey:

Hoboken.

Shackelford, T. K., Goetz, A. T., & Buss, D. M. (2005). Mate retention in marriage:

Further evidence of the reliability of the mate retention inventory. Personality

and Individual Differences, 39, 415-425.

Sternberg, R. (1997). Construct validation of a triangular love scale. European

Journal of Social Psychology, 27, 313–335.

Sternberg, R. J. (1986). A triangular Theory of Love. Psychological Review, 93(2),

119-135.

Thornhill, R., & Gangestad, S. W. (1996). The evolution of human sexuality. TREE

Trivers, R. (1972). Parental Investment and sexual selection. In B. Campbell (org.),

Sexual selection and the descent of man: 1871-1971 (pp. 136–179). Chicago:

Aldine.

Weisfeld, C. C. (1997). Marriage in cross-culture perspective. In N. L. Segal, G. E.

Weisfeld & C. C. Weisfeld (orgs.), Uniting Psychology and Biology: Integrative

Perspectives on Human Development (pp. 355-367). Washington: American

Psychology Association.

Weisfeld, C. C., Dillon, L. M., Nowak, N. T., Mims, K. R., Weisfeld, G. E.,

Imamoglu, E. O., Butovskaya, M., & Shen, J. (2011). Sex differences and

similarities in married couples: Patterns across and within cultures. Archives in

Sexual Behavior, 40, 1165-1172.

Wendorf, C. A., Lucas, T., Imamoglu, E. O., Weisfeld, C. C., & Weisfeld, G. E.

(2011). Marital satisfaction across three cultures: Does the number of children

have an impact after accounting for other marital demographics? Journal of

Cross-Cultural Psychology, 42(3), 340-354.

Woodward, K., & Richards, M. H. (2004). The parental investment model ad

APÊNDICE A

No documento Amor como medida de satisfação marital (páginas 75-86)

Documentos relacionados