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Considerações finais

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Análise de dados

2. Considerações finais

Este estudo permitiu-nos concluir que estas crianças apresentam dificuldades em habilidades auditivas e que essas habilidades interferem no desenvolvimento de competências de Consciência fonológica. Compreendemos, ainda, que as habilidades fonológicas são essenciais para a leitura. Ser capaz de ouvir e entender semelhanças e diferenças nas palavras e nos seus componentes (fonemas) tem uma grande influência na leitura, por isso, questionámos o porquê desse facto acontecer. Para tal, centramo-nos na leitura enquanto um comportamento cognitivo assegurado pelo cérebro, verificando que indivíduos com dislexia apresentam uma “disrupção” no sistema neurológico que dificulta o processamento fonológico e o consequente

acesso ao sistema de análise das palavras e ao sistema de leitura automática (Teles, 2004:2). Estes leitores apresentam problemas em descodificar a palavra e em identificá-la. Revelam um défice que abrange o processamento fonológico, prejudicando a descodificação, impedindo a identificação da palavra, tendo um impacto negativo na leitura. Os resultados obtidos indicam que a dificuldade das crianças disléxicas é particularmente evidente quando a leitura não é conseguida meramente pela estratégia logográfica, sendo preciso recorrer à descodificação. Sempre que as crianças apresentem dificuldades de processamento fonológico realizam uma leitura logográfica e têm problemas de automatização da leitura. Os resultados apresentados neste estudo validam evidências procedentes de outros estudos como os de Capovilla (2000a, 2000b, 2004) que mostram que as dificuldades em leitura e escrita se devem, sobretudo, a problemas de processamento fonológico.

Posto isto, gostaríamos ainda de deixar um apontamento a cerca dos aspectos metodológicos adoptados, referindo que a metodologia: estudo de caso “pode ser uma pertinente contribuição para uma problemática e depois continuado num programa de investigação mais abrangente” (Duarte, 2008:114). Revelou-se, ainda, eficaz na medida em que nos permitiu responder às questões “como” e “porquê”. Verificámos de que forma, isto é, como é que o P.A. influencia a competência leitora e concluímos que o défice a nível de P.A. leva a uma inaptidão para a leitura. Por exemplo, as dificuldades sentidas em termos de descodificação auditiva e de memória auditiva, essenciais para a leitura, quando não são dominadas impossibilitam a discriminação de sons, a sua associação, retenção e organização. Estas inabilidades repercutem-se numa leitura pouco fluente.

Com a observação directa e participante, pela aplicação de instrumentos, verificou-se de que forma os diferentes níveis de Consciência fonológica estavam comprometidos.

Gostaríamos, também, de referir a importância dos objectivos de investigação na medida em que deram a possibilidade de obter conhecimentos

sobre a realidade dos alunos a estudar, comprovando a validade e a fiabilidade da amostra seleccionada. Todos os dados auferidos foram ao encontro da realidade estudada - Os resultados são característicos de sujeitos com défice fonológico, logo com dificuldades de leitura, conforme comprovava a sua condição (ao abrigo do Decreto-Lei nº 3/2008, sob a tipologia da Linguagem).

Em suma, esta pesquisa confirmou a relação entre Processamento auditivo e Competência leitora, mesmo com uma amostra pequena (n=7). Os dados da pesquisa apontam para a construção da relação entre Processamento auditivo e Competência leitora numa relação de dependência. A fluência em leitura está directamente implicada com o nível de descomprometimento do Processamento auditivo. Para demonstrar esta afirmação, além do que já foi dito, deixamos o exemplo de uma das habilidades de P.A. testadas sobre a qual já reflectimos: a memória sequencial auditiva. Como vimos, na primeira avaliação, a maioria das crianças apresentava alterações na memória sequencial. Segundo Santos et al. (2001), este tipo de distúrbio indica prejuízos na ordenação temporal, uma vez que as tarefas de memória sequencial para sons verbais e não verbais procuram informações (linguísticas/verbais ou não linguísticas/não verbais) sobre a ordenação temporal dos sons. Estas dificuldades, interferem, frequentemente, no uso da linguagem simbólica e expressiva. Este aspecto é importante para um bom desempenho em leitura visto que é necessário ordenar os sons para os descodificar e ler. Na segunda avaliação, verificou-se evolução nos resultados quer dessas provas quer da prova de Leitura oral, confirmando-se a pergunta de partida deste estudo, ou seja, a relação de influência do Processamento auditivo no bom desempenho em leitura.

Caldas (2002:53) refere que “ as crianças disléxicas sofrem de défices concomitantes das funções motoras, visuais ou auditivas, que resultam “num defeito na capacidade de aprender a ler”.

Por todos estes factos, sugerimos a realização de outros estudos com aprofundamento científico na investigação de correlações entre a Competência leitora e Processamento auditivo/Consciência fonológica e também sobre a

relação entre Processamento auditivo e Consciência fonológica. Estes estudos implicariam acompanhar as crianças por um período de tempo maior, sendo uma mais-valia para a investigação visto que um treino a longo prazo permite um maior envolvimento nas actividades multissensoriais. Este envolvimento levaria a nosso ver, a uma maior integração das habilidades de processamento neuropsicológico.

Em termos genéricos e, enquanto profissionais proactivos, empenhados e preocupados com o processo de ensino-aprendizagem de casa criança, devemos centrar-nos nos objectivos a atingir, nas tarefas a realizar para os alcançar, tendo sempre em conta as necessidades dos alunos – “Priorizó las necesidades de la organización por delante de las suyas, y se tomo sus responsabilidades muy seriamente”, (Molinar & Velásquez, 2005:34), não perdendo de vista a realidade, isto é, ajustando sempre as competências aos desafios, conhecendo riscos como o insucesso e a frustração. Para ultrapassar as dificuldades que surgem devemos analisar a situação, avaliá-la, investigar sobre ela, reflectir, isto é, aplicar instrumentos conceptuais e estratégias de análise no sentido da compreensão e da reconstrução das nossas práticas. O essencial é estar atento, sensível e disponível. “Nada de lo que hagamos importa más que liderar en situaciones de conflicto de nuestro tiempo hacia un futuro humano que haga honor de verdad a la creación única a la que todos pertenecemos” (Gerzon, 2007:289). O que importa é a obtenção de um bem maior - o bem-estar da criança, a sua evolução, a conquista sempre de mais para uma maior realização pessoal, social e emotiva da criança. Não devemos esquecer que a orientação educativa destas e de outras crianças determinará o sucesso das suas aprendizagens. É fundamental que as intervenções sejam coerentes e, se possível, impliquem a colaboração de todos os intervenientes no processo educativo das crianças. Acreditamos que estudos deste tipo são úteis na medida em que identificam alguns preditores nas dificuldades de aquisição da leitura. Por outro lado, estes conhecimentos facilitarão a prática de procedimentos de intervenção, acautelando ou diminuindo as dificuldades sentidas pelas crianças com esses défices.

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