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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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3 3 2 Análise dos Micro-fatores

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo nos mostrou que o trabalho está incorporado fortemente à vida dos executivos de nossa amostra, de forma que encontramos no setor Produtividade a fonte da maioria dos conflitos e insatisfações que levam os sujeitos a dar respostas pouco ou pouquíssimo adequadas.

Os executivos diagnosticados no Grupo 1 – Adaptação Eficaz demonstraram uma maior integração e equilíbrio entre os setores de adaptação, conciliando o trabalho com os outros aspectos de suas vidas. Mesmo assim, a vida laborativa é o centro para o qual todas as atenções, tanto do executivo quanto das pessoas ao seu redor, convergem.

Os executivos que foram avaliados nos Grupos 2, 3, 4 e 5 – Adaptação Ineficaz Leve, Moderada, Severa e Grave deram respostas pouco ou pouquíssimo adequadas em vários setores de sua vida. O trabalho é a sua principal e, às vezes, a única atividade e a sua fonte de prazer. O setor Produtividade parece ser atualmente o único que conta para esses homens, mas observamos que uma grande parte das dificuldades levantadas no seu dia-a-dia está relacionada ao setor AR. As relações introjetadas como más ou reprimidas repercutem nos demais setores de adaptação. Também observamos que os indivíduos da amostra que deram respostas mais adequadas têm o setor AR melhor estruturado.

A análise dos micro-fatores internos positivos e negativos também mostrou que os sentimentos negativos suplantam os positivos nos diagnósticos de adaptação ineficaz. A maioria dos micro-fatores levantados estão relacionados ao setor Produtividade e mostram que os executivos demonstram sentimentos de onipotência e fantasias de que só eles podem suprir as necessidades dos outros, ou só eles podem resolver os problemas que aparecem, ou que eles são indispensáveis; sentimentos persecutórios e de inveja, e frustrações aparecem em relação à valoração que eles acham que poderiam ter na empresa, ou seja, eles não são devidamente reconhecidos. Também aparecem micro-fatores relacionados ao setor AR mostrando objetos internalizados como bons nos que deram respostas adequadas, e como maus para as inadequadas.

A análise dos micro-fatores externos positivos e negativos mostrou que esses homens estão satisfeitos com a profissão que escolheram e sentem prazer em exercer a função executiva. O ambiente de trabalho facilitador, o reconhecimento de seu valor pela empresa e a possibilidade de ascensão podem levar esses profissionais a aumentar a disposição para o trabalho. Ao contrário, o trabalho compulsivo vivenciando a empresa durante 24 horas, relacionamentos não satisfatórios, a rotina estressante, a saúde afetada pode diminuir a disposição para o trabalho. Porém, observamos que eles não desistem e continuam a devotar sua atenção e sua vida a ele. O trabalho demonstra realmente ser importante para esses homens que só o fato de pensar em aposentadoria ou o ato de aposentar-se pode levá-los a uma crise.

Observamos também que mesmo os executivos que apresentam diagnósticos adaptativos ineficazes obtêm altos níveis de produtividade e uma avaliação de desempenho muito favorável. Podemos dizer que parecem apresentar uma identidade sincrética utilizando o grupo para sua dependência e afiliação. Entendemos que se este lhes faltar ou houver mudanças nesses grupos ou nas organizações, provavelmente, poderão ocorrer crises.

A relação desses profissionais com as organizações a que pertencem é forte e podemos dizer que caracterizam uma dependência psicológica, no sentido que elas são as grandes provedoras da sua fonte de prazer que é o trabalho. Quando a sua afiliação é positiva e de menor dependência, podemos dizer que as organizações permitem a esses profissionais expandir seus conhecimentos e a sua capacidade intelectual, lógica, e os faz se sentirem muito eficazes e até felizes. Quando eles começam a sentir que o peso das responsabilidades está além das suas forças os seus sentimentos começam a se tornar negativos, muitas vezes, não diretamente a elas.

Pelo que pudemos apreciar neste estudo há alguns aspectos que precisariam ser aprofundados, tais como as organizações patológicas advindas dos diagnósticos adaptativos, os sentimentos das famílias dos executivos e a eficácia adaptativa de seus membros e qual a probabilidade de micro-fatores se tornarem fatores desencadeantes de crises.

Em termos de prevenção, podemos dizer que normalmente esses homens são tratados depois que a doença já está instalada, e na maioria das vezes o tratamento

é somente medicamentoso. Não há informações eficazes a respeito dos tratamentos psicológicos de prevenção primária e secundária que poderiam ajudá-los a restabelecer a sua adaptação eficaz.

Há muitos trabalhos que podem ser desenvolvidos pelos profissionais da Psicologia da Saúde. Um deles é a divulgação dentro das organizações industriais de medidas preventivas, de forma que elas consigam desmistificar o sofrimento psíquico, como algo que é passível de ser tratado, sem denegrir a imagem do profissional. Uma outra forma de prevenção primária que nós julgamos como a mais importante é trabalhar os futuros profissionais dentro das universidades.

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