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No presente trabalho de pesquisa foi exposto o retrospecto histórico da evolução da responsabilidade penal da pessoa jurídica, desde o simples agrupamento de pessoas a quem o Direito Romano atribuía alguns direitos subjetivos, passando pelos glosadores da Idade Média que admitiam que as corporações pudessem vir a praticar delitos, até o período pós-industrial o qual modificou a sociedade até então existente, para embutir nova ordem, dando a noção de responsabilidade penal da pessoa jurídica moderna.

Neste momento foi observada a grande mudança econômica, política e social ocorrida na nova sociedade, gerando o surgimento do fenômeno da globalização, no qual as empresas se estruturaram e especializaram cada vez mais no ramo de fornecer, e por óbvio também acompanhado de todos estes fatores a produção em larga escala, não intervenção do consumidor no processo de fabricação, publicidade e outros elementos determinantes para a ocorrência do desnivelamento que se verificou nas relações de consumo, assim permanecendo por algumas décadas.

Igualmente foi feita digressão do histórico da evolução da necessidade de regulação penal da atuação da pessoa jurídica especificamente no Brasil, a partir da Constituição Federal de 1988, que tomando como parâmetro a influência das empresas na nova dinâmica social, instituiu a responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes contra a ordem econômica e financeira, e contra o meio ambiente.

Contudo, existem duas teorias que se debruçaram sobre o tema da responsabilidade penal da pessoa jurídica, ou seja, a teoria da ficção de Savigny, afirmando a impossibilidade de responsabilização penal da pessoa jurídica, fundada na máxima “societas delinquere non potest”, e a teoria da realidade, defendida entre outros por Otto Gierke, defendendo a que a pessoa jurídica é detentora de uma personalidade real podendo delinquir.

A possibilidade de responsabilização penal da pessoa jurídica foi amplamente debatida, foram trazidos à tona argumentos sustentáveis em defesa ou contra este tipo de punição.

Para aferir a responsabilidade penal da pessoa jurídica no Brasil, o Superior Tribunal de Justiça estabeleceu requisitos de possibilidade, quais sejam: à verificação da ocorrência de um ilícito contra o meio ambiente, em que se averiguasse a efetiva participação de um ou mais agentes vinculados à empresa com poder de decisão em nome da corporação, o que foi chamada de teoria da dupla imputação.

Compreendendo-se a Teoria da Dupla Imputação como o entendimento de que a pessoa jurídica é um ente moral (ficto) e que, como tal, é impossível que pratique um crime sem a interferência de pessoas naturais, instituindo-se a obrigatoriedade de indiciar, julgar e punir a pessoa jurídica em conjunto com seus dirigentes.

No entanto, em decisão recente o Supremo Tribunal Federal relativizou a obrigatoriedade da aplicação da teoria da dupla imputação, nos casos em que não é possível determinar o agente pessoalmente responsável pela decisão que resultou na prática do delito, conforme RE 548.181/PR, rel. Min. Rosa Weber, julgado em 6/8/2013.

Porém, até a atualidade as pessoas jurídicas vêm sendo responsabilizada penalmente apenas pelos crimes cometidos contra o meio ambiente em virtude da Lei nº 9.605/98.

Contudo as relações de consumo merecem destaque diante da nova conjuntura socioeconômica, face aos grandes anseios e vulnerabilidade da sociedade de consumo, se configurando em um bem jurídico relevante que deve ser abrangido pelo instituto da responsabilidade penal da pessoa jurídica.

Ao admitir-se a necessidade da criminalização de condutas no âmbito do Código de Defesa do Consumidor, pois dada a fragilidade das relações de consumo, que facilmente são deturpadas, necessitam desta proteção, não há razão para negar a responsabilização penal das empresas diante desta constatação, principalmente em face da independência das responsabilidades civil, administrativa e penal.

Em que pese toda a doutrina clássica e que todos os apontamentos discutidos acerca da culpabilidade, capacidade de ação e possibilidade de aplicação de pena, entre outros, a conclusão a que se chegou foi pela viabilidade da responsabilização, pelo fato de que a pessoa jurídica nasceu para suportar riscos que o mundo oferece, e a responsabilização penal é risco do negócio empresarial, logo, equivaleria a se valer da própria torpeza afirmar que a pessoa jurídica não

pudesse ser destinatária de sanções penais; além de considerar a realidade social de que são as pessoas jurídicas as verdadeiras fornecedoras do mercado de consumo; e também pelo fato de que a pessoa jurídica é detentora de uma culpabilidade própria.

Portanto, uma vez que já veem sendo responsabilizadas pelos crimes contra o meio ambiente, nada mais lógico do que atribuir a ela responsabilidade de acordo com a determinação constitucional, mediante prévia e obrigatória cominação legal, instituindo a responsabilização penal da pessoa jurídica nos crimes cometidos em detrimento das relações de consumo, assim como foi feito para os crimes contra o meio ambiente.

Importa, por fim, salientar que em razão da complexidade e amplitude do tema, bem como do aprendizado desenvolvido ao longo deste trabalho registra-se a necessidade de aprofundamento do estudo acerca da temática, motivo pelo qual se planeja dar continuidade a esta pesquisa.

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