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considerações finais

No documento ANDRESSA DINIZ (19.30Mb) (páginas 51-53)

O presente estudo surgiu com a finalidade de compreender como a arquitetura deveria se relacionar com a paisagem. Quando escolhi a paisagem sertaneja como objeto de estudo, eu tive a inteção de trazer à tona as características de uma região tão vasta porém ainda pouco conhecida por boa parte da população brasileira. Tal região tem características físicas, climáticas,

culturais, arquitetônicas que, somadas, geram um ambiente muito rico e delicado. Na minha visão, esse local traz problemáticas que, somadas à intenção de estudar-se a relação de arquitetura com paisagem, permitem a construção de um discurso relevante na concepção do projeto arquitetônico.

Do estudo pode-se depreender que a paisagem já assumiu diversos significados ao longo da história. Enquanto no início dos estudos da geografia o conceito era relacionado apenas ao meio físico, a percepção atual de que é composta tanto por elementos natureais, quanto pela percepção humana.

Tal percepção é influenciada pelos órgãos sensoriais humanos e pela cultura, portanto é subjetiva.

A definição de paisagem deve ser diferenciada de espaço, que é a soma das formas da paisagem com a intrusão da sociedade,

sempre visto no tempo presente. A paisagem é imutável, e o espaço sempre se transforma. O lugar passa a ser o espaço com significação, onde se reconhece vivências e lembranças. São espaços que geram sensação de pertencimento e identidade.

Visto essas definições, o estudo buscou compreender as relações do homem com o espaço. Pode-se depreender que o humano se beneficia do turismo para apreciar a estética da paisagem, mas também se pauta na estrutura espacial para depreender elementos que permitam a identificação, sendo matéria-prima para as memórias coletivas do grupo. Tais interações entre homem e natureza foram se tornando cada vez mais instrumentalizadas até chegar numa relação atualmente intermediada por objetos artificiais.

Os autores do pós-modernismo criticavam o funcionalismo, pois a arquitetura deveria contemplar as especificidades de

seu entorno sem se tornar alheia a ele. O projeto deve revelar a lógica intrínseca do lugar, analisar os fenômenos naturais antes de intervir, e é defendido também que deve trazer elementos da natureza para dentro da arquitetura, gerando um envolvimento do usuário menos alienado quanto a seu entorno.

Já no Brasil, o modernismo trouxe essa visão do protagonismo do lugar enquanto fator fundamental para compreender o povo e o que seria a identidade brasileira. Os artistas modernos estavam desconfiados do romantismo vigente até então, visto que se utilizava de fortes influências europeias, e buscaram compreender o que diferenciaria o Brasil do restante do mundo para, então, produzir uma arte que fosse legítima.

Tal iniciativa de conhecer melhor o país gerou uma onda de viagens exploratórias. Como destaque pode-se citar Euclides da Cunha, que escreveu Os Sertões a partir de suas observações, Burle Marx, que catalogou novas espécies de plantas autóctones e as utilizou em seus projetos paisagísticos, e Lucio Costa, que

realizou importantes estudos acerca da arquitetura colonial em suas viagens para Minas Gerais.

A produção artística moderna deu voz à figuras antes ignoradas, como por exemplo o homem e a paisagem sertaneja abordada em Os Sertões, e a figura retratada em A Negra, de Tarsila do Amaral.

Na arquitetura, houve uma releitura do trabalho de Le Corbusier, trazendo a inserção de elementos regionais que viriam a formar a linguagem brasileira, como o brise-soleil e o desenho a partir da orientação solar.

O modernismo também voltou seus olhares para o sertão, abordagem essa inédita na produção artística brasileira. Na literatura com Os Sertões, Vidas Secas e Grande Sertão: Veredas, foi produzido um panorama da cultura e paisagem presente na região. O Cinema Novo também se apoiou nessa temática para trazer às telas uma paisagem seca e semiárida, contrastando com o verde exuberante que fora retratado até então.

Porém, ainda hoje, o sertão é visto por uma perspectiva do colonizador, de local distante, pobre e selvagem, e é

insuficientemente conhecido pelos habitantes dos litorais, mesmo abrangendo uma pluralidade de manifestações culturais e paisagens de grande potencial.

A arquitetura rural normalmente se utiliza de materiais encontrados no entorno. Os telhados são feitos de telha cerâmica artesanal e estruturadas com madeira nativa, enquanto a alvenaria é feita de tijolos artesanais de barro cozido e, em alguns casos, de adobe ou taipa.

A área de intervenção, localizada na área rural da cidade de Várzea Alegre, Ceará, apresenta temperaturas médias anuais que variam entre 25 e 35°C, e precipitação escassa ao longo do ano, concentrada principalmente no primeiro semestre. Além disso, não possui calçadas, esquinas, semáforos, e até mesmo

quadras, trazendo uma situação e escala diferente do encontrado comumente em manchas urbanas.

Todas essas observações, junto das estratégias

arquitetônicas relacionadas ao clima e à contemplação do entorno observadas nos estudos de caso, foram de suma importância para definir o partido de projeto, que buscou valorizar a economia local porém sem intervir grosseiramente na dinâmica existente ali.

O exercício de projeto veio para fechar a reflexão levantada nos capítulos anteriores, buscando compreender como um objeto arquitetônico relativamente simples, como uma casa, pode ser concebido através de materiais disponíveis no local, com uma linguagem que promova inovações sem negar as construções pré- existentes do sítio, e que permita uma contemplação da natureza junto a uma relação com outros habitantes próximos.

Assim, com o presente estudo foi possível compreender todos os aspectos que envolvem o conceito de paisagem de maneira a auxiliar a interpretação de uma região específica e, assim, fundamentar a intervenção proposta. A escolha do local de intervenção foi conveniente por abrir meus olhos para uma realidade diferente da que vivencio no meu dia-a-dia e fazer despir-me de quaisquer preconceitos para me colocar em outro ponto de vista formado por modos de vida e cultura diferentes. Para a minha formação como arquiteta e urbanista, essa reflexão me enriqueceu por trazer questões interdisciplinares das artes e geografia, por me fazer conhecer melhor uma região pouco discutida no meio acadêmico

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bibliografia

No documento ANDRESSA DINIZ (19.30Mb) (páginas 51-53)

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