• Nenhum resultado encontrado

Aspectos Macroeconômicos Relacionados à Previdência Social

CAPÍTULO 10 Considerações Finais

A Previdência Social é um dos principais instrumentos de um governo. Através dela a sociedade define como pode e deseja sustentar seus cidadãos incapazes de trabalhar. Contudo, sistemas previdenciários constituem arranjos institucionais de longo prazo e de elevado custo social, notadamente se estruturados no regime financeiro de repartição.

Desta forma, a adequada estruturação dos benefícios e da forma de custeio pode assegurar sua solvência por muitos anos, caso variáveis macroeconômicas e demográficas, de natureza exógena, de certo modo previsíveis, não perturbem o equilíbrio do arranjo previdenciário.

Entretanto, muitas nações enfrentam presentemente problemas com elevado desemprego e redução da atividade econômica, os quais produzem impacto nos programas previdenciários. Esta situação de restrições financeiras tem levantado questionamentos quanto ao papel e a função da Previdência Social, particularmente quando se coloca em pauta a reavaliação dos papéis do Estado junto à sociedade.

Os principais fatores de desequilíbrio de um sistema previdenciário público estruturado no regime financeiro de repartição simples relacionam-se a variáveis demográficas e financeiras que fundamentam o modelo. Observa-se, de um lado, um processo acelerado de envelhecimento da população juntamente com a redução das taxas de crescimento populacional. De outro lado, o desemprego e a informalidade, associadas a uma menor importância do fator de produção trabalho na formação de capital, reduzem a receita previdenciária, que tem no salário e no faturamento das empresas a base contributiva do sistema.

Restaurar o equilíbrio do sistema é um desafio que vem sendo enfrentado por quase todos os países, inclusive os de renda elevada, cujos cidadãos têm poupança própria e não dependem tanto de sistemas previdenciários oficiais depois que se aposentam. As alíquotas de contribuição para a previdência não são baixas e, com efeito, comprometem o

desempenho das empresas, inibindo qualquer ação na direção de sua elevação. Portanto, o restabelecimento do equilíbrio do sistema depende da expansão do número de contribuintes e da limitação dos montantes de benefícios pagos, seja por redução do valor, seja pelo retardo no início do pagamento dos mesmos.

De outra parte, a legislação da Previdência Social brasileira atende os princípios universais que regem os sistemas previdenciários de muitas nações civilizadas. No entanto, padece dos problemas que parecem ser comuns a todas.

Numa avaliação preliminar do horizonte percorrido, em comparação com os ajustes promovidos, por exemplo, por países latino-americanos, vê-se que no Brasil as mudanças na Previdência Social ocorreram de forma tardia. Neste contexto nunca se verificou uma ação pioneira por parte do Estado para que ações preventivas fossem adotadas para assegurar o equilíbrio do sistema.

As duas reformas previdenciárias brasileiras, promovidas em 1998 e 2003, não romperam o paradigma tradicional do modelo de repartição simples, tendo sido realizado apenas ajustes paramétricos na direção de aproximar o nível de contribuição ao de recebimento de benefícios e de reduzir a pressão do contingente de inativos em relação aos ativos. Assim, a Previdência Social continua sendo financiada pelo regime de repartição simples e, portanto, contra ela concorrem os riscos demográficos e financeiros associados ao funcionamento do sistema, os quais, conseqüentemente, continuam distribuídos entre todos os contribuintes, prevalecendo, então, o princípio da solidariedade entre as gerações.

Além das questões acima, concorre para o déficit o fato de a Previdência Social ser excessivamente burocrática, implicando em custos operacionais elevados e de certo modo facilitando o surgimento de fraudes e sonegações. No entanto, há de ser registrado o esforço para a melhoria do funcionamento do sistema a partir das ações empreendidas pelo Ministério da Previdência Social que, obedecendo ao princípio de transparência fiscal, tem publicado periodicamente o resultado mensal do RGPS, assim como as suas projeções atuariais e os demonstrativos de renúncias previdenciárias, em conformidade com as técnicas de escrituração contábil da legislação vigente. Estas informações são auditadas pelo Tribunal de Contas da União e estão disponíveis em Internet e outros meios para

consulta dos cidadãos. Outras informações quantitativas e financeiras sobre o sistema previdenciário, incluindo as áreas de benefícios, arrecadação, dívida, serviços, previdência complementar e de servidores públicos, vínculos empregatícios, assistência social, acidente de trabalho, dentre outros, podem ser encontrados no Anuário Estatísticos da Previdência Social, publicado anualmente e também disponível na Internet.

No tocante à discussão quanto ao melhor método de financiamento, não há um consenso entre os estudiosos quanto à vantagem de substituição do regime de repartição para o de capitalização. Como destacado, há um grupo que defende a mudança para um modelo de capitalização, considerando que a acumulação de recursos que seriam aplicados em investimentos de longo prazo conduziria a um crescimento global da economia, além de permitir uma maior eqüidade atuarial através de contas individuais. Do lado oposto há o grupo que julga ser mais prudente manter o regime de repartição simples e ajustá-lo à nova estrutura demográfica, elevando a idade mínima de aposentadoria. A dificuldade de se efetuar a transição para o regime fundado, particularmente em razão do elevado custo, bem como as incertezas da eficácia da capitalização, são alguns dos principais argumentos utilizados pelos que defendem esta linha de pensamento.

A experiência dos países latino-americanos aqui exemplificados, os quais promoverem alterações substantivas em seus sistemas de previdência social, nos leva a concluir que o sistema previdenciário público brasileiro ainda carece de aperfeiçoamentos.

Documentos relacionados