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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho buscou fazer uma análise da legitimidade do ativismo judicial frente ao princípio da separação dos poderes. Como visto, a doutrina se divide a respeito do assunto, sendo vários os posicionamentos favoráveis e contrários, não sendo um tema pacífico até os dias atuais. É notório que o Brasil tem vivenciado, nos últimos anos, uma verdadeira insegurança quanto aos Poderes

Executivo e Legislativo. Tais poderes perderam a credibilidade do povo brasileiro diante de tantas denúncias e condenações por corrupção, lavagem de dinheiro, compra de votos, entre outros crimes que envolvem o patrimônio público, cometidos por parlamentares e por governantes. Com isso, a sociedade brasileira tem visto no Poder Judiciário a esperança de que toda essa crise se resolva.

O Congresso Nacional, por exemplo, mais exerce as funções fiscalizadoras, por meio das Comissões Parlamentares de Inquérito, do que a função de formular leis que permitam o cumprimento dos mandamentos constitucionais. O que a maioria faz é discutir a liberação de verbas e tentar encobrir as denúncias de corrupção que surgem todos os dias. Já se passaram quase 30 anos desde a entrada em vigor da Constituição e ainda existem mais de 50 artigos sem regulamentação. O Poder Executivo, por sua vez, acarretado de denúncias de corrupção, tem a credibilidade de seus atos colocada em xeque, tentando se salvaguardar a qualquer custo de possíveis condenações. Portanto, enquanto os parlamentares , assim como o Presidente da República, se preocupam em se manter no cargo, os Ministros da Suprema Corte, bem como os demais juízes, se veem obrigados a legislar ou sustar atos dos demais Poderes.

O artigo 102 da Constituição Federal diz que compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente a guarda da Constituição. Esta, não é uma carta de intenções ou de recomendações, é uma norma imperativa que serve de base para todo ordenamento jurídico. Segundo Hesse (1991), a Constituição não se configura, portanto, apenas expressão de um ser, mas também de um deve ser. Ela significa mais do que um simples reflexo das condições fáticas de sua vigência, particularmente expressa as forças sociais e políticas.

O STF, como protetor da Constituição tem como dever zelar pelo seu cumprimento, pois como dito, a Constituição não é uma carta de intenções, um pedido, mas sim uma norma de caráter imperativo. Guardar a Constituição Federal é, precípua e essencialmente, certificar que os princípios, valores e ideais que a norteiam sejam satisfeitos. Direitos como a igualdade, dignidade da pessoa humana, liberdade, direito a um meio ambiente equilibrado, à saúde, educação, segurança, cultura, lazer, enfim, todo o extenso rol de direitos fundamentais e garantias individuais indicados pelo texto constitucional devem ser garantidos pelo Supremo

Tribunal Federal, não apenas meramente visualizados. Tais direitos são garantias dos cidadãos, e necessariamente hão de ser protegidos pela República Federativa brasileira, não interessando se trata de função típica do Executivo, Legislativo ou do Judiciário.

Todavia, as decisões ativistas não devem ser corriqueiras, devendo o Poder Judiciário agir somente nesse período de crise de representatividade, ou seja, enquanto os verdadeiros detentores da legitimação popular não se manifestarem, caberá aos magistrados suprirem esta lacuna, pois, por mais críticas que se façam ao ativismo judicial, ele ainda é menos prejudicial que um parlamento inativo.

Conclui-se então, que as decisões tomadas pelo Poder Judiciário como forma de preencher as lacunas do Poder Legislativo bem como efetivar políticas públicas constitucionalmente garantidas são dotadas de legitimidade. Não há que se falar em extrapolação de competência quando o que o Poder Judiciário tem feito é justamente zelar pela Constituição e pelos princípios gerais do direito. Como dito, essas decisões não devem ser cotidianas, mas enquanto perdurar essa crise no Legislativo e no Executivo cabe ao Judiciário "tomar às rédeas" e dar uma resposta efetiva à sociedade.

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