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ATORES SOCIAIS

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ausência de alternativa para o descarte e destinação final adequada para os Remar, permite o desenvolvimento de uma cultura “joga-fora” com rebatimento em impactos sociais e ambientais. Essa disposição indiscriminada de Remar admite que o assoreamento dos corpos hídricos e atração de macro e microvetores sejam os principais impactos do descarte dos resíduos da mariscagem.

Observa-se que todos os locais de beneficiamento e descarte dos Remar são criados como alternativa à dificuldade de transporte dos mariscos, dos locais de coleta até os locais de beneficiamento, em áreas de fácil acesso à madeira e próximas aos cursos d’água. Essas áreas são resultados da ausência de

Todos os locais de beneficiamento de mariscos carecem de madeira para a queima do marisco e como consequência disto, os Podremar estão localizados em áreas escondidas, quase todos no manguezal, onde se torna mais oportuno o descarte dos Remar, uma vez que não há fiscalização, nem a necessidade de transporte nesses locais.

Os locais de beneficiamento tornam-se cada vez mais “oportunos” para o descarte dos Remar, quando estão situados em áreas de denso manguezal, dispõem de fácil acesso à madeira e estão desprovidos de fiscalização ambiental. Portanto, os Podremar existentes no Município de Igarassu são reflexos diretos da falta de controle e limites na extração do marisco, ausência de programas de coleta dos Remar, desarticulação entre os potenciais parceiros do Município e dificuldade de diálogo com a população local, proporcionando o quadro negativo que envolve todos os responsáveis pela gestão dos resíduos.

No tocante à mitigação de impactos socioambientais associados ao descarte dos Remar, identificou-se que há uma potencialidade do Município que advém, de potenciais parcerias com empresas privadas, principalmente no setor da construção civil, mas que oportuna também o contato com outras instituições.

Do ponto de vista da gestão, urge pela implantação do Conselho Gestor da APA de Nova Cruz, para auxiliar nas questões relativas à atividade da mariscagem e seus resíduos, bem como a concepção e incorporação do Plano de Gestão Integrada dos Resíduos da Mariscagem (Plagirmar) ao Plano Plurianual, cumprindo com o Plano Diretor do Município quando visa subsidiar projetos de aproveitamento das conchas desses moluscos.

A inexistência de instrumentos de comando e controle específicos para regular a extração dos mariscos permite que a captura de espécimes jovens comprometa os estoques naturais de marisco e contribua para o aumento da geração de Remar, permitindo a consolidação de uma regulação externa, sobre a cultura da mariscagem, única e exclusivamente pelo mercado econômico.

O diálogo comprometido e a desarticulação entre os atores envolvidos na gestão da atividade da mariscagem e dos Remar são considerados os principais aspectos negativos da gestão local.

Entende-se que há uma responsabilidade legal e moral do Município para com a efetiva gestão dos Remar, que deve ser compartilhada entre todos os atores envolvidos no processo da mariscagem.

Para que o Município encontre soluções capazes de apontar resultados positivos e sustentáveis no tocante aos Remar, tem-se como imperativo a mudança de comportamento por parte dos “gestores”, desmistificando a relação engessada de inacessibilidade entre as partes nas tomadas de decisão, partindo do pensamento clássico-reativo, da realização pós- cobranças, para um pensar dialógico, com vistas a uma maior pró-atividade.

Recomendações 6.1

A região pesquisada carece de estudos rigorosos e contínuos que permitam a construção de uma memória real acerca da atividade da mariscagem no Município de Igarassu, gerando informações que traduzam as relações sociais, os interesses e usos dos recursos naturais, de modo que venham a contribuir para um maior entendimento dessas comunidades locais e busquem mediar conflitos, por meio de propostas e soluções compartilhadas para os problemas locais.

Proposição para uma Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos da Mariscagem 6.1.1

(em rede)

As tomadas de decisão no Município, no que faz referência aos Remar, carecem previamente da estruturação do CONDAPA, órgão que admite a construção do ambiente dialógico necessário para se discutir, junto aos atores envolvidos, as dificuldades causadas pelos Remar e seus instrumentos de ação, uma vez que Igarassu está sob jurisdição ambiental

legalmente protegida. Cabe ao CONDAPA propor a minuta para estruturação do instrumento legal que vise um manejo na extração de marisco e na gestão dos resíduos gerados pela atividade da mariscagem.

Para a criação do Plano de Gestão Integrada para os Resíduos da Mariscagem (Plagirmar), que aponte para a prevenção e correção dos impactos ambientais oriundos do descarte inadequado dos Remar, recomenda-se uma articulação interna entre os órgãos da administração direta e indireta, por meio de um grupo de trabalho (GT) com objetivos comuns e individuais a cada área, conjuntamente com outro GT, formado com vários titulares, entre eles poder público, empresas, instituições de ensino, pesquisa e extensão, e sociedade civil. Nesse sentido, o Plagirmar deve estar integrado ao instrumento legal a ser criado que controle a atividade da mariscagem, o Plano de Manejo.

O embasamento do Plagirmar deve ser realizado por um levantamento socioambiental sobre a área de influência de potenciais Podremar, com questões referentes às alternativas utilizadas para assistir as comunidades locais existentes, bem como evitar/mitigar efeitos negativos no ambiente. Sugere-se analisar a disponibilidade de recurso humano para estrutura do corpo operacional de fiscalização, coleta e gerenciamento. Também faz-se interessante estimar os custos envolvidos para as diversas alternativas que incidem sobre o conjunto das tecnologias empregadas para o tratamento dos Remar. Para a credibilidade do Plano, é essencial que todas as questões relativas à gestão dos Remar estejam transparentes para a sociedade e vinculadas à importância para as populações direta e indiretamente atingidas.

Neste sentido, a fim de se evitar possíveis irregularidades, cabe à SEMAIG criar um selo de demarcação para ser inserido nos puçás, certificando a regularidade da ferramenta de coleta. No entanto, para que estes apetrechos de pesca sejam validados, faz-se mister, e um imperativo ao Município, a implementação do defeso na região.

Almeja-se que extração do marisco para fins de subsistência nos períodos de defeso deve ser realizada por meio de coleta manual, sendo proibido o uso de qualquer apetrecho para remoção dos organismos do sedimento. Para tanto, deve-se buscar o diálogo e alternativas socioeconômicas compensatórias.

Orienta-se três possibilidades para a instituição do defeso na região: i) defeso com paralização de todas as atividades (subsistência e comercial), é o único instrumento indicado que garante a reprodução nos períodos de cessação da pesca; ii) o defeso parcial, aplicável exclusivamente nos casos de subsistência com as croas realizando a mariscagem limitada em:

quantidade de marisco x dia-1; número de marisqueiro nas croas; tipo de licença de pesca; uso de apetrechos de pesca; e por último, iii) o defeso parcial realizado “por quarteamento”, aplicável por rodízio da atividade em quadrantes, previamente estudados e definidos, com liberação da atividade de acordo com a capacidade de carga (quantidade de marisqueiro por área).

A extração de marisco deve ser permitida para fins comerciais somente por meio da pesca artesanal, ou para fins não comerciais, para meios científicos ou de subsistência, e admitida às marisqueiras e pesquisadores cadastrados junto aos órgãos de classe do Município de Igarassu (Colônia de Pescadores – Z 20; Associação de Pescadores – A 20) ou à Agência de Meio Ambiente Municipal (AMAM), portadores de carteira de pescador válida ou autorização da AMAM.

Nesse sentido, cabe à SEMAIG expedir licenças para coleta de acordo com a classificação de pesca (visitante-amador, amador ou profissional), selo certificando a malha utilizada nos apetrechos, distribuir sacos com coloração diferente para identificar as comunidades e limitar a quantidade de mariscos à quantidade de sacos permitidos.

Da mesma maneira, cabe à AMAM fiscalizar a pesca no período de proibição e a adequação aos novos processos, quando da instituição de legislação ou Plano do Manejo da APA de Nova Cruz. Todas as licenças de pesca deverão ser cobradas, e o recurso arrecadado constituirá um sugerido Fundo Municipal das marisqueiras e Pescadores da APA de Nova Cruz que deverá auxiliar na construção e manutenção das estações de beneficiamento e no gerenciamento dos Remar na APA de Nova Cruz.

Para aumentar o potencial de fiscalização municipal, cabe o poder executivo local articular-se com órgãos em defesa da tutela ambiental, como Cipoma, Ibama, CPRH, bem como a Capitania dos Portos (Marinha) bastante atuante na área e informar sobre as alterações legais.

É necessário que o Município envolva a comunidade impactada pelas mudanças propostas, tais como de donos de restaurantes, população do município e cooperação com outros municípios consumidores do marisco da região sobre a importância de consumir mariscos de origem legal, contribuindo para a sustentabilidade da atividade da mariscagem na região.

Para tanto, é essencial o cadastramento de todos os comerciários compradores de marisco, bem como o cidadão consumidor, atravessador e/ou receptor da produção oriunda da atividade de mariscagem realizada na jurisdição do município. Da mesma forma, apoiar e difundir meios de comercialização dos mariscos diretamente para os consumidores finais ou

comerciários, sem a necessidade de atravessador, com auxílio do SEBRAE, parceiro do Município.

A coleta de mariscos abaixo do estabelecido no proposto instrumento proporciona sustentabilidade à atividade da mariscagem e ocasiona uma diminuição da geração de Remar. Para obtenção de dados referentes à estimativa volumétrica mensal de Remar produzido pelo município, é necessário o acompanhamento do que está sendo gerado em cada Podremar.

Todo descarte de Remar realizado nos Podremar deverá ser observado e registrado em planilhas que posteriormente deverão ser calculadas de acordo com as fórmulas propostas no Quadro 6. As planilhas serão compostas de dados sobre os Remar obtidos em todos os Podremar relacionados com: i) o tempo gasto para preenchimento da caçamba; ii) a quantidade de marisqueiras(as) responsáveis pelo preenchimento da caçamba; iii) o peso da caçamba com Remar ao final de um dia; ou, iv) o peso total da caçamba cheia de Remar.

Quadro 6 - Fórmulas utilizadas para cálculo dos Remar.

TIPO CÁLCULO APLICAÇÃO

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