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A partir do presente estudo, pôde-se constatar que a seguridade social no Brasil, estabelecida na Constituição Federal de 1988, configura-se como sendo um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar o direito à saúde, à previdência e à assistência social. Constitui, portanto, um importante sistema de proteção e concessão de direitos aos cidadãos, direitos esses que decorrem da própria dignidade da pessoa humana.

Sendo a previdência social uma das áreas da seguridade social, cabe a ela a proteção do segurado quando este dela precisar, em casos de requerimento dos benefícios previdenciários como auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, salário maternidade, aposentadoria por idade, etc. Mas, não apenas estes, tendo em vista que os direitos previdenciários devem ser articulados com os princípios da dignidade da pessoa humana, da solidariedade social e da igualdade, de modo a buscar o bem-estar e a justiça social.

Nessa perspectiva, verifica-se que o benefício de auxílio-doença parental, apesar de ainda não possuir regulamentação legal, encontra-se totalmente amparado nos princípios sociais estampados na Constituição Federal de 1988, configurando-se como um auxílio de fundamental importância para aquelas famílias de indivíduos que se encontram em situações de fragilidade diante de graves enfermidades.

Vale apontar que, o fato de haver licença remunerada para que o servidor público efetivo possa se ausentar temporariamente do seu trabalho e cuidar de seu parente enfermo, comprova claramente a viabilidade do referido benefício, assim como evidencia uma situação de desamparo aos segurados do Regime Geral de Previdência Social, através de um tratamento desigual entre os regimes básicos, o que, conforme pôde ser analisado ao longo dos dois últimos capítulos desta monografia, sinaliza um desrespeito aos princípios constitucionais e as próprias normas regulamentadoras dos regimes próprios que preveem que estes só pode conceder benefícios que também sejam previstos no RGPS, salvo exceção prevista na Constituição Federal de 1988.

Conclui-se, portanto, pela compatibilidade do auxílio-doença parental com as disposições constitucionais que versam sobre a seguridade social. Isso porque o referido benefício encontra suas principais inspirações na dignidade da pessoa

humana, na erradicação da pobreza e na solidariedade, princípios estes sedimentados na Carta Magna de 1988, os quais garantem a todo e qualquer cidadão do país as condições mais básicas de vida e de bem-estar.

É sabido que o apoio da família para aqueles indivíduos que enfrentam graves enfermidades é de fundamental importância, sendo fato de conforto, acalento e até de melhora no quadro clínico desses pacientes. Sob esse enfoque, mostra-se essencial a concessão do auxílio-doença parental ao segurado que, diante da necessidade de prestar cuidados a um familiar, esteja impossibilitado de exercer sua atividade laboral.

Deve-se ressaltar, por oportuno, que embora a instituição legal do auxílio- doença parental preceda, por uma questão de responsabilidade, da realização de estudos complexos e prévios acerca de sua viabilidade, bem como de uma fiscalização efetiva para evitar possíveis fraudes no seu recebimento, tarefa esta que deve ficar a cargo do Poder Executivo, por ser este o gestor das políticas públicas voltadas à Previdência Social, não se pode utilizar esses argumentos como empecilhos para a concessão do benefício aos segurados do Regime Geral de Previdência Social pelas vias judiciais.

No entanto, é importante ressaltar que o simples pedido ao Poder Judiciário não é suficiente para que o auxílio-doença parental seja concedido, visto que é necessária a realização de perícia tanto no dependente quanto no segurado, com vistas a comprovar a real necessidade da presença do segurado junto a seu familiar enfermo, bem como a constatação de que o segurado não possua condições de exercer suas atividades laborativas devido a seu quadro psíquico de preocupação com seu ente querido.

Nesse contexto, é de fundamental importância que os operadores do Direito lutem pela concessão de tal benefício para aqueles segurados que dele necessitam, a fim de garantir a dignidade da pessoa humana, o bem-estar da família, pois embora muitos pleitos possam vir a ser negados, é a partir da busca reiterada pela tutela judicial que o Direito vai se fundamentando e se construindo.

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