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A presente pesquisa foi realizada no Centro de Educação Infantil – Tempo de Aprender pertencente à rede municipal de Fortaleza – CE, entrevistando três professoras que atuam em turmas com crianças de 4 e 5 anos, no turno da tarde, com o objetivo de analisar as concepções e as práticas desenvolvidas sobre a brincadeira na perspectiva docente. Para isso, foi desenvolvida a técnica de entrevista semiestruturada com as respectivas professoras, bem como foram realizadas observações diretamente em sala de atividades.

Não ouso dizer que apresentarei uma conclusão da pesquisa. É mais sensato afirmar que partilharei algumas descobertas, que os estudos pertinentes a este trabalho me permitiram compreender a partir de algumas compreensões: a brincadeira possui uma relação intrínseca com a infância e que contribui essencialmente com o desenvolvimento global da criança. Nesse sentido, o brinquedo apoia a imaginação da criança, fazendo com que a mesma amplie seu repertório de experiências significativas, gerando assim avanços na Zona de Desenvolvimento Proximal. Mediante as concepções de Vygotsky, é importante destacar a relevância da brincadeira para a formação do sujeito, assim como a necessidade de que ela seja compreendida como ponto de partida para todas as áreas do conhecimento, pois as crianças logo que nascem, já são consideradas seres que inventam, experimentam, interagem com a sua cultura e vivem com intenso prazer de conhecer. Vale ressaltar que no contexto da Educação Infantil, o professor é considerado um impulsionador das aprendizagens infantis, sendo necessário que esse profissional esteja em constante formação e que saiba reconhecer o seu papel frente à brincadeira.

Considero a pesquisa em campo muito rica, porém restrita e isso foi possível constatar através dos eixos que selecionei para a realização da análise de dados coletados: 1) Eixo 1 - Interações e brincadeira como eixos da Educação Infantil: abismos entre legislações e práticas; 2) Eixo 2 - Educação Infantil como preparação para o Ensino Fundamental; 3) Eixo 3 - Aprender para brincar e brincar para aprender.

Em relação ao primeiro eixo (Interações e brincadeira como eixos da Educação Infantil: abismos entre legislações e práticas) observei a ausência das interações e da brincadeira na rotina pedagógica como elementos articuladores das aprendizagens da criança. Visto que, constatei também, em diversos momentos (entrevistas, planejamento e no desenvolvimento das aditividades juntos às crianças) divergências entre o que preconiza as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010) e os fazeres pedagógicos.

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No que diz respeito ao segundo eixo (Educação Infantil como preparação para o Ensino Fundamental) considerando as falas das professoras contempladas nas entrevistas semiestruturadas como também em suas ações pedagógicas em sala, fica claro que estas não conseguem dissociar a brincadeira na Educação Infantil de uma fase preparatória para o Ensino Fundamental empobrecendo, as experiências oportunizadas às crianças.

Com relação ao terceiro eixo (Aprender para brincar e brincar para aprender) pude constatar que a brincadeira na perspectiva docente não chega a contribuir para o desenvolvimento da criança, pois o ato de brincar para as professoras ganha um significado escolarizante, sendo pré-requisito para aquisição de novos conhecimentos e ocupa lugar secundário na rotina.

Nesta perspectiva, concluo que as concepções das professoras sobre a brincadeira, apresentam um distanciamento do real significado do brincar para a criança pequena, uma vez que não o considera como nutriente essencial ao seu pleno desenvolvimento e elemento integrante e integrador das experiências a serem planejadas e vivenciadas no cotidiano educativo. Entretanto, se faz necessário salientar também, que o professor, enquanto adulto mais experiente, esteja disposto a participar da cultura brincante da infância, bem como participe efetivamente dos processos de formação continuada na perspectiva de alinhar suas concepções e práticas de modo a garantir um atendimento coerente com as especificidades infantis.

Por fim, reconheço que essa pesquisa ainda deixa algumas lacunas e que não se propôs a ser uma resposta acabada das problemáticas, devido o tempo na instituição pesquisada ter sido um pouco restrito. Fato esse que impossibilitou um estudo mais aprofundado sobre a Proposta Pedagógica do CEI – Tempo de Aprender e suas contribuições enquanto documento norteador das concepções de seus profissionais em relação à infância, à criança e à Educação Infantil.

Contudo, vale ressaltar que esse trabalho me mobiliza a dar continuidade a futuras pesquisas, pois a sua temática é instigante e faz parte de meu cotidiano enquanto professora da Educação Básica, bem como, suscitar a atenção e o olhar de outras pessoas para as questões aqui levantadas.

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APÊNDICE A– ROTEIRO DE ENTREVISTA COM AS PROFESSORAS

1. Fale um pouco sobre sua formação inicial.

2. Em sua graduação, você cursou alguma disciplina referente a Educação Infantil? 3. Como você se tornou professora da Educação Infantil? Há quanto tempo você trabalha na Educação Infantil?

4. Como você percebe o papel da Educação Infantil na vida das crianças? 5. Apresente algumas considerações sobre a sua concepção de criança.

6. Há algum teórico em que você busca apoio para entender sobre o desenvolvimento infantil? Como você relaciona teoria e prática na perspectiva do desenvolvimento das crianças?

7. Você tem participado das formações continuadas? Como você analisa os processos formativos?

8. De que maneira você analisa o seu papel de professora da Educação Infantil? 9. Porque a brincadeira se constitui como um direito fundamental da criança pequena? 10. Na instituição em que você trabalha, como a brincadeira é compreendida por todos os profissionais?

11. De que forma você tem estruturado o seu planejamento e as suas práticas contemplando a brincadeira, no contexto das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010)?

12. Fale um pouco sobre as contribuições da brincadeira na Educação Infantil para o desenvolvimento das crianças pequenas.

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