• Nenhum resultado encontrado

Iniciamos as considerações finais remetendo ao conceito de sujeito do discurso de Mussalim (2003):

(...) aquele que ocupa um lugar social e a partir dele enuncia, sempre inserido no processo histórico que lhe permite determinadas inserções e não outras. (... ) o sujeito não é livre para dizer o que quer, mas é levado, sem que tenha consciência disso, a ocupar seu lugar em determinada formação social e enunciar o que lhe é possível a partir do lugar que ocupa. (MUSSALIM, 2003, p. 110).

A partir desse conceito de sujeito, e iniciando as considerações finais, retomamos o nosso problema de pesquisa no qual está relacionado a possível existência do processo de individuação pelo buscador do Google na versão Hummingbird, ou seja, o processo de individuação pode ser realizado pelo buscador do Google na versão Hummingbird? Para isso, analisamos a existência do processo de individu(aliz)ação neste buscador, a partir dos experimentos, onde os sujeitos-alunos por meio de suas buscas, mobilizaram a memória metálica de acordo com suas repetições. Isto ocorreu pelas clivagens subterrâneas que criaram os efeitos de silenciamento/apagamento nos links apresentados no retorno das consultas.

Dentre os objetivos específicos propostos, primeiramente trabalhamos a contextualização do filtro invisível no subcapítulo 3.4 descrevendo o seu funcionamento de acordo com seu idealizador Eli Pariser. Conseguimos comprovar a existência deste filtro quando realizamos os experimentos com a busca de palavra-chave “hotel”. Após, descrevemos os processos de individu(aliz)ação no funcionamento da internet, que só foi possível a partir do experimento coletivo realizado pelos sujeitos-alunos. Consideramos assim, em nossa análise, a interpelação dos sujeitos pela rede como um dos pilares dos nossos experimentos. Os sujeitos- alunos inscritos em suas FDs navegaram na internet onde tinham a opção de clicar ou não em determinados links, gerando o que identificamos como um processo de personalização de conteúdo. Essa personalização, como visto anteriormente, no nosso entendimento é atravessada pelo discurso capitalista. Empresas estão utilizando esse mecanismo de personalização para criar “valores”, com base no uso, visando recursos monetários relativos às informações geradas e comercializadas.

Ponderando sobre esse mecanismo de personalização, começamos a analisar e buscar compreender os efeitos de silenciamento/apagamentos que o buscador produz a partir dos experimentos realizados. Em primeira análise, refletimos sobre o atravessamento do

discurso capitalista que criou/interferiu nesses efeitos de silenciamento/apagamento dos registros/links retornados em cada consulta. Nesse sentido, trabalhamos nos experimentos a noção de arquivo, contemplando as questões relativas aos bancos de dados utilizados no buscador. Além disso, mobilizamos o conceito de memória metálica de acordo com as repetições originadas pelas marcas deixadas pelos alunos em suas navegações. Também aqui foi possível verificar a inscrição dos sujeitos-alunos usuários na forma histórico capitalista, por meio da relação de identificação produzida pelo buscador.

Mediante as noções de acontecimento discursivo e enunciativo, nossos experimentos comprovaram que a partir do(s) arquivo(s) gerado(s) originados de cada consulta, não houve uma ruptura da posição-sujeito-aluno na(s) formação(ões) discursiva(s) em que estavam inscritos, assim, definimos o processo como um acontecimento enunciativo. A internet funciona como uma rede de pessoas e conteúdo, se valendo de um potencial de interligar tudo e oferecer um aparato de possibilidades de navegação. Desse modo, produzindo um efeito de liberdade, pois há a noção de que tudo se pode fazer e consultar/buscar neste local. Salientamos, mais uma vez, que a internet disponibiliza sites e portais, desenvolvidos por desenvolvedores a partir de códigos preestabelecidos, assim, somente quem está inserido no discurso da informática tem a possibilidade de criar/alterar/excluir conteúdo dentro da rede.

Por fim, e como último objetivo específico buscamos identificar as possíveis marcas discursivas dos processos de individu(aliz)ação no buscador do Google. Com isso, foi imprescindível utilizarmos o conceito avatar, trazido por Pequeno (2015), que serviu como uma das primeiras constatações para entender essas novas formas de utilizar a internet, bem como seus impactos, uma vez que produz um efeito de representação do sujeito na rede. Ao tratar de individu(aliz)ação, necessitamos compreender como a internet cria uma representação de nós mesmos. Isso foi o que aconteceu com os alunos, ao realizar suas navegações na rede.

Percebemos pelos experimentos, que os algoritmos do Google interpelaram os sujeitos-alunos, a posteriori, criando um “avatar” com o intuito de personalizar/efeitos de silenciamento os conteúdos fornecidos. Assim, obtivemos o “avatar” do aluno/grupo individualizado, como perfil de cada um. Esse procedimento permitiu analisar que todo esse processo se originou pelo armazenamento em bancos de dados das preferências, interesses e histórico de acessos dos alunos. Entendemos, aqui, o avatar como simulador, ou seja, uma representação duplicada.

Assim, entendemos que as consultas do Google mobilizaram a memória metálica, isto se deve pelas suas próprias repetições identificando o que era ou não clicado. Todo esse

processo, aconteceu a partir das clivagens subterrâneas que, por consequência, criaram efeitos de apagamento/silenciamento.

Ademais, o conceito de Filtro Invisível, de Pariser, oportunizou serem analisadas discursivamente as noções mobilizadas a partir dele, visto que até o momento não existiam pesquisas que trabalhassem esse conceito atrelado à noção de individuação. Logo, conseguimos identificar também a existência desse filtro, considerando que o que acessamos, interfere no que veremos posteriormente. A partir da noção de individuação de Orlandi e da problemática referente a possível existência do processo de individuação pelo buscador Hummingbird, confirmou-se a existência do processo de individuação por meio dos algoritmos codificados pelos desenvolvedores da Google. Dessa maneira, houve o processo de identificação duplicada dos sujeitos-alunos, transformando-os em avatares para que os links apresentados pudessem criar um efeito de personalização/silenciamento de conteúdo no uso da internet. Todo esse processo foi descrito e analisado discursivamente nos experimentos, tanto no individual como no coletivo.

Esta pesquisa limitou-se ao buscador Google na versão Hummingbird, no entanto, pode ser aplicada a outras versões ou mesmo redes sociais que utilizam esse conceito do Filtro Invisível, como Facebook ou Instagram. Com o decorrer da pesquisa, foi possível identificar que outros sites, como Terra também estão utilizando um processo de personalização de conteúdo sem a identificação de um usuário (login e senha) para acessar os conteúdos, assim, recomenda-se também analisar discursivamente esses novos portais e verificar como se dá o processo de individuação do sujeito nesses sites.