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Considerando o objetivo delineado no início de ssa dissertação, a saber, apresentar a capability approach de Sen e discutir sua influência sobre o IDH, concluiu-se que tal abordagem fora resultante dos passos de Sen num caminho que se inicia com s ua visão sobre o nascimento da Economia, a partir de duas raízes, uma ética e outra engenheira, e sua escolha de recuperar nas análises ec onômicas os elementos éticos que permitiriam uma visão dessa ciência de modo mais abrangente do que o que predominou no século XX.

Percebeu-se que a abordagem seniana se diferenciava de algumas teorias anteriores que lhe serviram como suporte , sobretudo por dar importância ao homem como fim e por considerar primordial o aspecto da liberdade, e percebeu-se ainda que sua finalidade estava além do conceito de felicidade, quando este é reduzido a ideia de utilidade ou atrelado meramente a um dado montante de r enda.

Ficou também evidente que a capability approach, ao colocar- se como mais completa que o Utilitarismo ou mais aberta do que teorias voltadas aos bens primários ou focada somente no crescimento econômico, se abriu às críticas e incompletudes.

Nesse sentido, embora Sen advogue uma teoria com visão em políticas públicas, sua formação neoclássica o obrigou a trilhar o caminho metodológico aqui apresentado, não o desvencilhando da “alma” utilitarista. Percebeu-se que o autor agregou o que encontrou de melhor nas teorias citadas no primeiro capítulo, mas restringiu sua análise ainda ao ponto de vista do indivíduo. Ou seja, sair do foco no agente para a agência (conjunto de expressões de agentes), do um para o todo, não é um caminho explícito e claro na teori a seniana.

Além disso, é complicado pensar na agregação para realização de cálculos, pois não se consegue captar efetivamente a capability para uma sociedade, uma vez que os aspectos da escolha, e da liberdade de escolher, não são facilmente inferidos nem mesmo

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individualmente. O que há, geralmente, é a possibilidade de cálculo a partir de parte dos functionings achieved (funcionamentos realizados). Isto significa que o elemento central da abordagem seniana dificilmente será avaliado na prática de forma completa.

Com relação ao uso do PIB ou da renda na inferência do progresso ou desenvolvimento humano, evidenciou -se apenas o que tem se consagrado na teoria; isto é, que embora a dimensão econômica seja importante, ela sozinha não basta. O crescimento econômico, usado como parâmetro para avaliações da condição humana por longo tempo, é uma só dimensão do desenvolvimento humano, que é mais abrangente .

Sobre o indicador de desenvolvimento humano (IDH) do PNUD, primeira tentativa a u ma avaliação da condição hum ana mais ampla que as focadas no PIB, concluiu-se partir da abordagem do desenvolvimento humano, que carrega em si a forma de pensar de Sen, pautada nas capabilities. Mas, o fato de serem as pessoas bastante diferentes entre si dificulta ou impossibilita d efinir quais são os functionings e capabilities fundamentais para uma política em prol do bem-estar, o que fica evidente nas críticas as dimensões e indicadores definidos para o IDH .

Sen defendeu a impossibilidade de escolha dos functionings essenciais dizendo que “um dos principais méritos da abordagem é a necessidade de tratar essas questões de julgamento de um modo explícito, em vez de escondê -las em alguma estrutura implícita” (SEN, 2000, p.95). Ou seja, ele explica que a incompletude característica de sua abordagem é mais convincente do que as teorias que, se fechando em um variável focal, restringem o campo de estudo de modo a contribuir muito pouco para análises do “mundo real”. No entanto, vale lembrar que Sen criticou Rawls exatamente pelo fato de que a diversidade entre os indivíduos não permitiria um consenso na escolha dos bens primários no estado inicial.

Além disso, dada a deficiência ou ausência de dados disponíveis, mesmo na existência de consenso, a captação dos

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functionings pode apresentar problemas numa avaliação social, tal

como se depreende da escolha de parte das variáveis do IDH .

É válido dizer que a simplicidade do IDH , trabalhando apenas com três dimensões, fez com que Ul Haq, Sen e os idealizadores desse indicador alcançassem seu obj etivo, que era desenvolver um indicador baseado no conceito de desenvolvimento humano, mas que rivalizasse com o PIB e tivesse ampla difusão. No entanto, é evidente que um indicador não é capaz representar o universo conceitual em que está imerso. Desse mo do, o IDH permite uma aproximação com a teoria, mas limita -se a apreensão de alguns poucos functionings achieved e não das capabilities.

Além disso, percebeu-se que saber apenas o valor do IDH de um país como se sabe o valor do PIB, representa muito pouco do que o RDH trouxe de conhecimento nos últimos vinte anos. O relatório de 2010, por exemplo, apresentou, além dos indicadores citados neste trabalho, uma profunda análise por sub-grupo (dimensão), montando um IDH híbrido que contemplou os velhos sub-índices e a nova forma de cálculo (média geométrica), analisando dados de 1970 até 2010, evidenciando tanto os progressos obtidos por grande parte dos países, quanto os problemas existentes; chegando a sugerir caminhos para que “a liberdade para buscar o esti lo de vida que se considera valioso” seja universal.

Por fim, concluiu-se que o IDH carrega em si a essência conceitual da abordagem seniana, mas por limitações tanto da teoria (a apreensão de capabilities para o indivíduo e, sobretudo, para a sociedade), quanto da prática (dificuldades com a escolha das variáveis e disponibilidades de dados confiáveis em grande escala ), se faz ainda necessário aprimoramento teórico e grande melhoria técnica para uma avaliação rigorosa do progresso humano e para uma compreensão mais ampla do bem-estar das pessoas, embora se perceba que nos últimos vinte anos já se fez grandes progressos nessa área.

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