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A posse da terra foi e continua sendo a posse de um bem que se valoriza não a partir do trabalho humano, o trabalho das mãos, mas sim como um bem que se valoriza e tem preço determinado a partir da lógica de acumulação capitalista. Trata-se da manutenção de uma dinâmica econômica baseada em “leis de mercado” que se estabelecem na produção da moradia. Busca-se a rentabilidade a partir de invenções e diferenciações que suscitam o consumo crescente. Isso se faz também na produção espacial, consequentemente, vê-se a expansão dos padrões que correspondem a elementos de segregação, distanciando-se do que se pretende e espera na conformação de uma cidade mais igualitária.

Essa cidade que se fragmenta e segrega é fruto de práticas em que ainda predominam os anseios e desejos das classes mais abastadas, daqueles que possuem alguma influencia política e/ou econômica em detrimento dos anseios e demandas sociais. Isso não é recente em nossa história, pelo contrário, continua se reproduzindo uma dinâmica de dominação entre classes que, agora, num contexto de consumismo mascarado em uma falsa igualdade de direitos, onde na verdade, significa apenas o crescimento do consumo e com isso a reprodução do capital, disseminam-se e expandem-se produtos como condomínios fechados.

Assim, o trabalho caminhou para algumas reflexões tendo os condomínios e loteamentos fechados como um dispositivo de diferenciação, criados pelo mercado imobiliário a fim de captar renda e mais valia da terra urbana. Pode-se, inclusive, criar um espaço sem qualidade arquitetônica e urbanística, mas que é vendido como corresponde ao discurso de falta de segurança, como o que é tão difundido quando da implantação de um condomínio fechado.

Visto a crescente expansão desse tipo de habitação, isso só reitera o que vem se discutindo no decorrer do trabalho. A questão do consumo de um padrão que só gera ganhos para seu investidor e empreendedor e que acaba por separar ainda mais as pessoas e a construir um espaço urbano cada vez mais segregado e fechado entre si. Este processo em São Carlos teve início em 1976, quando da implantação do Parque Sabará, situado nas proximidades da rodovia Washington Luís.

pautada na segregação. Interesses dos detentores da posse da terra moldaram a produção do espaço de acordo com a acumulação capitalista, o que resultou e ainda resulta em práticas de fragmentação do espaço. Esta condição de domínio da terra é observada ainda hoje, mais precisamente na produção dos parcelamentos urbanos do tipo condomínio fechado. Cada vez mais áreas são objeto deste tipo de empreendimento gerando verdadeiros complexos habitacionais voltados à reafirmação do status de seus adquirentes. Trata-se de uma diferenciação que se expressa como segregação.

Com o trabalho, foi possível perceber as várias formas de condomínios existentes na cidade de São Carlos, bem como sua localização e características gerais, como os dispositivos de segurança, reiteram o discurso de bem viver nessas configurações habitacionais. É interessante observar como as dimensões destes empreendimentos variam, e são voltados a diferentes padrões socioeconômicos.

Analisando-se o período de estudo, desde o primeiro loteamento fechado – o Parque Sabará – até o presente momento, verifica-se a expansão da área urbana nas bordas da cidade, em alguns casos ultrapassando o perímetro urbano estabelecido. Isso gera massas de padrões socioeconômicos homogêneos dentro de um mesmo perímetro. Essa produção que se intensificou na última década se ampara numa dinâmica de valorização de conceitos de controle do espaço e do conceito de enclausuramento como opção à falta de segurança. Assim, os benefícios da expansão urbana, que deveria se estender a todos através do provimento de áreas de lazer ou institucionais voltadas às necessidades gerais da população não se verifica. Percebe-se apenas o ônus, uma vez que a administração e serviços públicos devem ser estendidos a áreas cada vez mais distantes.

Mesmo que sejam executadas obras de infraestrutura como contrapartida para a implantação de condomínios e loteamentos fechados, isso não pode ser visto como artifício para solução de problemas urbanos. É preciso atentar para a valorização da terra pela implantação destes condomínios que representam grandes ganhos para o mercado imobiliário. Essa valorização deve ser aproveitada pela administração pública, ou seja, a aplicação de um ônus maior para a implantação deste tipo de empreendimento pode ser uma alternativa.

Não se deve ignorar que a expansão destes espaços fechados é a privatização do que é de caráter público. É a disseminação de uma imagem baseada que se quer vender como ideário urbano de moradia, ignorando as diversidades sociais e caminhando para o

acirramento das tensões sociais. Esse cenário se intensifica a partir da conivência das administrações públicas que os encaram como fonte de investimentos, dos financiamentos voltados à moradia e da disseminação de conceitos como o enclausuramento como fuga aos problemas urbanos.

Então, não se trata mais de um produto voltado apenas às classes mais ricas, como quando de seu surgimento. Guardadas as devidas proporções e características físicas, os condomínios fechados são uma mercadoria ofertada a toda população, podendo estar situado nas bordas da malha urbana ou inserida nesta. O exclusivismo e diferenciação se tratam de um desejo partilhado não apenas pela elite, mas por uma gama de consumidores independente de sua classe.

Esse processo crescente de busca por moradias em espaços fechados acentua a produção espacial marcada pela fragmentação, pelo predomínio do consumo, pela preferência pelo espaço restrito ao espaço público, e se apóia no marketing do medo e da violência. Diante desse cenário, é importante debater e resgatar os valores de convivência entre diferentes e de rua como espaço livre e destinado a todos, que rompe com esse ideário qualidade de vida associada a uma vivência intramuros.

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