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Antes de encerrar este “documento”, julgamos pertinente tecer alguns comentários a respeito das virtudes e fraquezas do trabalho realizado e da pretensão de sua contribuição para o desenvolvimento de sistemas de produção de leite melhores.

5.1. Considerações gerais sobre o trabalho.

Inicialmente, é preciso comentar que a proposta do trabalho, desde o início foi buscar avaliações de cunho experimental, mas o mais próximas da realidade dos sistemas de produção quanto fossem possíveis. O critério de suplementação adotado (1 kg de concentrado a cada 3 litros de leite in natura produzidos acima dos 15 litros), por exemplo, foi adotado neste contexto, pois, de longa data, já vinha sendo utilizado no rebanho experimental. Buscou- se a avaliação de animais diversos em relação ao estágio de lactação, uma vez que, na prática, coexistem nos sistemas de produção e o estudo foi limitado a um curto período produtivo do calendário agrícola onde se utilizam pastagens de inverno como recurso forrageiro principal e onde os animais são sujeitos à variações importantes na disponibilidade de nutrientes colhíveis do pasto. Esta realidade, inevitavelmente complexa, causa confundimentos em grande parte das variáveis tradicionalmente sujeitas às análises estatísticas em experimentos e suas respostas nem sempre são suficientemente claras. O conhecimento gerado nestas situações não deve ser menosprezado, mas valorizado como demanda de estudos mais criteriosos e conclusivos no futuro.

No exterior (a citar Estados Unidos, Irlanda e Nova Zelândia), vários autores têm estudado a influência dos recursos genéticos de bovinos leiteiros em diversos sistemas de produção. Nos experimentos onde os rebanhos têm sido alimentados predominantemente a pasto, tem sido utilizadas vacas com potenciais de produção de leite determinado, com avaliações de um grande número de animais (num mesmo rebanho ou em rebanhos distintos), com rebanhos submetidos à estacionalidade de parições (concentrada em épocas de maior disponibilidade de forragens) e com animais mais ‘uniformes’ quanto ao estágio de lactação, pastejando plantas forrageiras menos sujeitas à estacionalidade produtiva, alterações estruturais e de composição química e, principalmente, com registros mais eficientes e automatizados das variáveis a serem estudadas. As respostas, então, têm sido obtidas através

da abordagem meta-analítica de grandes conjuntos de dados e, mesmo nestas condições, as respostas não tem sido definitivas, claras ou conclusivas (vide Thaler Neto, 2011).

Poucos são os estudos nesta temática no Sul do Brasil, justamente pela amplitude de fatores influentes nas respostas dos animais e dos sistemas de produção como um todo, na dificuldade em planejar, financiar, executar e registrar resultados em experimentos e, principalmente, definir variáveis conclusivas e claras. Cabe citar, também, que grandes são os desafios no trabalho com produção em bovinos leiteiros, principalmente quanto às infra- estruturas e recursos (financeiros e humanos) das instituições que a isso se dispõem. Não se pode, porém, se eximir da responsabilidade de estudar temáticas que se acredita serem relevantes, apesar das dificuldades. A exemplo de outras áreas do conhecimento zootécnico - a citar Lovatto et al. (2007) e Pötter (2008) - a abordagem meta-analítica pode trazer grandes contribuições à análise de sistemas de produção de leite (e não somente quanto ao uso dos recursos genéticos dos animais) mas, para isso, maior volume de dados tem que ser armazenado. Além disso, se faz necessária a aproximação desta coleta de dados em sistemas de produção realistas, executando avaliações igualmente científicas, mas com protocolos experimentais mais flexíveis. Aos interessados, as matrizes e alguns dados originais obtidos neste estudo estão disponíveis para consulta nos anexos. Os autores ficam também disponíveis para a colaboração em outros estudos.

5.2. Considerações sobre os procedimentos experimentais e sugestões para trabalhos futuros.

Vários trabalhos estão disponíveis, na literatura, a respeito do comportamento ingestivo de ruminantes em pastejo. Contudo, raros são aqueles que relacionam as variáveis comportamentais às de consumo de forragem e/ou desempenho produtivo. Não há dúvidas quanto à importância de inter-relacionar tais assuntos a fim de definir (de forma substancial) critérios de manejo do pasto mais adequados a partir das variáveis comportamentais. Contudo, boa parte das iniciativas de pesquisa esbarra nas dificuldades já comentadas, especialmente no que diz respeito à disponibilidade de recursos humanos para tais avaliações (que são laboriosas) e/ou de animais experimentais adequados. No presente estudo, foram avaliadas as variáveis comportamentais de apenas duas vacas em cada estágio de lactação e raça (num total de oito vacas por raça), pela limitação de recursos humanos (ou tecnológicos) para avaliar maior número de animais. Alternativamente, para trabalhos futuros, pode ser sugerida

a realização de maior número de períodos de avaliação comportamental (repetições no tempo), por dependerem essencialmente da disponibilidade de recursos humanos. Dados climáticos, sempre que disponíveis, podem ser relacionados ao desempenho de animais de raças leiteiras assim como o monitoramento da temperatura corporal, mas estes efeitos devem ser mais evidentes nas épocas mais quentes do ano (verão/outono).

A curta duração de experimentos com vacas em lactação e em pastejo direto, assim como o a avaliação de parâmetros reprodutivos destes animais, também são desafios a serem superados pela pesquisa zootécnica. Embora nem sempre sejam possíveis, períodos de avaliação mais longos devem ser procurados de forma que possam representar melhor as realidades das propriedades rurais. Da mesma forma, avaliações relativas ao desempenho reprodutivo das vacas devem ser procuradas e, entre elas, podemos citar o acompanhamento dos escores de condição e/ou peso corporal dos animais, dos níveis hormonais e/ou da composição do leite (p.e. a uréia), entre outros.

Por fim, alguns cuidados devem ser tomados quando o uso do óxido de cromo como indicador de consumo de forragem de animais em pastejo for adotado. Entre eles, cabe citar:

a) o correto e efetivo fornecimento do óxido de cromo aos animais – o condicionamento em cápsulas de gelatina dura mostrou-se bastante prático e eficaz no fornecimento misturado ao concentrado fornecido aos animais, uma vez que não foi observada rejeição das cápsulas pelos animais ou diminuição do consumo de concentrado pela baixa palatabilidade do óxido de cromo;

b) a coleta e ao armazenamento das amostras de fezes coletadas;

c) a determinação exata do peso dos animais (no caso da expressão do consumo em % do peso vivo) – mesmo com a possibilidade de fazer tal medida em balança mecânica, sua determinação exata não é tarefa fácil dado que dificilmente se pratica o jejum prévio nos animais e que grande variação pode ocorrer no conteúdo ruminal e das cisternas dos tetos ao longo do dia. Como alternativa, sugere-se a pesagem dos animais sempre após a ordenha da manhã e durante 2 a 3 dias consecutivos, optando-se pelo menor peso registrado para cada animal. Caso os animais recebam suplemento de forma controlada antes da pesagem, o valor pode ser descontado. A pesagem com fita métrica, baseada no perímetro torácico do animal, está sujeita a maior fonte de erro. Pode-se sugerir a medição sempre pelo mesmo avaliador, a determinação conjunta do escore de condição corporal ou a calibração a partir de regressões obtidas com outros animais de escore corporal semelhante, pesados em balança mecânica e medidos, concomitantemente.

d) a maior exatidão possível na representatividade das amostras de forragem obtidas por simulação de pastejo, pois irá influenciar diretamente na estimativa do consumo de alimento pelo animal. Sugere-se, para isso, coletar várias amostras, especialmente durante os dias das coletas de fezes, ao longo do período de ocupação dos piquetes (no caso de lotação intermitente) e nos horários de maior atividade de pastejo.

e) a determinação da taxa de recuperação do cromo nas fezes – outra medida de grande influência nos resultados de consumo de forragem e que, sempre que possível, deve ser determinada em condições semelhantes em que o experimento é conduzido.