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Com a vitória de Luiz Cavalcante para o governo, Alagoas entrava definitivamente na rota da conspiração que culminou com o golpe civil-militar de abril de 1964. O major Luiz, além de nunca esconder publicamente seu perfil anticomunista, era ligado ao Instituto de Pesquisa e Social (IPES) e ao Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), órgãos fomentadores do golpe. Não por menos, Alagoas foi um dos primeiros estados do Brasil a reconhecer o golpe, afinal possuía terreno propício para isto:

Nessa perspectiva, o discurso anticomunista da Igreja Católica, propalado durante décadas, contribuiu para a incorporação de um imaginário pela sociedade que propiciou, diante da ameaça comunista, uma recepção positiva ao golpe e ao regime militar por parte de grande parte da população. Essa recepção positiva perduraria de forma hegemônica pelo menos até a década de 1970, a despeito da ação de setores organizados da sociedade civil, inclusive no interior da própria Igreja Católica.562

Um das principais medidas do governador Luiz Cavalcante foi a tentativa de passar a imagem de que seu governo também tinha a intenção de realizar algumas reformas. Todavia, dentro da legalidade, ao contrário da ala mais radical ligada a João Goulart. Dentro desta perspectiva, o governador inicia, já em 1961, um projeto para assentar algumas famílias de trabalhadores rurais em Maceió e Rio Largo, buscando não só mostrar ser possível realizar a reforma agrária na lei e na ordem, como também procurava demonstrar interesse em realizá- la. A direita alagoana, assim, atingia o presidente João Goulart e a esquerda como um todo. Por outro lado, o intuito do governador não era apenas “criticar” o presidente. O objetivo maior de Luiz Cavalcante era o controle dos movimentos sociais camponeses, principalmente após o advento das Ligas Camponesas em Pernambuco e o aumento das lutas no campo em todo país de forma geral. Buscando evitar conflitos em Alagoas, são feitos assentamentos de famílias em terras pertencentes ao próprio estado ou em áreas controladas pela agroindústria do açúcar, tudo sob a chancela do complexo IPES/IBAD. Desta maneira, a concentração fundiária em Alagoas permanecia praticamente inalterada e a reforma agrária era completamente controlada pelo governo, evitando maiores “problemas”.

Ao mesmo tempo, a esquerda tentava se organizar após o fracasso do pleito de 1960. Seus militantes procuraram ampliar a força dos sindicatos urbanos, além de tentar criar e organizar os sindicatos rurais – mesmo em condições adversas –, conforme vimos no depoimento de Rubens Colaço.

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MEDEIROS, Fernando. O homo inimicus: Igreja católica, ação social e imaginário anticomunista em

Com o retorno da direita ao poder e a intensificação da repressão, os comunistas se viravam como podiam, sempre muito perseguidos, necessitando de extrema cautela em suas ações. Além disto, a direita preocupava-se também com o que ocorria fora dos limites geográficos de Alagoas.

Coisa nova mesmo, entre as elites, só um temor “preventivo” pelas possíveis e prováveis influências esquerdizantes vindas do grande vizinho, o estado de Pernambuco, governado pelo “subversivo” Miguel Arraes. Esse receio do que poderia vir do Norte talvez tenha sido responsável pela maior mobilização civil nas vésperas do dia do golpe.563

Aumentavam por Maceió boatos sobre um trem “se deslocando desde o Recife com destino a Maceió, conduzindo tropas (ou ‘guerrilheiros’) arregimentadas por Miguel Arraes”, causando apreensão entre as elites, deixando-as em alerta. Tudo não passou de um boato, não havendo reação. “Os primeiros dias de abril de 1964 não produziram tiroteios ou duelos mortais em Alagoas”.564 Consumado o golpe, a esquerda alagoana é desmantelada.

Ocasionalmente, houve erros. De estratégia, de atuação, de ação. O jogo político- partidário e as determinações do Comitê Central “obrigaram” os comunistas alagoanos a aliar- se com antigos inimigos, em nome do nacionalismo e da democracia. Por outro lado, também existiram acertos, vários. Nenhum outro partido ou agremiação política esteve tanto ao lado dos trabalhadores de Alagoas. Era no PCB onde militava uma parcela significativa destes operários e era através do seu jornal, A Voz do Povo, que eles se informavam.

O corte temporal no qual este trabalho está inserido (1945-1964) foi de uma riqueza ímpar para a classe trabalhadora em todo país. Da mesma forma, foi o auge do PCB em todos os sentidos: organização, militância, influência, participação política e número de filiados. Em Alagoas, como vimos, os comunistas chegaram a eleger – pela primeira e única vez – três membros para a conservadora Assembleia Legislativa. Tanto este como os outros vários exemplos dados neste trabalho devem contribuir para desmistificar as ações dos comunistas e para repensar o papel do partido na política alagoana.

Após termos exposto e debatido na Introdução com as principais fontes utilizadas nesta dissertação, explicitamos no primeiro capítulo a conjuntura política de Alagoas no período enfocado. Para isto, foi necessário esmiuçar o clima eleitoral de 1947, quando o PCB conseguiu eleger sua primeira e única bancada na Assembleia Legislativa. Mostrar onde os comunistas conseguiram seus votos foi o primeiro indício da relação do partido com a classe

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LINS, Enio. Alagoas: Pastoril de trágicas jornadas. 2008, p. 6.

trabalhadora. Foi neste capítulo também que observamos o PCB em dois momentos distintos: perseguidos pelo Executivo e, em seguida, aliado ao governo. No segundo capítulo o destaque é o próprio partido no estado: as origens, a organização social e a distribuição espacial dos comunistas, demonstrando o considerável alcance do PCB em terras alagoanas, rebatendo antigas concepções ainda cristalizadas na historiografia local. Por fim, no terceiro e último capítulo, analisamos a relação dos comunistas com sua base: a classe operária. Para isto, selecionamos quatro enfoques distintos: o dia a dia da militância, o julgamento de operários na Justiça do Trabalho por serem comunistas, a atuação do PCB dentro de um sindicato e a representação operária no jornal oficial do partido.

Acreditamos ter demonstrado como se estruturava o PCB em Alagoas e toda a sua influência dentro da classe trabalhadora, não ficando à margem do movimento comunista geral. O PCB alagoano provavelmente teve um número significativo de militantes e ainda maior de simpatizantes. Sua militância foi primordial na organização do movimento operário e na composição das lutas contra a opressão patronal e estatal. Sua estrutura interna, com células nos bairros mais populares da capital e em cidades fabris, foi decisiva para o recrutamento de novos quadros. A presença de comunistas em praticamente todas as fábricas têxteis de Alagoas (maiores aglomerações operárias) mostra o alcance do PCB e seu importante trabalho nas bases, não se dedicando exclusivamente ao cupulismo sindical.

Por fim, fica a indicação de que a documentação utilizada nesta dissertação pode (e deve) render outras pesquisas e trabalhos tanto nesta como em outras temáticas. A pesquisa histórica em Alagoas já anda a passos largos. Ainda assim, há muito que se pesquisar acerca de comunistas, trabalhadores e sobre o próprio período democrático no estado. Todavia, temos a mais absoluta certeza que os primeiros passos dados antes desta dissertação estão bem consolidados e muito ainda há de vir pela frente. Na História de Alagoas, o passado já tem seu futuro garantido...

FONTES

I – Jornal

• A Voz do Povo (Maceió) – 1951/1954-1964;

• Diário Oficial do Estado de Alagoas (Maceió) – 1947.

II – Processos Trabalhistas • Processo nº 87/51; • Processo nº 109/51; • Processo nº 135/51.

III – Documentação da DOPSE • Fichas Pessoais (s/d);

• Pasta Estados 02 – Alagoas (cx. 605).

IV – Outras fontes impressas

• IBGE: Censo Demográfico de 1950 – Alagoas (tomos I e II); • IBGE: Censo Demográfico de 1960 – Alagoas e Sergipe;

• IBGE: Censo Industrial de 1960 – Paraíba, Pernambuco e Alagoas;

• Livro de atas do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Têxtil de Fernão Velho – 1953- 1962.