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CAPÍTULO IV: CONSIDERAÇÕES FINAIS, APRENDIZAGENS E LIMITAÇÕES

4.1. Considerações finais

Com o trabalho desenvolvido nas Práticas de Ensino Supervisionadas I e II, foi possível compreender a importância e a pertinência da interação precoce, e contínua, das crianças com a literatura para a infância, em concreto com uma tipologia peculiar: os numerários. Os numerários representam uma tipologia literária bastante específica e com inúmeras potencialidades de aprendizagem. Através da leitura e exploração destes objetos literários, podemos potenciar o desenvolvimento da numeracia das crianças, a apropriação do sentido de número, além de favorecermos, também, o desenvolvimento da capacidade de associar os números à sua quantidade respetiva. O desenvolvimento destas competências e capacidades é alavancado pela exploração, consecutiva e consistente, de diversos numerários. Esta exploração pode integrar diálogos significativos, jogos corporais, atividades de expressão plástica, entre outros. Não nos devemos restringir apenas à leitura expressiva da obra, apesar de esta ser imprescindível ou fundamental. É necessário explorar o seu conteúdo e dinamizar atividades lúdicas, divertidas e significativas com as crianças. Desta forma, conseguimos auxiliar o desenvolvimento de diversas competências, como a numeracia, e não só, através da literatura para a infância, em específico os numerários.

Para além disso, promover o contacto das crianças com os livros e a literatura para a infância, em geral, permite construir e desenvolver o hábito leitor da criança, obtido através de momentos agradáveis e prazerosos que criamos na sala com as crianças. Enquanto mediadora da leitura, considero que um dos fatores mais importantes neste processo é a seleção das obras literárias que são aproximadas das crianças. As obras devem conter um texto verbal de qualidade, tanto no que diz respeito à temática ficcionalizada, que deve despertar o interesse do grupo, como no que concerne aos mecanismos técnico-expressivos que caracterizam o discurso, uma forte e apelativa componente ilustrativa, bem como, do ponto de vista gráfico ou do design, uma configuração original ou criativa que motive, por exemplo, ao toque ou à manipulação física autónoma ou ao manuseio livre por parte do potencial destinatário. Uma outra estratégia de promoção da leitura utilizada foi a ludicidade, ou seja, a valorização do livro ou do texto verbo- icónico como jogo e com um intuito, antes de mais, fruitivo. No decurso de toda a prática, este foi um aspeto bastante relevante e que se revelou imprescindível no contacto que as crianças estabelecem com o livro, sendo que foram utilizados alguns materiais lúdicos – designadamente e como mencionámos, fantoches - para dinamizar os momentos de leitura e exploração das obras.

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Um dos aspetos cruciais do projeto desenvolvido com as crianças, principalmente no contexto do pré-escolar, foi a questão das competências sociais. Promover o desenvolvimento das competências sociais do grupo através da literatura para a infância, ou seja, através da exploração de obras literárias, de numerários, da dinamização de atividades lúdicas relacionadas com as obras, foi extremamente prazeroso e revelador da influência que a literatura pode ter no desenvolvimento destas, e de outras, competências. Tal como já foi referido, a literatura para a infância assume-se como um dos melhores instrumentos disponíveis para proporcionar às crianças a possibilidade de se tornarem cidadãos mais cultos, críticos e competentes. Sabendo que uma das funções da literatura e dos livros é formar a criança e transmitir-lhe valores, esta é a maior aliada no desenvolvimento das competências sociais das crianças. A literatura para a infância permite um contacto com diversos exemplos de atitudes corretas, promotoras do desenvolvimento das competências sociais do grupo. No decurso do projeto, foram explorados diversos numerários e foi explorado e potenciado o desenvolvimento das competências sociais das crianças, sendo que a interligação entre estas duas questões se tornou mais evidente e significativa quando se elaborou o numerário do grupo (e o numerário digital, no 1º ciclo). Este foi um numerário criado pelas próprias crianças e que permitiu estabelecer uma ligação bastante interessante entre estes dois núcleos, sendo esta bastante enriquecedora e significativa para todos.

Ao longo de todas as atividades do projeto desenvolvidas com as crianças, foi notório um grande envolvimento e entusiasmo, mesmo com as crianças do 1º ciclo no regime de ensino à distância. Os numerários explorados e as dinâmicas realizadas, sendo estas relacionadas com as competências sociais, foram sempre bem recebidas, por parte das crianças, que estavam sempre dispostas e entusiasmadas com a realização das atividades propostas, qualquer que fosse a temática. Ainda assim, a atividade mais significativa e enriquecedora foi quando as crianças viram/receberam o seu numerário, ou seja, o numerário elaborado pelo grupo/turma. No contexto de pré-escolar, sendo que a elaboração do numerário requereu imenso tempo e trabalho, as crianças ficaram bastante animadas ao ver o resultado e ao perceberem que o mesmo resultou de um trabalho cooperativo, no qual todos foram essenciais. As crianças efetuaram, de imediato, a ligação entre o numerário e um objeto que tinham na sala, que era o dado das “ações mágicas”, sendo que este dado era o maior impulsionador do desenvolvimento das competências sociais das crianças. No contexto do 1º ciclo, a dinâmica do projeto foi um pouco diferente, mas isso não diminuiu o impacto que o numerário teve na turma. Ao longo das sessões do projeto, os alunos demonstraram-se bastante motivados e estavam extremamente ansiosos por ver o resultado do

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seu numerário digital (é um numerário digital, pois esta foi a adaptação que nos pareceu mais adequada). As reações e respostas obtidas foram bastante positivas e, sabendo que os alunos nunca tinham estado envolvidos em nenhuma atividade do género, não podíamos estar mais satisfeitas com o resultado.

Como forma de compreender o impacto e pertinência do projeto de intervenção, e até mesmo da prática pedagógica desenvolvida, foram realizadas entrevistas informais, no contexto pré-escolar, e um questionário online, no contexto de 1º ciclo. Apesar de ter sido observado o empenho, dedicação e envolvimento das crianças no decurso das práticas, estes instrumentos (entrevistas e questionário) permitiram constatar que os objetivos do projeto de intervenção foram atingidos com sucesso.

Posto isto, reafirma-se a pertinência da elaboração do numerário do grupo/turma, sendo este um objeto que resulta de uma combinação de atividades lúdicas, significativas e enriquecedoras para as crianças. De facto, o numerário que as crianças elaboraram é extremamente importante para as mesmas, primeiramente porque é algo próprio ou pessoal, feito por elas, e, depois, porque resulta de uma sequência lógica de atividades, tornando o numerário ainda mais significativo e enriquecedor.

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