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CAPÍTULO VII – CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPETIVAS FUTURAS

7.1 Considerações finais

CAPÍTULO VII – CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPETIVAS FUTURAS

7.1 Considerações finais

Tendo por base toda a pesquisa bibliográfica efetuada com o intuito de fundamentar a presente dissertação, foi possível constatar que existe uma grande diversidade de estudos realizados no sentido de se apurarem os mecanismos de ação e as potencialidades da cafeína. De facto, esta substância apresenta caraterísticas de bastante interesse sob o ponto de vista fisiológico, tais como, a sua rápida e eficiente absorção através do trato gastrointestinal, a elevada biodisponibilidade, a sua capacidade de alcançar a corrente sanguínea e de interagir ao nível do córtex cerebral. Estes aspetos suscitam um grande interesse por parte das indústrias farmacêuticas no fabrico de medicamentos e de suplementos que contenham cafeína na sua constituição.

Com o intuito de se avaliar a influência da cafeína ao nível do controlo postural numa situação estática, analisaram-se registos de plataforma de forças num intervalo de 40 segundos, em duas condições: antes e após o consumo da substância. Foi possível concluir que, após o consumo, se regista um ligeiro aumento dos valores médios e de desvio-padrão de todas as variáveis em estudo. De forma a avaliar a significância desses aumentos, foram aplicados testes estatísticos que permitiram concluir que, de facto a única variável que apresenta diferenças significativas entre as duas condições é a velocidade média na direção medio-lateral. Assim sendo, existe a probabilidade de que o aumento dos valores médios das restantes variáveis resulte apenas da maior variabilidade dos valores registados, traduzida pelo aumento do desvio-padrão. Ainda em relação ao estudo das variáveis de estabilometria, verificou-se que tanto antes como após o consumo da substância, existem maiores oscilações na direção antero-posterior do que na direção médio-lateral.

A influência da cafeína foi estudada através do registo de eletromiografia em situação estática, seguida de uma situação dinâmica de início de marcha. Para cada um dos músculos em estudo, normalizaram-se os valores de atividade em relação ao pico máximo e calcularam-se as percentagens médias de atividade muscular. Através dos valores de significância calculados para cada variável, conclui-se que não existe nenhuma alteração significativa entre os valores médios de atividade muscular antes e após o consumo de cafeína, na situação estudada.

A existência de ajustes posturais antecipatórios (APAs) foi analisada através da associação dos registos de estabilometria e eletromiografia recolhidos em simultâneo. Considera-se que há existência de APAs quando se verifica um aumento de atividade muscular significativo no intervalo de tempo dos -100 aos +50 ms a partir de t0, instante de início de marcha. Existem

várias formas de se analisar a existência de APAs, no entanto, optou-se por fazer a normalização em relação à atividade basal de cada um dos músculos em estudo. Foi possível concluir que, após o consumo de cafeína se registaram menores percentagens de APAs em todos os músculos analisados, com exceção do solear direito. O músculo gastrocnémio foi o que apresentou maior percentagem de APAs em ambos os membros, e pelo contrário, o músculo solear foi aquele em que se efetuaram menos ajustes. Estes resultados podem ser interpretados pelo facto do músculo gastrocnémio medial ser fásico, constituído maioritariamente por fibras musculares do tipo II de contração rápida, e por isso ser mais requisitado em situações de movimento (dinâmicas). Por outro lado, a existência de poucos ajustes no músculo solear direito e esquerdo justifica-se por ser um músculo postural (tónico), daí ser mais solicitado para a manutenção do equilíbrio corporal na fase estática (antes do movimento). Verificou-se também que, após consumo, nenhum dos indivíduos efetuou ajustes no músculo tibial anterior, direito e esquerdo, antes de iniciar o movimento de marcha. No que diz respeito ao padrão predominante da atividade muscular na iniciação da marcha, vários estudos evidenciam que esta se carateriza pela inibição bilateral do músculo solear, seguida de uma ativação bilateral do músculo tibial anterior. Esta informação relaciona-se com os resultados obtidos, uma vez que, sob o efeito de cafeína, a inexistência de APAs nos músculos tibiais anteriores revela uma maior prontidão para desencadear o movimento.

Uma vez detetadas estas alterações ao nível da fase de ajustes, e de forma a consolidar a análise de resultados obtidos, averiguou-se se estas seriam consequência do efeito da substância sobre o organismo, ou se poderiam resultar apenas de alguma influência ao nível da atividade muscular basal. Para isso, foram estudados os valores basais médios de cada músculo, concluindo-se que o efeito da cafeína não se manifesta ao nível da atividade basal recrutada em cada uma das condições, com e sem cafeína. Uma vez despistada esta possibilidade, é possível afirmar-se que a menor percentagem de APAs advém do consumo de cafeína. Sob o efeito da substância, os músculos têm uma menor necessidade de efetuar reajustes posturais antes de se iniciar um movimento, ou seja, o corpo encontra-se mais preparado para reagir a uma perturbação ou distúrbio de equilíbrio. Tal facto vem de encontro à opinião de vários autores que defendem que a cafeína possui um mecanismo de ação central e periférica que desencadeia importantes alterações metabólicas e fisiológicas, que por sua vez resultam na melhoria do desempenho físico.

Em suma, com o presente trabalho concluiu-se que a dose de cafeína adotada neste procedimento experimental não se manifesta ao nível das oscilações corporais em posição estática, nem na atividade muscular em situação dinâmica, no entanto, os seus efeitos são

notórios ao nível da prontidão que o organismo demonstra para reagir, o que se conclui pela diminuição da percentagem de ajustes posturais antecipatórios registados.

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