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O CONSUMO DE PRODUTOS AGROECOLÓGICOS NA FOPNRB EM RIO BRANCO-AC

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A trajetória de conversão dos agricultores da Região do baixo Acre para sistemas agroecológicos de produção apresenta dificuldades devido à fragilidade das políticas públicas para o setor. Faltam recursos e políticas para a continuidade do projeto implantação da agroecologia no Acre iniciada em 1997 e para o financiamento do processo de conversão e certificação dos agricultores agroecológicos da Região do baixo Acre. Foram detectados os gargalos em diversos pontos do arranjo produtivo local dos produtos agroecológicos no Acre que colaboram para limitar a expansão da agroecologia região.

O número de agricultores agroecológicos do Acre tende a crescer, mesmo com tendência de queda nos investimentos no setor. Os principais fatores que podem alavancar a expansão da agroecologia no Acre se refere à organização dos agricultores, planejamento das unidades produtivas, envolvimento real das instituições no setor, engajamento do setor público e privado.

O Acre apresenta características edafoclimáticas desejáveis que possibilitam o desenvolvimento satisfatório de agricultura de base ecológica. No entanto, necessita de resultados de pesquisas, voltadas para as características dos agricultores e investimentos no arranjo produtivo local de produtos agroecológicos em produção e comercialização, além da divulgação cientifica dos resultados na melhoria da qualidade de vida e sustentabilidade dos ecossistemas.

A experiência de agricultura de base ecológica no Acre estudadas no Acre caminha rumo à noção teórica da agroecologia. As principais fontes de inspiração para o desenvolvimento das experiências foram as possibilidades de produzir alimentos mais seguros e saudáveis todos.

Os agricultores agroecológicos do Acre são tipicamente familiares, conservam de recursos genéticos devido à riqueza em agrobiodiversidade animal e vegetal presente nos diversos agroambientes que manejam. Por esta prestação de serviço ambiental de conservação da biodiversidade os agricultores deveriam ser remunerados pela sociedade civil. Apesar de seus baixos níveis de produtividades a agricultura familiar, como sistema de uso da terra deverá continuar a desempenhar importante papel nos

processos de colonização da Amazônia, mesmo que pressões ambientais provoquem redução no desmatamento na Amazônia.

Os agricultores familiares agroecológicos prestam inúmeros serviços ambientais como conservação da biodiversidade, ciclo hidrológico, fixação de carbono e outros elementos. Os agricultores agroecológicos convertem pequenos fragmentos florestais para a manutenção dos roçados em pequena escala e em muitos casos amplia a variabilidade genética via exposição de banco de sementes das capoeiras. O manejo de espécies agricultura vs. floresta, a regeneração de capoeiras e a manutenção de biodiversidade on farm são elementos chave para o reconhecimento para pagamento de serviços ambientais da conservação da biodiversidade aos agricultores da Amazônia.

O individualismo, a falta de organização dos agricultores familiares, dificuldades financeiras para ajustes requeridos para transição agroecológica e a vantagem empresarial na concorrência em alimentos básicos são fatores que limitam o avanço da agroecologia familiar no Acre. Observou-se ainda uma desarticulação e fragilidade das instituições envolvidas com a pequena produção agrícola de base ecológica na Região do baixo Acre é um fato que pode ser estendido a outras regiões da Amazônia.

A agroecologia no Acre é rentável mesmo com custo de produção mais elevado. Diversas facilidades no processo de comercialização como a venda direta e o ponto de venda privilegiado explicam o retorno financeiro positivo da atividade.

O movimento agroecológico do baixo Acre se caracteriza por criar espaços de vendas ou novos mercados para os produtos agroecológicos, é direcionado para um consumidor que valoriza a sustentabilidade, comprometido com as questões agrária, econômica, social e ambiental.

A consciência ecológica está se expandindo, notadamente entre os consumidores e agricultores familiares da Amazônia. A aproximação dos agricultores com o movimento ambiental e o novo modelo de agroecologia requer um processo de adaptação, aonde por um determinado período os modelos de produção serão incorporados a este novo modelo de agricultura. Percebe-se que seja de fora ou de dentro a consciência ecológica está vindo à tona entre os pequenos produtores da Amazônia.

A produção agroecológica exige novos paradigmas que requer a reorientação das instituições de ensino em agroecologia, pesquisa agropecuária aplicada e extensão rural. O principal motivo que limita o processo de mudança é de natureza política gerada pelo conflito ideológico existente entre o agronegócio e a agroecologia. Nota-se certa resistência às mudanças de paradigmas nas pessoas, instituições, estruturas de poder científico, administrativo e financeiro. A proposta de implantação da agricultura de base ecológica em muitos casos se opõe aos interesses imediatos de pessoas, instituições e de grandes indústrias do setor de insumos agrícolas convencionais.

Recentemente a agricultura familiar antes vista como mais um causador da destruição por parte do movimento ambientalista, passou a ser apontada como modelo para a região amazônica. Principalmente devido ao baixo uso de insumos e o uso de culturas perenes em alguns projetos na região consorciados em sistemas agroflorestais.

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