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Diante de todos os termos firmados no TAC e o desempenho revelado pelo MP e o ente municipal, percebe-se que houve uma contribuição efetiva do ajustamento na proteção do bem ambiental. Mais do que restaurar a mata ciliar, o ajustamento auxiliou na mitigação do dano ambiental quando atuou de forma preventiva e precaucional.

Por certo que mitigar o dano relaciona-se com os riscos concretos e abstratos que permeiam as escolhas tomadas com as medidas protetivas. Ao tratar da restauração da mata ciliar e da proteção das áreas já existentes o risco concreto releva-se na maior previsibilidade de ocorrência do dano diante do conhecimento científico. A capacidade de calcular o potencial de transformação do risco em dano efetivo relaciona-se integralmente com a ideia de prevenção. Indo além, a teoria do risco concreto inova para um risco abstrato diante da própria evolução da sociedade contemporânea. Vive-se em uma época social na qual a solidariedade do medo emerge e torna-se uma força política. Estes riscos abstratos são demarcados pela invisibilidade, globalidade e imprevisibilidade. Não há certeza quanto às consequências ambientais que surgem deles.

Ainda que os riscos abstratos sejam verificados mais facilmente nas inovações tecnológicas, a recuperação da mata ciliar atua de forma precaucional em relação a diversos danos que podem ocorrer. Ao listar os benefícios trazidos com a restauração da mata, tem-se que a proteção do bem ambiental atuou também de forma precaucional em relação a danos.

Aqui não se trata de riscos facilmente identificados pelos conhecimentos científicos, mas daqueles que podem gerar consequências danosas que são analisados sob a ótica da incerteza. Trata-se portanto da ideia de atuação precaucional frente aos riscos que fogem ao conhecimento científico atual.

Não basta apenas garantir que as consequências imediatas do risco não ocorram, é preciso mitigar o dano ambiental de tal forma que os malefícios para as gerações futuras também sejam evitados. Ao garantir que a mata ciliar seja restaurada e preservada, a ideia da proteção preventiva atinge os danos ambientais conhecidos e aqueles em que ainda há a incerteza científica, que são igualmente importantes.

Esta ideia de responsabilidade preventiva faz com que o risco nesta sociedade contemporânea seja vista como uma maneira de constituição de formas para a representação do futuro e para produzir vínculos com o futuro. Assim, o que se busca agora é um meio de controlar os atos humanos presentes para que se controle as consequências futuras.

fins econômicos e degradassem algumas áreas. Diante da degradação “necessária” para o desenvolvimento econômico, surgiram os riscos de que a degradação daquela área resultasse em danos ambientais graves e talvez irreversíveis se não fossem estancados.

No caso concreto, a verificação da situação no local deu-se a partir de alguns parâmetros orientadores para as decisões preventivas em relação ao dano ambiental. O parecer emitido pelos profissionais técnicos habilitados do MP serviu de base para a tomada de decisões com o firmamento do TAC com o ente municipal e, posteriormente, com os ribeirinhos.

Para permitir um gerenciamento dos riscos atuais, deve-se considerar as incertezas em relação ao futuro com base na probabilidade e magnitude dos danos. Assim, pondera-se a probabilidade de um dano correr em razão do risco presenciado e a gravidade ou mesmo a irreversibilidade do dano caso se concretize no futuro.

Calcada na ideia de probabilidade/improbabilidade, os riscos da sociedade atual são analisados e ponderados de tal forma que se verifique a atuação de forma preventiva com a determinação de obrigações de fazer e não fazer para evitar a concretização futura do dano.

A atuação preventiva e precaucional por meio do TAC traduz-se em uma decisão de proteção atual para evitar e recuperar a degradação ambiental para as futuras gerações. A escolha de medidas preventivas firmadas com o ajustamento fazem com que a proteção do meio ambiente enfoque não apenas o presente, mas a possibilidade de ocorrência de danos ambientais no futuro.

Os riscos ponderados para que o ajustamento fosse efetuado consideraram a proteção do bem comum coletivo que é o meio ambiente. Para tanto, o município de Santa Tereza foi incumbido da tarefa de auxiliar e fiscalizar a atuação dos ribeirinhos para a restauração da mata ciliar. A sociedade de riscos baseia-se em escolhas, muitas vezes políticas, para que os riscos mitigados sejam escolhidos. Por outro lado, a atuação do MP como protetor dos direitos coletivos foi de suma importância na condução do ajustamento com a municipalidade. A eliminação total dos riscos é utópica, porém aponta-se para a ideia de tolerabilidade quando analisa-se os riscos que podem desencadear o dano ambiental.

As escolhas feitas com os termos firmados no ajustamento de conduta revelam o objetivo de proteção e restauração da mata ciliar. Ao utilizar o ajustamento para proteção do bem ambiental, percebe-se que o instrumento cumpriu o seu papel motivando o município a fiscalizar os ribeirinhos e estes, a protegerem e restaurarem suas propriedades.

A mitigação do dano ambiental com a restauração da mata ciliar não recupera apenas aos danos postos, mas permite proteger de forma preventiva e precaucional a ocorrência de novos danos, talvez ainda mais graves, no futuro. Ainda que abstratos, os riscos devem ser

considerados e ponderados para que a realização de ajustamentos como o do caso concreto se realizem e protejam o bem ambiental mitigando o dano ambiental.

As medidas tomadas no TAC geraram o início da restauração da mata ciliar, que irá se reconstituir e regenerar com o passar dos anos. É preciso perceber que as medidas tomadas auxiliaram também na prevenção de danos que ainda não se concretizaram. Quando anota-se que a recuperação da mata ciliar evita a erosão, tem-se que as medidas prévias escolhidas no ajustamento tiveram papel importante nisso.

Além disso, as pontuações trazidas quanto aos benefícios na qualidade das águas com a proteção da mata ciliar, também revela que prevenir pode evitar danos previsíveis e imprevisíveis. Ainda que se perceba alguns pontos negativos que podem ocorrer, há indícios de que afetar a qualidade das águas com a degradação das matas ciliares pode desencadear danos irreversíveis e imensuráveis na atualidade. Neste sentido, a atuação com o ajustamento não foi apenas preventiva, mas precaucional.

A contribuição do ajustamento não reside apenas na restauração da mata ciliar, mas na proteção para que o meio ambiente não seja degradado. Ao verificar os benefícios que a mata ciliar pode trazer, sua proteção evita danos ambientais previsíveis ou imprevisíveis futuros. Quando trata-se de mitigação do dano ambiental, é preciso incluir também os danos que ainda não ocorreram, mas que foram ponderados de forma preventiva e precaucional com a conduta de proteção das matas ciliares.

Chega-se à conclusão de que o TAC contribuiu de fato para a mitigação do dano ambiental, com a atuação preventiva e precaucional sobre o dano. O incentivo para a restauração e proteção das matas ciliares fez com que o dano ambiental fosse atenuado, inclusive antes de sua ocorrência.

Os efeitos negativos trazidos pelos impactos da ausência da mata ciliar foram mitigados com o auxílio do ajustamento, mas os efeitos positivos foram impulsionados pelos ajustamento. Ao plantar árvores nativas nas regiões ribeirinhas, árvores frutíferas e medicinais foram incluídas na listagem de espécies para o plantio. Além de todos os efeitos positivos importantes com a restauração da mata ciliar, os ribeirinhos foram incentivados e beneficiados com a possibilidade de utilização dos frutos destas plantas.

Diante disso, a escolha dos termos firmados no ajustamento revelou-se importante no resultado encontrado até o momento em relação à proteção da mata ciliar. A mitigação do dano ambiental ocorreu com o início de restauração da mata ciliar em relação aos danos presentes e aos que podem ocorrer. Além disso, a proteção da área não degradada foi um importante passo para o resguardo do meio ambiente para as presentes e futuras gerações.

Com base nos termos firmados no TAC do caso concreto, percebe-se que a problemática ambiental na sociedade de riscos contemporânea pode deixar de ser vista como uma irresponsabilidade organizada onde ninguém é especificamente responsável por nada. O trabalho conjunto do órgão ministerial com o ente municipal revelam que a atuação efetiva na proteção do bem ambiental pode sim quebrar o paradoxo criado na atualidade de que ao mesmo tempo todos são degradadores e ninguém é responsável por nada.