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O alcance das metas propostas no início de qualquer empreendimento, sem dúvida, é objetivo de qualquer trabalhador ou pesquisador. Em muitos casos os fatos não acontecem como se imagina ou como se quer, muitos fatores podem desviar a rota previamente traçada, assim como podem surgir fatores limitantes que sugiram a ampliação ou redução da proposição inicial.

Considerar a Educação Física como componente curricular voltada estritamente para o alcance de objetivos imediatos, sendo estes o de rendimento físico ou de aperfeiçoamento das habilidades motoras, seria desconsiderar o homem em sua totalidade, reforçando a idéia da fragmentação. A Educação Física está para além do imediatismo do rendimento, deve estar sim inserida e comprometida com a formação do ser , uno e indivisível, que busca a cada instante sua superação, seu aperfeiçoamento, sua liberdade.

Compreender a Educação Física como ação pedagógica capaz de interferir nesta dimensão, é tarefa dos profissionais comprometidos com o processo de formação do homem liberto, capaz de ler criticamente a realidade na qual está inserido e interferir nela. Este entendimento coloca a Educação Física, para além do âmbito de apenas mais uma disciplina curricular, portanto no âmbito das disciplinas que efetivamente tem a possibilidade de contribuir com a formação do homem.

que a educação é algo complexo, abrangente e que envolve aspectos mais amplos que a transmissão de conhecimentos e a busca de resultados imediatos de qualquer natureza.

Considerando-se o que Freire (2001) nos aponta como tarefa importante da prática pedagógica crítica, como sendo a promoção de condições em que os educandos uns com os outros e todos com o professor, ensaiem experiências profundas de assumirem-se como agentes ativos do ensino e aprendizagem, e este assumir-se de forma consciente de suas condições social e histórica, como ser pensante, comunicante, crítico, transformador e criador, pressupõe um assumir-se como sujeito, porque capaz de reconhecer-se como objeto, um assumir-se que não considera a exclusão dos outros, mas que faz assumir a individualidade de meu eu.

Deve-se também considerar que a escola como um espaço de ações pedagógicas, tem a função de fornecer espaços democráticos que possibilitem uma luta continuada para produzir formas emancipatórias de conhecimento e de relações sociais (Giroux,1988).

Considerando-se os elementos citados como marco referencial para o desenvolvimento das práticas pedagógicas em Educação Física, esta pode ser entendida e vivenciada como espaço de construção tanto no plano individual quanto coletivo.

Para a formação dos Sujeitos, quer seja no plano individual ou coletivo, diferentes concepções pedagógicas são utilizadas pelos professores em sua ação docente. A utilização desta ou daquela concepção ou metodologia está relacionada ao particular entendimento dos objetivos da Educação Física e da educação de maneira geral na formação dos homens e da

sociedade. Para esse entendimento Freire (2001) nos aponta a necessidade de uma reflexão crítica sobre a prática, pois é pensando criticamente a prática de ontem ou de hoje que se pode melhorar a próxima prática.

No sentido do entendimento necessário aos reais objetivos da Educação Física e da educação na formação de uma sociedade mais igualitária, encontram- se uma série de barreiras, entre as que apresentam-se como mais próximas, a forma e o modelo de organização social que vivenciamos, as condições de sobrevivência da população de maneira geral, as condições de ensino, a própria formação dos professores e seu processo de aperfeiçoamento; a não compreensão da dimensão política da ação pedagógica do professor, o que leva a aceitação do quadro social vigente, ou seja, a um certo niilismo, uma acomodação pedagógica que não preocupa-se com a superação das barreiras encontradas. Estas limitações influenciam no entendimento dos objetivos da Educação Física para com a formação integral do homem, sendo assim, os profissionais passam a entender sua atuação de forma fragmentada, o que os leva a utilizar concepções pedagógicas que enfocam a direcionalidade do professor no ensino, cabendo a este estabelecer todas as ações no processo pedagógico, sem permitir a participação dos educandos nos processos decisórios. Por outro lado, outras possibilidades de participação dos alunos abrem-se quando a compreensão dos papéis assumidos pela Educação Física e pela educação de maneira geral vão além das práticas escolares imediatas. Os professores nesta perspectiva utilizam-se de concepções pedagógicas que possibilitam abertura para a participação dos alunos, possibilitando uma interação dialógica, crítica e participativa entre os envolvidos no processo educativo.

Ao considerar a proposição inicial deste estudo, descrito em seu objetivo geral, e o que foi abordado nos parágrafos anteriores, evidenciam-se como propostas pedagógicas de destaque no contexto da Educação Física, conforme as incursões realizadas no capítulo anterior, e que, em seus pressupostos teóricos apresentam projetos de intervenção na realidade escolar com vistas a formação de sujeitos críticos e autônomos, a proposta de aulas abertas, a concepção construtivista, a concepção crítico superadora e a concepção crítico- emancipatória.

Cada uma dessas abordagens apresenta suas possibilidades de intervenção e suas limitações, cabendo ainda ressalvas em pontos específicos de cada uma delas.

A proposta das aulas abertas apresenta em seus pressupostos teóricos clareza quanto a participação dos alunos na organização e desenvolvimento das aulas de Educação Física, permitindo assim o desenvolvimento do senso participativo e o poder de argumentação dos alunos frente a situações que podem surgir no desenrolar das aulas e, consequentemente nas ações do cotidiano de cada um. As aulas caracterizam-se como estruturas abertas ás experiências dos alunos, podendo através das intervenções dos mesmos e conseqüentes problematizações mudar a direção do que foi planejado previamente.

Com a participação dos alunos na determinação dos conteúdos escolares a relação teoria / prática evidencia a Educação Física como instrumento de contribuição na formação de alunos sujeitos, críticos e agentes de transformação social. O papel do professor apresenta-se muito mais sob uma ótica de formação política participativa e orientador das atividades do que um repassador de informações e técnicas esportivas. A proposta apresenta-se como uma

possibilidade esclarecedora das ações do homem no mundo, possibilitando uma formação para o senso crítico e para a autonomia, apesar do entendimento de que a proposta necessita definir de maneira mais específica o âmbito dos conteúdos a serem abordados pela Educação Física e os encaminhamentos a serem desenvolvidos pelo professor durante a aula.

Analisando-se a proposta construtivista, não se verifica claramente o tipo de conhecimento que se deseja construir através da Educação Física. Sendo a motricidade humana seu objeto de estudo e o enfoque inicial sobre a cultura dos próprios participantes, pode-se estar deixando de atender a especificidade dos conhecimentos próprios da Educação Física, como nas aulas abertas. Uma das condições para o ensino crítico e o exercício da autonomia sem dúvidas é atendido nesta proposta, que é a interatividade entre os participantes da aula, esta interatividade possibilita a construção do conhecimento a partir da resolução de problemas e facilita a interação com o meio em que se vive. Considerando estes aspectos pode-se afirmar que a Educação Física estaria a serviço de uma finalidade sem dúvidas relevante para a formação dos sujeitos, mas no entanto não tratando especificamente de seu objeto de ensino. Esta proposta não apresenta uma orientação didática mais elaborada, apenas delineia linhas gerais de ação. Apesar de estar alinhada com perspectivas críticas da Educação Física pode-se atribuir-lhe a necessidade de melhoria em sua proposições político metodológicas para que efetivamente possa produzir os resultados esperados.

A abordagem crítico superadora assume o discurso da justiça social, considerando as atividades corporais como elemento de questionamento rumo á criticidade e superação das diferenças sociais. Os pressupostos teóricos são os do materialismo-histórico, considerando as categorias “ideologia” e “luta de

classes” como centrais no desenvolvimento da proposta. O desenvolvimento da aula centra-se na diretividade do professor nas atividades, esta apresenta-se como sendo uma mediação de conhecimentos e informações, representando uma intervenção política no sentido de tornar os alunos críticos e participativos. A participação dos alunos na aula, conforme o Coletivo de autores (1992) apresenta-se já na primeira parte da aula onde: “[...]os conteúdos e os objetivos da unidade são discutidos com os alunos, buscando as melhores formas de estes se organizarem para a execução das atividades propostas.[...]” (p.89) Esta proposta evidencia um modelo de aula, que por vezes pode dificultar a exploração de movimentos e atividades dos próprios alunos, haja vista que no primeiro momento apenas discute-se e organiza-se as atividades da parte seguinte da aula, não havendo uma exploração de movimentos antes da apreensão do conhecimento propriamente dito, pode-se portanto estar ai uma das limitações desta abordagem.

A abordagem crítico-emancipatória expõe com muito propriedade a participação dos alunos no desenvolvimento das aulas, quando em seus pressupostos destaca a “linguagem”, como uma de suas categorias centrais, trazendo como fundamento a razão comunicativa de Habermas. Através das outras categorias utilizadas por Kunz no desenvolvimento da proposta claramente percebe-se a participação dos alunos na construção e desenvolvimento das aulas, quer seja no momento da transcendência de limites pela experimentação, pela aprendizagem ou pela criação, momentos em que destacam-se o trabalho e a interação.

A aula dentro desta proposta apresenta-se como um campo de vivência social, portanto um local privilegiado para o estabelecimento de argumentações,

proposições e questionamento dos caminhos a serem percorridos no processo ensino aprendizagem. Os aspectos referentes a consonância entre teoria e prática estão presentes a todo momento da aula, pois através da interação na aula questões referentes a essa ligação apresentam-se constantemente.

Sob o ponto de vista político de atuação do professor, suas ações devem possibilitar a participação de todos os alunos nas atividades da aula, encorajando- os a enfrentarem os desafios lançados, para que tornem-se mais participativos e críticos, no sentido de adquirirem sua autonomia. Por apresentar-se como uma proposta aberta a participação dos alunos nas decisões da aula esta proposta avança em relação á proposta das aulas abertas por indicar de forma mais clara os caminhos a serem percorridos numa aula, ou seja, desde o arranjo material até a transcendência de limites pela criação, ao mesmo tempo que diferencia-se da proposta crítico superadora na forma de exemplificações esclarecedoras e não como modelos de aula. Portanto, baseado no que apresentou-se anteriormente, pode-se inferir á proposta crítico emancipatória amplas possibilidades de aproximação com o fazer pedagógico voltado ao que concebe-se como sendo os objetivos maiores da Educação Física, que é a formação de sujeitos críticos e autônomos.

O que se pode inferir como ponto de preocupação para uma efetiva implementação da abordagem crítico emancipatória é a sua complexidade quanto aos seus fundamentos epstemológicos e conseqüente articulação desta proposta com os projetos políticos pedagógicos das escolas, isto na medida em que parcela significativa de professores não apreendem a metodologia de trabalho da proposta.

As preocupações e reflexões relativas à implementação de metodologias capazes de auxiliar na resignificação das práticas pedagógicas da Educação Física, buscando a formação de sujeitos para o exercício da cidadania, via construção de sua autonomia, esta entendida como capacidade de tomar iniciativa sem a direcionalidade de outrem, nortearam o desenvolvimento deste trabalho. Neste sentido buscou-se desenvolver uma análise do desenvolvimento das diferentes abordagens pedagógicas relevantes na Educação Física, destacando-se aquelas que acredita-se podem contribuir de forma mais efetiva no desenvolvimento do pensamento crítico e de uma atuação autônoma, atuação esta que vai se construindo a medida que se vão tomando decisões, assim, como nos aponta Freire (2001), a autonomia é um processo de amadurecimento, é um vir a ser. Não acontece com hora marcada, é uma construção permanente.

Concluindo, pode-se destacar após as análises realizadas e os objetivos traçados inicialmente, que a concepção construtivista e de aulas abertas, apesar de alinhadas com as perspectivas críticas da Educação Física necessitam uma sistematização pedagógica mais aprofundada, o que não ás exime de contribuições na formação de sujeitos críticos e autônomos. Na abordagem

sistêmica e desenvolvimentista, não verifica-se elementos suficientes para que se

possa enquadra-las como efetivamente contributivas na formação crítica e autônoma, considera-se que a abordagem sistêmica encontra-se em fase de fundamentação teórica e crítica ao sistema hierárquico educacional, enquanto que a abordagem desenvolvimentista preocupa-se com a aprendizagem de

movimentos como meio de adaptação social dos indivíduos. Em fase de maior

criticidade e autonomia, destaca-se a concepção crítico superadora e a concepção crítico emancipatória, conforme pode-se verificar nas análises realizadas.

As propostas para estudos futuros, é a de que profissionais ligados a área aprofundem pesquisas quanto ao desenvolvimento destas abordagens através de pesquisas de campo, para se verificar suas aplicações na realidade das escolas brasileiras e o grau de entendimento que os professores tem de cada uma delas.

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