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Por ser um tema cada vez mais presente em todas as escolas, consideramos tal assunto de primordial importância para todos os programas didático-pedagógicos, algo que deve ser considerado, estudado e entendido como um desafio crescente que deve ser enfrentado.

Diversos aspectos foram considerados nesse estudo que teve como objetivo geral analisar as manifestações de indisciplina em diferentes momentos do cotidiano escolar entre eles, as aulas de EF e como objetivos específicos: analisar o entendimento de professores e direção da escola sobre indisciplina escolar e a forma como lidam com ela; analisar a percepção de diferentes professores sobre quais alunos são considerados indisciplinados e por quê; identificar se alunos envolvidos nas situações de indisciplina nos diferentes momentos do cotidiano escolar são também os envolvidos nas situações de indisciplina nas aulas de EF; analisar como a escola lida com os alunos considerados indisciplinados; analisar a presença de trabalho (ou proposta de ação) entre educandos, educadores e gestores em referência ao tema.

Com relação ao entendimento que os docentes possuem sobre indisciplina escolar, chegamos ao resultado que os professores não possuem um conhecimento amplo sobre todas as vertentes desse fenômeno, variando suas respostas sobre o tema, dificilmente citando a indisciplina nas quatro formas trazidas por nós na revisão. Porém, na somatória do discurso encontramos que ocorrem as quatro formas de indisciplinas: regimentar, social, curricular e passiva (OLIVEIRA, 2015) e também aparecem essas quatro formas na somatória dos discursos docentes sobre os casos de indisciplina que aparecem em suas aulas. Os principais atos de indisciplina citados pelos docentes foram: desrespeito às normas, atrapalhar o desenvolvimento da aula, não realização de atividades, conversas, uso de aparelhos eletrônicos, discutir com o professor e fazer algo que foge do padrão da aula, fatos também encontrados no estudo de Conceição (2013, p. 22).

Com relação à forma que os docentes lidam com a indisciplina escolar, obtivemos alguns exemplos negativos e outros positivos, sendo os principais negativos: apresentação das regras (não uma construção conjuntamente); falta da participação da comunidade escolar nas decisões das instituições educativas; exclusão, suspensão e advertências; a disparidade entre uma agressão física entre alunos e uma dirigida aos professores, sendo que a última foi considerada mais grave; a transferência do problema que ocorre na sala de aula para a direção escolar e dessa para a família e outras esferas profissionais que não estão diretamente envolvidas com a instituição escolar.

Sobre as medidas positivas no tratamento com a indisciplina escolar apresentamos as principais encontradas: trabalho com temas relevantes aos alunos e metodologias que sejam atrativas e mais significativas; o mediador que pode auxiliar na questão disciplinar dos alunos; o uso de combinados e acordos, por meio de diálogos, ouvir os alunos, mudança na própria metodologia das aulas e dos próprios conteúdos escolares, bem como as conversas individuais e as orientações, como forma de conhecer os alunos para lidarmos com cada caso adequadamente. Tivemos também um entendimento que como os professores e a direção escolar tentam evitar ou solucionar o ato indisciplinado é tão importante quanto a entrevista para constatar a ideia que eles têm sobre o assunto.

Constatamos que não há uma relação direta entre o componente curricular e a indisciplina escolar, há indisciplina escolar independentemente da matéria. O que influencia diretamente a questão de indisciplina dos alunos é a metodologia das aulas e a relevância que determinado conteúdo tem aos alunos, sendo que aulas diferenciadas, com metodologias eficazes e conteúdo contextualizado ao cotidiano discente, foram mais construtivas e agradáveis. Não houve diferenças entre as aulas de educação física e de outras disciplinas com relação à indisciplina escolar.

Sobre a formação continuada e/ou proposta de ação, encontramos uma menção que é importante na preparação da comunidade escolar para lidar com a temática que é buscar parcerias na formação continuada, entretanto não há a participação dos docentes na elaboração e discussão do PPP, das normas e regimentos escolares e não ocorre, ou não é tão divulgado, uma formação para os professores proporcionada pelas escolas ou pelo Estado sobre a indisciplina escolar, dificultando assim a sensibilização e preparo para lidar com esses problemas.

Devemos salientar a importância dessa discussão e um debate rico sobre a indisciplina escolar em todas as escolas para que haja uma compreensão de todos os protagonistas dessa instituição, para que o tema seja abordado, estudado, refletido e possa haver alternativas para esse entrave pedagógico que tanto nos limita na busca de uma educação de maior qualidade, para que possamos ganhar em conhecimento, ensino e aprendizagem por parte de todos.

Também é necessária a ampliação da qualidade dos cursos de formação de professores, bem como os processos de formação continuada, e que as vivências escolares e os projetos que visam a diminuição de violência e indisciplina escolares sejam bem-sucedidos, pois notamos que muitas vezes há uma boa vontade dos professores, mas faltam realmente experiências e vivências eficazes, como notamos abaixo:

A análise das 193 experiências mostra que, muitas vezes, a realização dos projetos não está pautada em métodos democráticos e muitas escolas ainda se mostram pouco compromissadas com a participação dos alunos na construção de seus valores. Prevalece uma formação moral por transmissão e doutrinação de valores considerados como “corretos” pelos agentes escolares. [...] As ações realizadas pelas escolas pesquisadas revelam uma carência de projetos que poderiam ser considerados como experiências positivas de Educação em Valores e de redução da violência e da indisciplina escolar. Entre os 193 projetos relatados, somente três foram selecionados por atenderem algumas das condições presentes na literatura que esclarecem como uma Educação em Valores deveria ser, tais como descrito no capítulo metodológico desta pesquisa. (ZECHI, 2014, p. 249).

Nesse estudo de Zechi (2014) notamos que as escolas, os docentes e os gestores possuem boa vontade e propõe muitos projetos para se atuar com a questão da indisciplina, da violência e dos valores, como notamos no nosso estudo, por exemplo, a professora de língua portuguesa da Escola A que relatou que montou no ano de 2014 um “Projeto Valores” e a professora de história na escola F afirmou que a escola possui um projeto “Valores”. No entanto, falta uma compreensão por parte de toda a comunidade escolar da maneira correta de desenvolver tais projetos. A maioria dessas experiências não promove uma verdadeira formação para a autonomia, por inúmeros motivos, como a falta de formação, projetos descontínuos, projetos intervencionistas e não preventivos, como encontramos em Zechi (2014, p. 254-255):

As escolas, de modo geral, afirmam ter como objetivo o desenvolvimento da autonomia moral e de relações respeitosas, justas e solidárias. Entretanto, desconhecem como esse desenvolvimento ocorre e como podem favorecê-lo de forma mais efetiva. Faltam estratégias claras e sistematizadas, resultando em procedimentos pontuais e esporádicos. Outras vezes, mesmo que citem procedimentos ativos que considerem a importância do trabalho cooperativo, da gestão participativa e construção coletiva de regras, muitas das práticas pedagógicas não concretizam a vivência efetiva desses procedimentos. Embora se encontrem docentes bem intencionados com propostas bem elaboradas, poucas escolas estão preparadas e efetivamente comprometidas com a reorientação de valores, de modo a contribuir para a formação da identidade moral e ética de seus alunos.

É importante e crucial que os projetos escolares e a formação continuada sejam efetivos, permanentes, elaborados e estruturados por meio de conhecimentos científicos, apoio de grupos de estudo, universidades e sejam realmente programas intrínsecos na cultura escolar de forma preventiva, respaldado e embasado em estudos, pesquisas, aprofundamentos teóricos e vivências positivas, como troca de experiências, debates, discussões democráticas. Mais que para resolver um problema específico, devemos ter nas escolas um espaço que contemple essas questões pedagógicas para nortear nosso trabalho.

Quando pensamos em estudar a indisciplina tínhamos muitas dúvidas sobre o motivo dessa temática ser considerada um dos maiores entraves educacionais na atualidade e também gostaríamos de esclarecer alguns pontos, principalmente se ocorre diferença entre os componentes curriculares.

Encontramos, nas escolas, uma sucessão de equívocos. O que influencia a questão da indisciplina é a falta de um planejamento docente adequado das aulas, além da metodologia das mesmas e a contextualização do conteúdo ao cotidiano dos alunos, relacionados a diversos fatores como políticas públicas, participação familiar, apoio da gestão escolar, participação de toda a comunidade escolar nas decisões educativas, dentre outros. Falta também uma formação inicial e continuada mais adequada e eficaz para formarmos docentes preparados para lidarem com a indisciplina escolar.

Longe de ser uma resposta final a todas as questões levantadas, o presente trabalho nos fez refletir sobre diversos pontos e apontamos caminhos para prosseguirmos com o estudo sobre essa temática para que possamos criar, nas escolas, um ambiente agradável, prazeroso, construtivo que leve em conta as necessidades dos seus protagonistas e possamos trabalhar com a aprendizagem e a formação cidadã de forma democrática, efetiva com as condições para o desenvolvimento da autonomia moral e intelectual de nossos alunos e professores.

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