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De modo geral, além do solo, do substrato das bandejas e do material dos canteiros de cultivo, a água de irrigação pode ser considerada como responsável pela formação de microbiota na superfície das folhas de alface e, também, pode ser considerada como a grande responsável pela sua contaminação microbiológica. Nos quatro experimentos realizados, a água de irrigação pode ter exercido esses dois efeitos sobre a hortaliça.

A urina de vaca, logo após a sua coleta e até a sétima semana de armazenamento em bombona plástica fechada, tem alguma carga microbiana. Na urina de vaca mantida em recipiente fechado, após quatro ou cinco semanas de coleta, ocorre drástica redução de carga microbiana contaminante, que atinge a contagem zero a partir da oitava e nona semanas nesse armazenamento. Essa urina de vaca ―envelhecida‖, aplicada em alface, em soluções de concentrações de até 5,21%, pode favorecer o desenvolvimento da hortaliça sem contaminá-la microbiologicamente.

As soluções de urina de vaca podem levar micróbios para a superfície de alface. Mas, no caso dos experimentos realizados, a carga microbiana das soluções de urina de vaca foi fortemente definida pela carga microbiana da água utilizada em seu preparo. Desse modo, a influência da urina de vaca na carga contaminante da alface dos experimentos pode ter sido nula ou, no máximo, insignificante. Além disso, em função da pequena dose aplicada (60 mL por planta), dividida em cinco aplicações em intervalos de sete dias, pode ser entendido que a

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contribuição de micróbios dada pelas soluções de urina de vaca para a alface foi muito reduzida.

Em relação ao desenvolvimento da alface influenciado, ou não, pela aplicação de soluções de urina de vaca, pode-se afirmar que, em ambas as vias, foliar ou solo, houve melhora no desenvolvimento da hortaliça cultivada em comparação com aquelas pulverizadas com água (concentração 0%). Ressalta-se, contudo, que a via escolhida, foliar ou solo, não promoveu respostas diferenciadas de crescimento quanto às características como MFCA e MFF; mas houve diferenças significativas, entre alguns tratamentos, quanto ao NFP, MFC e CC.

Entre todas as soluções avaliadas nos quatro experimentos, aquelas que promoveram os melhores resultados de aumento, em aplicação foliar, foram: 4,37% para MFCA; 4,38% para NFP; 4,23% para MFF; 5,21% para MFC; e 4,00% para CC. Para as aplicações via solo, os melhores resultados para MFC foram obtidos pela solução a 3,09%, e os melhores resultados para MFCA, NFP, MFF e CC, nas condições avaliadas, foram obtidos pelas soluções com concentrações a 4% de urina de vaca.

As soluções com concentração de urina de vaca entre 4% e 6% promoveram menores taxas de coliformes termotolerantes em alface em relação à testemunha (soluções a 0% de urina de vaca). Entretanto, esses resultados ainda não devem ser tomados como conclusivos antes da realização de novos experimentos. Caso sejam comprovados, fica ainda a necessidade de se explicar qual o mecanismo envolvido nesse possível fenômeno de efeito protetor.

Se os experimentos 1 e 2 com soluções da urina de vaca recém coletada mostraram aumento linear, desde as testemunhas a 0% de urina até as soluções a 4%, nas características de crescimento da hortaliça, os experimentos 3 e 4 revelaram dois aspectos destacáveis: as soluções de urina de vaca armazenadas a mais de 49 dias, com taxas zeradas de micróbios, também promoveram características de crescimento melhores do que as testemunhas (a 0% de urina); com os pontos de máximo nas

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soluções entre 4,00% e 5,21%, confirmando-as como as soluções que produziram as melhores características de crescimento para alface nas condições de cultivo aqui apresentadas.

Na alface lavada apenas em água pura houve redução da carga microbiana, mas não o bastante para ficar livre da contaminação. Portanto, o consumo da hortaliça deve ser antecedido de higienização adequada, realizada em todas as etapas de limpeza e sanitização, independentemente da utilização de solução de urina de vaca e da concentração utilizada.

Segundo PARISH et al. (2003), o melhor método de eliminação dos micróbios nos alimentos é a prevenção da contaminação. No entanto, como isso nem sempre é possível, a necessidade de lavar e sanitizar os produtos continua a ter primordial importância de modo que se evite surtos de doenças por meio de alimentos.

As contagens de coliformes totais, coliformes termotolerantes e micro-organismos aeróbios mesófilos, não revelaram variação significativa, para mais, nas taxas microbianas das alfaces cultivadas com diferentes soluções de urina de vaca, entre si e em relação às testemunhas. Logo, a contaminação microbiana não foi influenciada de modo significativo por micróbios originários da urina de vaca. Ao que tudo indica, a contaminação microbiana verificada na alface dos quatro experimentos foi gerada pela água de irrigação. Assim, a aplicação de urina de vaca nas condições aqui relatadas beneficiou o crescimento da alface sem colocá-la em risco microbiológico.

Por fim, uma advertência a quem valoriza o bem-estar e a qualidade de vida: a alface, tão amplamente cultivada e consumida pela população do Brasil, pode ser exposta, desde a irrigação até os momentos que antecedem o seu consumo, a contaminação microbiana de tal magnitude que, no consumo fora de casa, deve ser observado atentamente se o estabelecimento que a serve adota padrão higiênico satisfatório. Caso contrário, é mais prudente limitar a sua ingestão no próprio lar.

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