• Nenhum resultado encontrado

As dinâmicas sociais, de uma forma geral, acarretam transformações no substrato físico, pois é o local onde as mesmas se consolidam. Como se pôde observar, os estudos das questões ambientais, principalmente em áreas urbanas, pressupõem o entendimento e análise do processo de urbanização, como também, das causas que os originam, as quais, muitas vezes não estão restritas aos locais onde os danos ou mudanças são evidentes.

Como foi visto ao longo do trabalho, o processo de crescimento urbano nas áreas que abrangem a bacia hidrográfica de Pituaçu repercutiu de forma negativa nas condições de balneabilidade das praias da Boca do Rio e dos Artistas, pois apesar dos diversos planos que foram elaborados com o intuito de planejar o crescimento e a expansão urbana da Cidade do Salvador, os mesmos não foram capazes de evitar, em primeiro lugar, o crescimento de certa forma “desordenado” da Cidade, objetivo principal dos mesmos e, muito menos que o sistema de drenagem natural sofresse as conseqüências negativas desse crescimento.

Dentre os diversos motivos que podem ser citados para entender a ineficiência dos diversos planos que foram implementados em Salvador, está o caráter imediatista e individualista dos mesmos, pois, além de terem sido elaborados para resolver problemas pontuais que surgiam, os mesmos não contemplaram medidas de longo e médio prazos, não levando em conta, por exemplo, os danos que o crescimento da Cidade estava acarretando ao ambiente.

Como conseqüência do crescimento urbano observado, em Salvador, a partir da década de 1960, ocorre uma grande transformação no sistema viário da Cidade através da abertura das avenidas de vale (Bonocô, Canela, etc.), como também da Avenida Paralela, tendo como principal conseqüência a expansão urbana de Salvador nas direções Norte e Nordeste da mesma.

É a partir da década de 1970, quando a população de Salvador alcança o seu primeiro milhão de habitantes, que a pressão sobre o solo urbano da Cidade se intensifica, fruto, principalmente, da concentração de investimentos econômicos que ocorreram em Salvador e sua região metropolitana, ao longo das décadas anteriores, atraindo, desta forma, grande contingente populacional do interior do Estado, principalmente, para a capital baiana.

Dentro desse contexto, a Bacia Hidrográfica de Pituaçu passou a ter suas terras ocupadas de forma intensa, a cada ano, em conseqüência, principalmente, da construção da Avenida Paralela, entre os anos de 1971 e 1974. Com a construção da referida avenida, a área que se encontra entre os limites da mesma e a BR 324, denominada de “miolo” de Salvador, concentrou grande parte do crescimento urbano e populacional da Cidade, onde a bacia de Pituaçu tem parte do seu sistema de drenagem.

Como o crescimento populacional nesta área, não foi precedido de políticas habitacionais e de saneamento básico, o resultado é a degradação dos rios da bacia de Pituaçu, o que foi constatado pelas análises bacteriológicas realizadas nos mesmos.

Apesar de as questões de saneamento básico serem de grande importância para a saúde da população, o primeiro planejamento direcionado para o esgotamento sanitário de Salvador só ocorreu no final da década de 1960; mesmo assim, o referido trabalho não abrangeu toda a Cidade, deixando de fora a bacia de Pituaçu, talvez, devido à pouca ocupação apresentada pela mesma à época, que só foi incorporada no PDES de 1984, ano em que já havia uma considerável ocupação e conseqüente degradação do sistema de drenagem.

Mesmo o esgotamento sanitário fazendo parte do saneamento básico, o qual abrange ainda o abastecimento de água, o manejo das águas pluviais e de resíduos sólidos, as políticas relacionadas a esta área sempre ocorreram de forma

setorizada. Aí está um dos motivos do baixo índice de prestação desse serviço à população de Salvador. Observando-se o índice de acesso da população ao serviço de abastecimento de água, à coleta de lixo e ao esgotamento sanitário, fica evidente a pouca importância que foi dada a este último.

É imprescindível que o serviço de abastecimento de água seja complementado pelo sistema de esgotamento sanitário, caso contrário, as águas residuárias irão contaminar rios, córregos, ambiente marinho, etc.

A degradação do sistema de drenagem da bacia de Pituaçu cresceu junto com a expansão urbana da mesma. Este processo que teve início no começo da década de 1970, intensificou-se nas últimas décadas do século XX e, felizmente, vem passando por um processo de redução nestes primeiros anos do século XXI.

Como o destino das águas poluídas do sistema de drenagem natural da bacia de Pituaçu é a praia da Boca do Rio, a mesma reflete, por meio das condições de balneabilidade de suas águas, o estado em que se encontram as águas da bacia.

Como todo dano ambiental causado pela sociedade tende a se refletir nela mesma, a degradação do sistema de drenagem tem reflexo direto na praia da Boca do Rio, a qual é muito pouco utilizada pela população local, fato que é confirmado pela inexistência de barracas-de-praia, na mesma, as quais deixaram de existir a partir do momento em que a poluição do Rio das Pedras e a conseqüente poluição da referida praia começaram a ficar evidentes.

Até mesmo a praia dos Artistas, que dista cerca de 50 metros da desembocadura do Rio das Pedras, sofre a influência da degradação do sistema de drenagem da bacia de Pituaçu, pois, como foi visto, o fenômeno natural da deriva litorânea de sedimentos, em alguns períodos do ano, direciona as águas fluviais para essa praia.

A deficiência do sistema de esgotamento sanitário da bacia hidrográfica de Pituaçu pode ser considerada como de natureza técnica, política e de saúde pública.

Entende-se de natureza técnica porque tanto a rede de abastecimento de água, como a rede de esgoto são equipamentos técnicos revestidos de alta tecnologia.

A natureza política da questão está no fato de que a eficiência ou deficiência do sistema de abastecimento de água e esgotamento sanitário são determinadas pelas políticas públicas formuladas para os setores em questão, os quais são reflexos das mesmas.

A questão da saúde pública está no fato de que as águas residuárias veiculam grande quantidade de microrganismos, causando inúmeras enfermidades e mortes, principalmente, na população de baixa renda.

Somente com a implantação do sistema de esgotamento na totalidade dos domicílios, será possível reverter o processo de degradação observado, na bacia hidrográfica de Pituaçu, o que irá refletir nas condições de balneabilidade das praias oceânicas da Boca do Rio e dos Artistas, tornando-as próprias para o uso da população, a qual terá mais uma opção lazer.

Espera-se que a pesquisa ora elaborada, tenha contribuído para melhorar o entendimento das questões ambientais que envolvem a expansão urbana na bacia hidrográfica. E, que sirva de estímulo para novas pesquisas sobre o tema.

Documentos relacionados