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5. DANO MORAL COLETIVO

5.4. Considerações finais

Do exposto conclui-se que:

a) Ao mudar seu centro do conceito de ato ilícito para o de dano injusto, a teoria da responsabilidade civil vem a passos largos marcando sua evolução e alcançando a tão necessária coletivização.

b) Surge, nesse contexto, o dano moral coletivo como resposta a essa ampliação, na esteira de uma ordem jurídica mais plural e mais condizente com a busca de um ideal de justiça social. Insta, por bem, fazer uma diferenciação entre dano moral coletivo e os chamados danos sociais. São os danos sociais, em verdade, lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por diminuição de seu patrimônio moral – especialmente no que concerne à segurança – quanto, ainda, por diminuição na sua qualidade de vida19.

c) Podem estes danos gerar repercussões materiais ou morais, diferenciando-se dos danos morais coletivos, pois estes são apenas extrapatrimoniais.

19 AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Por uma nova categoria de dano na responsabilidade civil:

o dano social. In: FILOMENO, José Geraldo Brito; Wagner JÚNIOR, Luiz Guilherme da Costa; GONÇALVES, Renato Afonso (coord.) O Código Civil e sua interdisciplinaridade. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p. 376.

d) Não é o dano moral indissociável dos sentimentos de dor, aflição, angústia psíquica, havendo, inclusive, súmula editada pelo Superior Tribunal de Justiça, a de nº 127, com o entendimento de que é plenamente possível à pessoa jurídica intentar indenização por danos de natureza extrapatrimonial, a saber, moral.

e) Possui a pessoa jurídica a chamada “honra objetiva”, que pode se traduzir na preservação de seu nome, na sua reputação perante o corpo social, merecendo consequentemente a proteção jurídica a fim de resguardar o seu patrimônio moral.

f) É mister, ainda, reconhecer que é absolutamente possível a concessão de indenização por danos morais coletivos a um número indeterminado de pessoas, sendo esta posição que defendemos no presente trabalho em razão de inteligência da Lei da Ação Civil Pública, especificamente em seu art. 13, que determina de forma indiscutível que as condenações em dinheiro no bojo de ações civis públicas sejam destinadas a um fundo, inspirado na fluid recovery norte americana, cujos recursos serão destinados à reconstituição dos bens lesados.

g) É o dano moral coletivo compatível com os interesses difusos, também conhecidos como transindividuais, incluidamente os de natureza consumerista.

h) Pela alteração do art. 1º da Lei 7.347/1985 pela Lei 8.884/1994, pode-se extrair que a intenção do legislador foi a de conferir a possibilidade de condenação por dano moral coletivo.

i) Alberga o dano moral coletivo os interesses individuais homogêneos, podendo o individuo que se sentiu ofendido ingressar em ulterior liquidação e execução. Nesse sentir, após transcorrido um ano da condenação e não tiver ocorrido a habilitação de um número de interessados condizente com a relevância da lesão, o autor legitimado para a propositura da ação deverá promover a execução coletiva, revertendo o dinheiro

em prol do Fundo de Defesa de Direitos Difusos, conforme aduz o art. 100, parágrafo único da Lei 8.078/90.

j) A despeito de toda controvérsia gerada, filiamo-nos à corrente que defende a existência do instituto do dano moral coletivo e a sua indenizabilidade, vez que ele representa uma franca evolução na teoria da Responsabilidade Civil e atua de maneira bastante importante enquanto instrumento harmonizador das relações sociais.

k) A possibilidade de que se passe a, através da Ação Civil Pública, condenar por danos morais coletivos reflete um grande avanço social e uma conquista da cidadania, pois que é meio eficaz na prevenção de condutas lesivas à coletividade, em especial na seara consumerista.

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