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O privilégio da política monetária so-bre a política fiscal, caro à ortodoxia, foi concebido dentro de um arcabouço teó-rico, no qual a moeda é neutra – no curto ou no longo prazo –, e por isso a política monetária deve ser regida por uma regra clara para cumprir compromisso de “dis-ciplina monetária”, em qualquer caso eli-minando a discricionariedade da política. Isso porque os defensores de regras acre-ditam que a política monetária não é um instrumento que pode estimular o inves-timento e, consequentemente, reduzir o desemprego, de forma duradoura.

Sendo assim, não há nenhuma vantagem em financiar gastos do gover-no por meio de aumentos de oferta mo-netária ou aumento da dívida pública – já que a moeda é neutra e por isso não consegue afetar variáveis reais. Além dis-so, creem que a política fiscal dificulta o controle ou até causa inflação. Finalmen-te, a inflação provocada afeta preços re-lativos, distorcendo-os, comprometen-do a eficiência comprometen-do mercacomprometen-do a qual esses

Tabela 25_ Teste de causalidade no sentido de Granger

Variável dependente: D (Arrecadação)

Hipótese nula Probabilidade

D (PIB) não causa, no sentido de Granger, D (Arrecadação) 0.0086

D (Resultado Nominal) não causa, no sentido de Granger, D (Arrecadação) 0.1844

D (SELIC) não causa, no sentido de Granger, D (Arrecadação) 0.4589

Fonte: Elaboração própria.

Tabela 26_ Decomposição da variância – D (Arrecadação)

Período D (Arrecadação) D (PIB) D (Resultado Nominal) D (SELIC)

1 100.0000 0.000000 0.000000 0.000000

5 83.37895 11.25107 3.775677 1.594305

10 77.31266 11.23888 4.362993 7.085470

12 76.20421 11.20109 4.522061 8.072647

Fonte: Elaboração própria.

Tabela 24_ Seleção do melhor modelo para estimação do VAR

Defasagens LR FPE AIC SC HQ

0 NA 4.77e+21 61.26871 61.37624 61.31216 1 197.3523 7.46e+20 59.41275 59.95041* 59.63000* 2 16.58492 8.63e+20 59.55674 60.52453 59.94780 3 44.44797* 7.07e+20* 59.35154* 60.74945 59.91640 4 19.79871 7.74e+20 59.43455 61.26259 60.17321 5 14.05267 9.10e+20 59.58149 61.83966 60.49396 6 21.12574 9.62e+20 59.61654 62.30483 60.70281 7 20.40305 1.02e+21 59.64424 62.76266 60.90432 8 17.44569 1.12e+21 59.69970 63.24825 61.13358

Variáveis: D (Arrecadação), D (PIB), D (Resultado Nominal), D (SELIC) Dados: dezembro/1999 a julho/2008.

LR: estatística de teste LR sequencial modificada (cada teste ao nível de 5%); FPE: critério erro de previsão final (FPE – Final Predic-tion Error); AIC: critério Akaike; SC: critério Schwarz; HQ: critério Hannan-Quinn

Gráfico 7_ Funções impulso-resposta – choques no PIB

800

0 1,200

400

Response of D(ARREC_REAL) to D(PIB_REAL)

Response to Cholesky One S. D. Innovations 2 S. E.+

Response of D(RESNOM_REAL) to D(PIB_REAL)

Response of D(PIB_REAL) to D(PIB_REAL)

Response of D(SELIC) to D(PIB_REAL)

-800 -400 1,000 -,2 2,000 ,0 ,1 ,2 ,3 0 3,000 -,1 -1,000 -2,000 -3,000 3,000 2,000 1,000 4,000 0 5,000 -1,000 -2,000 5 5 5 5 10 10 10 10 15 15 15 15 20 20 20 20 25 25 25 25 30 30 30 30 35 35 35 35

Gráfico 8_ Funções impulso-resposta acumuladas – choques no PIB 3,000 1,000 4,000 2,000 Accumulated Response of D(ARREC_REAL) to D(PIB_REAL)

Accumulated Response to Cholesky One S. D. Innovations 2 S. E.+

Accumulated Response of D(RESNOM_REAL) to D(PIB_REAL) Accumulated Response of D(PIB_REAL) to D(PIB_REAL) Accumulated Response of D(SELIC_REAL) to D(PIB_REAL) 0 -1,000 2,000 -0,4 0,0 4,000 0,8 1,2 1,6 0 6,000 0,4 -2,000 -4,000 4,000 8,000 12,000 0 10 10 10 10 20 20 20 20 30 30 30 30 40 40 40 40 50 50 50 50 60 60 60 60

autores conferem à economia. A priori-dade é, então, o controle de preços, por-que a inflação distorce os preços relati-vos, e é justamente o sistema de preços que é o melhor regulador.

Nossa crítica relacionou-se à per-da do braço fiscal do Estado nas políti-cas ortodoxas dominantes da atualidade. Uma vez que na concepção pós-keyne-siana a economia é banhada pela incer-teza, o Estado assume um permanente papel na alavancagem da demanda agre-gada, ou influenciando as expectativas dos empresários ou como agente parti-cipante diretamente na atividade de pro-dução. Somente o Estado é capaz de re-duzir a incerteza presente na economia graças ao seu poder centralizador de formações, mobilizador de recursos e in-fluenciador da demanda efetiva.

Para Keynes, o elemento funda-mental da política fiscal é o gasto públi-co, e o objetivo da política fiscal deveria ser o de evitar a deficiência de deman-da efetiva. Uma política fiscal baseademan-da em déficits seria recomendada apenas de forma transitória para garantir programa de longo prazo em investimentos ou em situações de recessão já em curso, quan-do a arrecadação fica comprometida, e a necessidade de execução de

investimen-tos públicos pode superar a disponibi-lidade de fundos próprios do governo. Mas, uma vez garantido o crescimento do produto e do emprego, a arrecadação tende a aumentar, e isso permite a redu-ção e eliminaredu-ção do déficit.

É nesse contexto que se coloca o debate sobre a zeragem do déficit nomi-nal. Ressalta-se que a zeragem do déficit é um objetivo partilhado tanto por orto-doxos quanto por heteroorto-doxos. O que se discute é a forma de se alcançar o déficit zero. Assim, o debate sobre a zeragem do déficit nominal no Brasil reflete ou-tro, isto é, a dominância fiscal da política monetária, alegada pela ortodoxia, ou da dominância monetária da política fiscal, alegada pela heterodoxia.

Neste debate, a ortodoxia defende menor papel do governo, via aumento do superávit primário. A credibilidade do go-verno aumentaria com o superávit primá-rio, visto que exigiria menor participação do governo com gastos e o impediria de exercer seu viés inflacionário. Isso levaria à queda da taxa de juros e do déficit fiscal. Por outro lado, a heterodoxia mostra que é a política monetária ortodoxa, exigindo taxas altas de juros, para conter inflação e a fuga de capitais, impõe dificuldades pa-ra a zepa-ragem do déficit nominal.

O argumento pós-keynesiano é que a queda das taxas de juros proporcio-naria maior crescimento do produto e, consequentemente, da arrecadação. Tal aumento da arrecadação, assim como a queda da taxa de juros, haveria de se tra-duzir em queda do déficit nominal. Nes-te sentido, o superávit primário não seria causa da queda dos juros, mas consequ-ência. De forma a ilustrar este debate e criticar a posição ortodoxa, utilizamos a metodologia dos Vetores Auto-Regres-sivos (VAR).

Os resultados da análise economé-trica mostraram que o superávit primário não é significativo para explicar variação da taxa de juros Selic, apesar de ser im-portante para explicar o EMBI. Tal resul-tado torna discutível a prescrição de au-mentar o superávit para reduzir juros e, com isso, zerar o déficit nominal.

Além disso, outro resultado inte-ressante foi que o PIB sofre influência da taxa de juros e dos gastos, confirman-do o argumento keynesiano da impor-tância do gasto público como propulsor do crescimento econômico. Esse resul-tado torna discutível, por exemplo, argu-mentos como o de crowding-out, segundo o qual a política fiscal é ineficaz, porque maior gasto governamental leva a maior

taxa de juros, provocando queda de in-vestimentos privados.

Keynes, ao contrário, propôs o uso dos gastos e receitas do governo co-mo meio de influenciar, positivamente, o nível de atividade econômica (produção e emprego) nas economias de mercado.

Como esperado, encontramos for-te correlação entre PIB e arrecadação. Com base na análise da função impulso-resposta, verificamos que um choque no

PIB tem impactos significativos e dura-douros sobre a arrecadação. Neste sen-tido, os resultados obtidos fortalecem os argumentos pós-keynesianos, com res-postas acentuadas da taxa de juros e dos gastos sobre o PIB e deste sobre a arreca-dação, permitindo o financiamento dos gastos anteriores.

No entanto, a estratégia de se ele-var o produto, a renda e, consequente-mente, as receitas geradas para o governo não vem sendo levada em consideração nos anos recentes no Brasil pela ortodo-xia, em vista da concepção de Estado ine-ficiente e provocador de inflação. Optou-se pela política combinada de altas taxas de juros e expressivos superávits primá-rios, ocasionando o baixo crescimento econômico verificado nos últimos anos.

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