• Nenhum resultado encontrado

CONSIDERAÇÕES FINAIS DA DISSERTAÇÃO

A partir do que foi exposto nos três estudos, a revisão integrativa da literatura científica e os dois estudos empíricos realizados, foi possível observar alguns aspectos relacionados à Religiosidade/Espiritualidade (R/E) em casamentos de longa duração. Em termos de investigação integrativa na literatura, ressaltamos a importância de pesquisas relacionadas a esse tema, uma vez que tanto a produção nacional quanto a internacional se apresentam escassas, abordando a R/E nos casamentos longevos apenas de forma tangencial. Observamos então que o estudo dessas dimensões de forma conjunta é um campo relativamente novo, sendo importante desenvolver pesquisa com esse objetivo, principalmente no contexto nacional. No entanto, deve-se enfatizar que a revisão proporcionou um panorama sobre aspectos presentes nos casamentos de longa duração tais como qualidade de vida, satisfação conjugal, saúde física e emocional dos cônjuges, sexualidade, amor, estratégias para manutenção do laço conjugal, conflitos conjugais, parentalidade, apoio social, proporcionando um maior delineamento dos aspectos a serem trabalhados nos estudos empíricos.

Os estudos empíricos foram realizados com o objetivo de entender melhor os aspectos imbricados na dimensão R/E em casamentos de longa duração. Apesar de compartilharem do mesmo objetivo geral, foram desenvolvidos com amostras e objetivos específicos. O estudo 2 se voltou para a compreensão de como a R/E era percebida e experienciada por casais de longa duração. Já o estudo 3 objetivou avaliar as associações entre as medidas da satisfação conjugal, bem-estar subjetivo, bem-estar espiritual e coping religioso-espiritual em casais longevos.

Como foi possível observar nas discussões dos dois estudos empíricos, a R/E se mostrou uma dimensão importante e significativa no casamento de longa duração, seja

na manutenção do laço conjugal, quando os casais atribuem uma dimensão transcendental ao casamento, considerando-o um compromisso feito com Deus e que somente a morte pode romper, apontando que indissociabilidade da união como característica associada à R/E, ou como elemento de apoio no enfrentamento das situações difíceis ou conflituosas, que estão relacionadas ou que repercutem na conjugalidade, propiciando novas maneiras de enfrentar as adversidades. As instituições religiosas e a busca individual por Deus foram representativas no casamento de longa duração, desde a maneira como a pessoa se relaciona com Deus ou ser transcendente, até como vivencia e avalia a própria vida e o casamento.

Houve também como ponto de convergência entre os estudos a satisfação conjugal. No estudo 2 ela foi unânime entre os participantes, reforçando a ideia, amplamente divulgada no meio cientifico, de que níveis mais elevados de religiosidade têm sido associados a níveis mais elevados de satisfação no casamento. No estudo 3, essa hipótese foi confirmada, pois, considerando que a amostra apresentou estar satisfeita com o casamento, e que a escala de Satisfação Conjugal, ao avaliar os problemas conjugais, correlacionou-se negativamente com as demais dimensões, exceto Afetos Negativos, ponderamos que pessoas com maiores índices de R/E tendem a manifestar maior satisfação no casamento, o que pode indicar que a R/E faz parte do universo desses casais, favorecendo que permaneçam juntos. Assim, conforme o estudo 2, a R/E ajuda os casais a obterem maior satisfação conjugal, auxiliando na manutenção e qualidade do casamento.

Outro ponto de convergência foi que no estudo 2 o casamento esteve associado a experiências positivas. No estudo 3 a correlação negativa entre afetos positivos e problemas conjugais evidenciou que o casamento pode ser considerado um espaço de

satisfação, em que os cônjuges individualmente expressam a mesma satisfação com a vida individual, estando sempre relacionada a experiências positivas singulares.

As limitações nos estudos que compõem a presente Dissertação também devem ser mencionadas. A partir dos dados encontrados nos dois estudos empíricos, sugerem- se novas propostas empregando roteiros diretamente associados à R/E, haja vista que o Estudo 2 não empregou um roteiro no qual a dimensão da R/E era diretamente questionada nesses casais. Assim, a R/E emergiu ao tratarem do casamento e dos motivos para a manutenção do mesmo. Há também a possibilidade de comparar casais de diferentes religiões, ou mesmo com parceiros que possuam crenças diferentes. A comparação entre casamentos longevos e não longevos pode ser relevante no sentido de pensar sobre a importância da variável tempo também no que se refere às experiências de R/E e suas possíveis repercussões na conjugalidade. Recomenda-se também a investigação de preditores da satisfação conjugal e da R/E nesse público, adensando o repertório sobre os casais longevos e suas características. A compreensão dos fatores que circunscrevem as associações entre R/E e conjugalidade de longa duração é um passo importante para o estabelecimento de delineamentos futuros, em uma busca pelo diálogo com a produção existente e a abertura para novos posicionamentos e inteligibilidades acerca do tema.

Por fim, podemos destacar a relevância da presente Dissertação, que permitiu ampliar as discussões em relação a R/E em casamentos de longa duração, compreendendo que a R/E pode ser experiencida de diversos modos, o que não depende de valores associados a instituições religiosas, mas também ao modo como os cônjuges vivenciam a rotina conjugal, bem como as associações dessa dimensão com fatores presentes na conjugalidade, satisfação conjugal, bem-estar espiritual, bem-estar subjetivo e coping religioso-espiritual. Espera-se que os dados aqui reunidos possam

compor um repertório de maior investimento e visibilidade aos casamentos longevos, compreendendo o modo como se estruturam e também a forma como, individualmente, os cônjuges habitam esse espaço psíquico de pertencimento chamado conjugalidade. A conjugalidade de longa duração constitui um aspecto que ainda deve ser melhor investigado em um cenário ainda tão efêmero quando se pensam nos relacionamentos amorosos contemporâneos, o que pode ser útil no sentido de delinear não apenas os motivos pelos quais um casamento pode perdurar, mas como a conjugalidade pode reunir aspectos que, de fato, sejam empregados pelos sujeitos na composição do seu bem-estar e na consequente qualidade do vínculo.

Documentos relacionados