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A vida laboral constitui-se como um universo que oferece amplas possibilidades de investigação. Os estudos realizados durante esta dissertação constataram a relevância da atividade profissional tanto na vida pessoal quanto no contexto sociocultural no qual está inserido o trabalhador. Assim, ela se configura como um meio privilegiado na produção de sentido a respeito das vivências cotidianas da vida adulta, ao mesmo tempo em que veicula o acesso do homem ao circuito social.

Percebeu-se, então, o significativo papel desempenhado pelo trabalho na constituição subjetiva e sua influência no processo identificatório do homem contemporâneo. A importância da vida laboral situa-se para além da garantia do sustento econômico, ao possibilitar também uma sustentação de valor ao si mesmo. Sem dúvida, o exercício de uma função profissional se dá em um fértil e complexo campo de investimentos afetivos que produz incessantes efeitos no sujeito trabalhador. A dinâmica presente no mundo do trabalho descortina uma forma do sujeito administrar sua economia psíquica. Assim, os investimentos do campo narcísico estão interrelacionados à produção de sentido sobre o trabalho na vida do sujeito. Constatou-se, por meio das entrevistas realizadas, o quanto o direcionamento do capital libidinal do sujeito para as atividades de trabalho, bem como para as relações intersubjetivas presentes no ambiente profissional permite o exercício da capacidade sublimatória essencial para a garantia da saúde psíquica.

É inegável, nesse contexto, a existência de um impacto subjetivo diante do rompimento com a vida laborativa decorrente da vivência de aposentadoria. A complexidade de tal experiência envolve a percepção social de que o homem aposentado encontra-se em direção oposta ao caminho traçado pelos valores preconizados nos tempos atuais. Em função disso, é eminente a necessidade de um trabalho psíquico singular mediante o reconhecimento de que o sujeito encontra-se na platéia e não mais no palco, como personagem atuante dos processos produtivos.

Uma exploração acerca da especificidade da inter-relação homem/trabalho frente ao processo de aposentadoria no contexto militar sustentou o objetivo primeiro desta dissertação. Tal motivação decorreu da constatação de que as particularidades da vida militar fortalecem o vínculo do sujeito com o trabalho, ao mesmo tempo em que dificultam o afastamento do exercício da atividade profissional. Diante do exposto e da possibilidade de acesso aos sujeitos participantes desta pesquisa, configurou-se a problematização dos fatores envolvidos na passagem para a reserva no âmbito do militarismo.

O esforço dos participantes deste estudo para um não reconhecimento do sofrimento despertado pela experiência de aposentadoria possibilitou questionamentos acerca da dificuldade contemporânea de aproximação com o saber sobre si mesmo. A busca por uma atribuição de sentido frente à vivência de ruptura com a vida laboral pode ser apreendida tanto na própria experiência da passagem para a reserva, quanto na oportunidade de falar sobre esse processo a partir do convite para a participação na entrevista. Assim, constatou-se no decorrer das mesmas um movimento a posteriori dos participantes de relatar receios e temores associados à experiência da ida para a reserva, bem como se deu a expressão de algumas frustrações e ressentimentos associados ao exercício da vida militar que permaneciam sem serem nomeados.

A Psicanálise, desde o legado freudiano, valoriza uma posição interrogativa e não conclusiva diante da complexidade dos fenômenos humanos. A necessidade própria da teoria psicanalítica de colocar-se em constante questionamento permite sua inserção em contextos diversificados da clínica tradicional. Valoriza-se, nesse cenário, uma postura reflexiva e aberta à singularidade frente às experiências humanas, no sentido de desafiar os limites já instituídos do conhecimento, a fim de percorrer novos caminhos e desvelar novos sentidos. Constata-se, portanto, que o convite à palavra, na situação deste estudo, colocou em cena conflitos que foram silenciados, e talvez continuassem fadados ao adormecimento. Além disso, a possibilidade de escuta instigou a produção de relatos nos quais os sujeitos puderam colocar-se novamente no papel de protagonistas que fazem os rumos de sua própria história.

A partir dessa perspectiva, percebe-se que o estudo a respeito das vivências laborais no âmbito militar não se esgota nesta pesquisa. Abre-se inquestionavelmente a possibilidade de propor novas reflexões e pesquisas que resultem em práticas que promovam melhorias na preparação do sujeito para a vivência de sua aposentadoria. Trata-se de intervenções que não só visem à prevenção de situações de padecimento humano, mas também a proposição de ações que promovam a saúde psíquica em situações decorrentes do desajuste do sujeito frente ao afastamento de seu mundo laboral.

ANEXO A

Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

ANEXO B

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE PSICOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

Local e data.

Prezado Senhor.

O meu nome é Paula Kegler, sou psicóloga e mestranda do Programa de Pós- Graduação da Faculdade Psicologia da PUCRS. Estou desenvolvendo um projeto de pesquisa sob a orientação da Dra Mônica Medeiros Kother Macedo, coordenadora do Grupo de Pesquisa Fundamentos e Intervenções em Psicanálise do referido Programa de Pós- Graduação.

Em 2008 o Ministério da Saúde lançou uma Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Neste contexto, a temática do trabalho e a decorrente vivência de aposentadoria, surgem como fatores a serem analisados quando o tema é saúde masculina. Diante desta necessidade de estender o olhar às subjetividades masculinas, surgiu o interesse de realizar um estudo sobre a vivência da aposentadoria por parte dos homens.

Este estudo tem o objetivo de investigar o processo de significação da vivência da aposentadoria masculina no contexto militar, pois observou-se que a experiência de aposentar-se é um processo diferenciado no âmbito do serviço militar. Tal estudo prevê a participação de militares que se aposentaram por tempo de serviço no período compreendido entre janeiro e dezembro de 2008.

Venho, por meio desta carta, convidá-lo a participar da pesquisa em questão. Seu nome e endereço foram fornecidos pelo SERINT-5, que está ciente dos objetivos da pesquisa e autorizou o acesso a seus dados pessoais. Entrarei em contato por telefone para saber se você concorda em participar do estudo. Em caso afirmativo, haverá a marcação de um horário para a realização uma entrevista na qual serão tratados assuntos relativos à sua experiência diante da aposentadoria.

Agradeço antecipadamente sua atenção e espero pela sua disponibilidade e concordância em participar deste estudo, salientando que desta forma, você estará colaborando para que sejam desenvolvidos novos conhecimentos científicos sobre o assunto.

__________________________ ____________________________________ Paula Kegler Drª. Mônica Medeiros Kother Macedo Pesquisadora / Mestranda Professora Orientadora / PUCRS

ANEXO C

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