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“A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina.” Rubem Alves O tamanho do saber de cada um implica nas dimensões do seu preconceito e, minimizá- lo, exige escuta. Esta tese surge da não-escuta que distancia corações e se processa colocando luz no conhecimento para proporcionar acolhimento. As citações de Albert Einstein, na introdução e de Rubem Alves, acima, remontam à importância de uma fala longa e silenciosa para que as pessoas reconheçam a diversidade sexual e de gênero e ela, efetivamente, exista. Traz as principais dúvidas e pré-conceitos formatados no âmago da sociedade, especialmente, em Farroupilha/RS. Reflete sobre a temática para possibilitar a permanência dos/as estudantes LGBTI na escola e a conclusão escolar dos/as mesmos/as na idade certa.

O Brasil tem visto e vivido manifestações de disseminação da intolerância, proselitismo religioso e político-partidário que objetiva eliminar a possibilidade de evitar qualquer avanço que conduza ao acolhimento e ao respeito a não-heterossexuais e não-cisgêneros/as. Conviver e viver numa sociedade efetivamente democrática e necessariamente laica está intrinsecamente relacionado ao cerceamento das manifestações homofóbicas, ao respeito à diversidade, o que assegura a presença do/a estudante na escola e enaltece os direitos humanos na educação brasileira.

O respeito à orientação sexual e à identidade de gênero precisa posicionamentos governamentais, sociais e pessoais que garantam a disseminação do conhecimento. O reconhecimento, a aceitação e o acolhimento das pessoas formam um fio inextricável com respeito ao vestir, à atração sexual e afetiva, a como apreciam ser chamadas, se expressam ou se autodenominam. O respeito não impõe regras à convivência social, é um direito inalienável.

Este estudo objetivou propor formação docente pautada nas contribuições dos estudos de gênero e das neurociências para a desconstrução da heteronormatividade, tendo em vista o contexto nacional que tenta cercear o conhecimento das diferentes concepções teóricas sobre gênero e sexualidade ignorando os conhecimentos acadêmicos, as construções históricas dos movimentos sociais e dos desafios ético-políticos relacionados à população LGBTI.

O entendimento da orientação sexual e da identidade de gênero, através dos estudos das neurociências, visa corroborar os estudos de gênero para desfazer a rígida compreensão da homossexualidade como “opção afetiva ou sexual”, determinada por influência social, pela cor das roupas, pelos brinquedos utilizados, proporcionando a instrumentalização docente para

minimizar o preconceito e favorecer ao acolhimento de cada participante da comunidade escolar.

A possibilidade de dirimir dúvidas no ambiente escolar com materiais como o Programa Escola Sem Homofobia, tão bem fundamentado pelos estudos de gênero, foi depreciado e achincalhado pela insistência nas expressões, capazes de se tornar verdade, “ideologia de gênero” e “kit gay”, responsáveis por “confundir a cabeça das crianças”, “defender que Deus nunca erra”, a homossexualidade é “antinatural”, tornar possível “menino virar menina e vice- versa”, entre outras sandices que convencem a quem se interessa pela abordagem fundamentalista.

A análise do primeiro capítulo sobre a resistência dos/as legisladores/as em nominar a diversidade advinda de preconceito, desconhecimento e interesses político-partidários, mesmo apontando para a inconstitucionalidade, uma vez que viola a igualdade de condições de acesso e permanência na escola, revela que o PL dissecado desconsidera a evasão e a exclusão escolar e procura justificar o texto com o abandono aos conceitos de diferentes fontes bibliográficas e enaltecendo a LGBTIfobia.

Ao debruçar-se sobre o entendimento prévio dos/as docentes da disciplina de Ciências sobre gênero e sexualidade é possível arguir sobre a dificuldade em compreender a não- heterossexualidade sob a ótica do conhecimento científico e sobre a importância da formação docente continuada como facilitadora na compreensão da temática devido à sua ausência nos currículos escolares e acadêmicos.

Ao apender sobre a exclusão no espaço escolar e dedicar um olhar sobre o respeito e o reconhecimento à diversidade sexual e de gênero, a pesquisa encaminha suas conclusões inferindo sobre o quão inconcebível é a exclusão escolar por preconceito e intolerância em uma sociedade que afirma o respeito às pessoas, embora tenha dificuldades em reconhecer questões básicas relacionadas à orientação sexual e identidade de gênero.

Explorar as contribuições das neurociências para a compreensão da diversidade sexual e de gênero aponta para a importância da associação entre campos de estudos interdisciplinares que credibilizam e asseguram o avanço das políticas públicas educacionais sobre o tema com argumentos embasados em conhecimentos científicos, a fim de que o senso comum, os interesses político-partidários e os discursos fundamentalistas, oriundos das práticas sociais heteronormativas, esclareçam as controvérsias geradas e cedam espaço à prática do respeito.

A ausência de preocupação com a diversidade sexual e de gênero na BNCC traz a contradição das normativas do Conselho Nacional de Educação, do Conselho Federal de Medicina e do posicionamento da Sociedade Brasileira de Pediatria frente à Associação Médica

Brasileira. A parte diversificada dos currículos escolares aparece como uma possibilidade gradativa de proporcionar à sociedade a conquista de cidadãos conhecedores e merecedores de um coletivo mais justo e equânime, capaz de realmente respeitar a diversidade sexual e de gênero.

Quanto ao uso do nome social na educação básica, a pesquisa específica aponta para a necessidade de formação ampla e irrestrita para assegurar o direito nos registros escolares, direcionada aos profissionais que atuam nas escolas, em especial sobre a transgeneridade, como forma de reverberar o conhecimento e minimizar o preconceito que interfere num espaço que precisa ser de hegemonia do acolhimento, da escuta e da equidade.

A interferência social na educação clama por limites na contestação da diversidade sexual e de gênero. No sétimo capítulo, o artigo direcionado aos comentários posteriores a uma formação pontual sobre gênero e sexualidade para docentes da Educação Infantil, no município de Farroupilha/RS, considera a multiplicidade de visões, crenças e valores, atravessada por embates, permeada de repressões e resistências advindas de erros conceituais. A formação docente continuada entra no cenário como ferramenta mobilizadora e articuladora, capaz de ampliar os debates sociais e garantir que a escola seja um sítio de conhecimento, capaz de minimizar a evasão e a exclusão escolar.

Quanto à formação docente sobre gênero e sexualidade, ministrada para professores de quartos e quintos anos do ensino fundamental da rede municipal, de Farroupilha/RS, sobre o conhecimento prévio e a relevância da temática, o texto traz a necessidade da desconstrução da heternormatividade através do discernimento entre sexo biológico, orientação sexual, identidade de gênero e expressão de gênero como forma de reverberar o conhecimento, trilhar caminhos para minimizar o preconceito que interfere na escola.

Na trajetória dos estudos, foi possível, somados/as à amostragem da pesquisa, totalizar 1.200 docentes participantes de formação continuada, palestras e apresentações, em treze municípios de quatro estados brasileiros. Na serra gaúcha, foram 1.038 professores/as, destacando 334, em Farroupilha/RS, e 447, em Caxias do Sul/RS. Na formação inicial atendeu- se à solicitação da Universidade de Caxias do Sul, para um curso de extensão universitária que contou com 20 participantes e para 15 acadêmicos/as de Pedagogia do Centro de Ensino Superior de Farroupilha.

O aprofundamento na temática possibilita um mergulho em exemplos de contribuições das neurociências sobre a diversidade sexual e de gênero, muito embora os participantes fiquem impactados com a insipiência do conhecimento pessoal que permite conflitos conceituais impostos, até mesmo sobre sexo biológico. As dúvidas seguem pelo (des) entendimento da

distinção entre orientação sexual e identidade de gênero e as certezas se esvaem por completo ao pensar sobre as diferentes possibilidades da intersexualidade e o imbróglio desta com a transgeneridade.

No decorrer das formações desenvolveu-se uma oficina didática, denominada jogo da diversidade (anexo 3), capaz de proporcionar aos compartes, após conhecer a simbologia referente às diferentes possibilidades de identidade de gênero, orientação sexual e sexo biológico, receber o desenho de um boneco/a e uma possível expressão de gênero para posterior organização corporal e identitária aportando a identidade de gênero no cérebro, a orientação sexual no coração e o sexo biológico na posição da genitália.

Na análise final da tese é possível perquirir que o conhecimento sobre gênero e sexualidade encanta e inebria as pessoas que participam das formações (anexo 4) e que a proximidade com conceitos e aprofundamentos das neurociências impactam, asseguram e conferem aos estudos de gênero a certeza das afirmações necessárias para a incompatibilidade entre conhecimento e heteronormatividade.

Executar as formações faz sentir uma satisfação inenarrável oriunda do efeito conferido aos participante pelas mudanças aparentadas desde a leitura facial, que seguem pelos diálogos paralelos e desembocam nas afirmações e questionamentos sigilosos do intervalo, ações reveladoras das surpresas que impactam a todos/as e a cada um/a.