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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento Dom Delgado na Igreja de seu tempo (páginas 187-191)

Quando João XXIII anunciou a convocação do Concílio Vaticano II, a Cúria romana organizou a sabotagem da preparação do Concílio. Não foi possível impedir a realização do Concílio, no entanto articulou estratégias de oposição durante o período de sua ocorrência. O temor da Cúria era de que o Vaticano II resultasse em maior autonomia dos bispos, o que não deixava de ser uma esperança de muitos dos bispos que participaram de suas sessões. As tensões permanentes entre a Cúria romana e os bispos são perceptíveis em diversos documentos produzidos durante e após o encerramento do Concílio, em 1965.

Dois anos depois da conclusão do Vaticano II, explodiram as revoltas estudantis, apontando sinais de uma revolução cultural. As multinacionais, por meio de uma globalização imperial de uma nova economia, se tornariam, em menos de 40 anos, as proprietárias do mundo, realizando a desconstrução de todas as culturas tradicionais, para engendrar uma nova cultura de massas. Esse processo não foi, nem podia ser imaginado pelos padres conciliares. Tratava-se, para estes, de operar uma adaptação da Igreja a um tipo de sociedade em via de extinção.

A participação mais significativa e de conseqüências mais profundas para o catolicismo, durante o Concílio, foi a dos bispos latino-americanos e, em particular, do episcopado brasileiro. A hierarquia da Igreja brasileira participou do Vaticano II na condição de uma das primeiras igrejas portadoras de uma experiência de colegialidade, uma vez que a CNBB foi constituída em 1952, e o peso da conferência residia no seu secretariado. Dom José de Medeiros Delgado, cujo episcopado no Ceará constituiu objeto da presente dissertação, foi daqueles membros da hierarquia que deixou registrado nos diversos escritos que produziu, enquanto arcebispo de Fortaleza, os horizontes de expectativas para os quais a Igreja poderia se abrir a partir dos debates e textos conciliares. Não na dimensão das transformações radicais que eram defendidas pela Esquerda Católica Brasileira. Porém, na direção de um catolicismo aberto ao mundo moderno, menos verticalizado.

Dom Delgado destacava, calcado no Vaticano II, a Igreja como Povo de Deus, escolhendo-o como tema prioritário para expressar a realidade da Igreja. A eclesiologia tradicional concebia a Igreja através de sua estrutura hierárquica. Pensar a Igreja era pensar os seus poderes. Os leigos eram, dentro dessa ordem, simplesmente agentes passivos. A defesa intransigente que Dom Delgado fazia da participação do laicato nas estruturas pastorais da Igreja, indicava a sua maneira de se “colocar em dia” ou em aggiornamento, palavra-chave no espectro teológico- pastoral do Vaticano II.

Por outro lado, percebe-se que, para o então arcebispo de Fortaleza, a dimensão da

colegialidade episcopal constituía outro elemento fundamental, para que as conferências episcopais adquirissem uma maior legitimidade nas suas relações com a Cúria romana, e não se transformassem em meros órgãos transmissores de planos elaborados em Roma, com base em premissas de política pontifícia que se voltassem apenas para o prestígio do Papa na sociedade.

Não encontramos, a partir das fontes consultadas, um bispo da Esquerda Católica brasileira da década de 1960. Teria sido Dom Delgado um tradicionalista? No entanto, o que dizer de seus posicionamentos em favor de Dom Helder Pessoa Camara e de Dom Antonio Batista Fragoso, se todos eles compartilhavam a mesma rejeição ao “comunismo ateísta”? Como definir suas práticas pastorais de crença numa teologia do desenvolvimento? Por que teria optado por trabalhar pacientemente no interior da Igreja para não se distanciar dos leigos? Por que valorizar os trabalhos de base e sugerir sistematicamente que os padres cearenses deixassem as sacristias e fossem vivenciar a realidade da periferia de Fortaleza?

Muitas perguntas que precisam ser respondidas e que, diante das lacunas do presente trabalho, foram apenas mapeadas e sugeridas. Quis marcar Dom Delgado como um homem da Igreja que disse muito do seu presente e de suas possibilidades.

FONTES

Fontes não publicadas

Boletim do Secretariado Regional Nordeste I da CNBB – Dom Helder Câmara: acusações e

defesas. Datilografado, s/d. 16 p. Sala de História Eclesiástica da Arquidiocese de Fortaleza (SHEAF).

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – X Assembléia Geral – São Paulo, 21 a 30 de julho de 1969 – Cópia do esclarecimento de Dom Antonio Fragoso sobre ajuda estrangeira à Igreja do Brasil. Datilografado, 29 de julho de 1969. SHEAF.

Teologia y problemas Del tercer mundo. Conclusões do Encontro Ecumênico de Teólogos do Terceiro Mundo realizado na Tanzânia (África), de 5 a 12 de agosto de 1976. SHEAF.

CNBB – Obstáculos à Vivência Comunitária da Igreja. Pesquisas do Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (CERIS). Rio de Janeiro, Datilografado, janeiro de 1973. SHEAF.

CNBB – Comunicado do Fr. Lucas Moreira Neves, O. P., Secretário Nacional do Apostolado dos Leigos, de 15 de janeiro de 1971. Datilografado. SHEAF.

CNBB – VIII Assembléia Geral, Aparecida (SP), de 6 a 9 de maio de 1967 – Ofício dirigido por Sebastião Baggio, Núncio Apostólico, ao Presidente da CNBB, Dom Agnelo Rossi sobre O Problema dos Seminários. Datilografado no Rio de Janeiro em 17 de fevereiro de 1967. SHEAF.

CELAM – Cópia da Tercera Reunión de Cordinación, realizada em Bogotá, entre 19 e 24 de novembro de 1973. “Evangelizacion y Laicos”. Datilografada. SHEAF.

CNBB – Cópia do Relatório Síntese das Atividades Nacionais e Regionais, de 1º de janeiro de 1966 a 5 de maio de 1967, expostas na VIII Assembléia Geral, em Aparecida (SP). Datilografada. SHEAF.

CNBB – Cópia do Relatório das Atividades do Secretário Geral da CNBB, Dom Aloísio Lorscheider, de julho de 1968 a julho de 1969. Datilografado, no Rio de Janeiro, em 14 de julho de 1969. 16 p. SHEAF.

CNBB – XII Assembléia Geral, Belo Horizonte, de 9 a 18 de fevereiro de 1971 – Cópia do Relatório do Secretariado de Catequese – Atividades de 1961 a 1971. Datilografado pelo Bispo de Valença, Joé Costa Campos. SHEAF.

CNBB – XII Assembléia Geral, Belo Horizonte, de 9 a 18 de fevereiro de 1971 – Cópia do Parecer nº 94/71 – Conselho Federal de Educação sobre Currículos e Programas de Educação Moral e Cívica. Datilografado no Rio de Janeiro em 4 de fevereiro de 1971. SHEAF.

CNBB – “Notícia sobre o bárbaro trucidamento do Padre Antonio Henrique Pereira da Silva Neto, no Recife, a 27 de maio de 1969.” Secretariado Arquidiocesano de Olinda e Recife. Datilografado, Recife, 28 de junho de 1969. SHEAF.

ARQUIDIOCESE DE OLINDA E RECIFE – Comunicado de Dom Helder Câmara ao Episcopado sobre as perseguições ao Pe. José Comblin, Coordenador dos Estudos Teológicos do Instituto de Teologia de Recife. Datilografado em Recife, em 28 de março de 1972. SHEAF.

Relatório do Bispo de Volta Redonda (RJ), Dom Waldir Calheiros de Novais, de 22 de janeiro de 1971, sobre a prisão e torturas sofridas pelo Pe. Natanael de Morais Campos e de jocistas que com ele foram presos. Datilografado, Volta Redonda. SHEAF.

CNBB – X Assembléia Geral, São Paulo, de 20 a 30 de julho de 1969. Atividades do Secretário do Apostolado dos Leigos, de julho de 1968 a julho de 1969. Datilografado e assinado pelo Pe. Celso Pinto da Silva. SHEAF.

REGIONAL NORDESTE I – Sub-Regional do Piauí – ENCONTRO DE PASTORAL DA JUVENTUDE – Teresina, 31 de outubro a 02 de novembro de 1970. Roteiro e Depoimentos. Datilografado. SHEAF.

Boletim do Secretariado Regional Nordeste I da CNBB, de maio de 1971, “Ao Redor do Sínodo”. Datilografado. 12. p. SHEAF.

PROBLEMAS DO CLERO NA REGIÃO DO NORDESTE I – Relatório do Pe. Daniel Jouffe, de abril de 1969. Fortaleza. Datilografado. SHEAF.

Movimento de Educação de Base – MEB – Fortaleza. Cópia do Programa Radiofônico “A Escola em sua Casa”. Emissora: Rádio Assunção Cearense. Assunto: “Notícias da Imprensa sobre a viagem de Nixon”. Datilografado em 28 de fevereiro de 1972. SHEAF.

No documento Dom Delgado na Igreja de seu tempo (páginas 187-191)