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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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O estudo verificou que a infância da mulher ribeirinha é bastante diversificada, havendo aquelas com maiores desafios tanto no que diz respeito à situação conjugal dos pais quanto dos recursos disponíveis para sobrevivência. Aproveitar a infância parece não fazer parte da vida das crianças que ao chegar da escola se veem obrigadas a ajudar os pais na lavoura. Os relatos mostraram que a maior marca da infância das mulheres é a presença de muitas brincadeiras, porém, as dificuldades da família para conseguir alimento sejam através da pesca como do cultivo de plantações as priva desse momento importante na vida.

Ainda no final da infância ou na metade da adolescência as mulheres já precisam assumir responsabilidades atribuídas aos adultos, porque se casam nessa fase da vida, muitas vezes em virtude de gravidez, outras por não manter uma boa relação familiar ou fugir do trabalho que desenvolvem junto aos pais na agricultura.

A vida adulta traz, geralmente, o amadurecimento e é fundamentada na perspectiva do cuidar da família e trabalhar para contribuir com a renda da familiar e aumentar o poder aquisitivo a fim adquirir objetos primordiais e realizar os desejos de comprar um computador e sonho de pagar uma faculdade para os filhos, comprar bens como casa e carro e etc.

O sonho de aquisição do carro pode representar para as mulheres a liberdade para ter acesso à cidade à hora que quiser ou necessitar, pois, ainda que haja ônibus, este não tem rota diária alternada, assim, o fato de possuir veículos pode garantir-lhes o ir e o vir de forma mais livre.

Cruz (2010) afirma que a sustentabilidade das zonas rurais exige uma mudança nas relações de gênero e que espaços sociais de acolhimento precisam ser criados para as mulheres, especialmente para as meninas, na tentativa de promover o desenvolvimento pessoal e profissional, assim como condições materiais e subjetivas mais igualitárias. A pesquisa mostrou que O Programa Mulheres Mil, representou e pode continuar representando um importante papel nesse processo mudança da realidade em que as mulheres estão inseridas.

Nesse sentido, torna-se primordial propor e desenvolver ações que venham a atender essas comunidades oferecendo oportunidades de formação profissional e técnica com o intuito de criar as condições necessárias a elevar sua autoestima, possibilitando a sua inserção no mundo de trabalho, a melhoria de suas vidas, seus locais de trabalho e o meio ambiente em que vivem.

Quanto às esperanças para o futuro, há forte presença de pelo menos cinco aspectos: (a) esperança escolar – incluindo desde o sonho de aprender a ler e escrever até a formação universitária; (b) conquista de emprego – especialmente para assegurar um futuro melhor para os filhos, somando-se desde simples pedidos até o pagamento de uma faculdade para eles; (c) aquisição de bens – especialmente casa (grande e mobiliada) e carro; (d) felicidade – incluindo manter a fé, ter uma velhice feliz, ver os netos ou filhos crescerem com saúde, estudo e emprego, e, ajudar financeiramente aos familiares; e (e) utilização do aprendizado – conseguir fazer uso do que elas aprenderam na formação ofertada pelo Programa Mulheres Mil, Projeto Cidadania Ribeirinha.

63 Assim, o Programa Mulheres Mil possibilitou e ampliou sonhos das mulheres, levou-as a se conhecerem melhor, cuidando mais de si mesmas, motivou-as a continuar, começar ou retomar os estudos alcançando níveis mais elevados de escolaridade, enfim, despertou suas habilidades e capacidades de produção e reconhecimento. Esse despertar as fez ver que são capazes de criar e recriar, que podem aprender e ensinar.

O Programa Mulheres Mil fez com que tivéssemos (tanto professores quanto alunas) a esperança de proporcionar a estas comunidades uma real transformação, entretanto, em Porto Velho – Rondônia este programa não cumpriu o seu objetivo de permitir que estas mulheres fossem profissionalizadas e inseridas no mercado de trabalho, por motivo gestão foi interrompido. Dessa forma não houve qualquer chance de se verificar a real efetividade das ações na vida destas mulheres, faltou ainda uma articulação com o setor produtivo para a inserção destas mulheres no mercado de trabalho bem como ações que possibilitassem a continuidade da formação profissional.

O Programa Mulheres Mil deu origem a projetos desenvolvidos de até um ano, prazo este muito curto, o que comprometeu completamente a sua proposta de acesso, permanência e êxito; outro fato comprometedor, do Projeto Cidadania Ribeirinha, foram as constantes mudanças das gestões no IFRO. A cada mudança este comprometimento com as mulheres ribeirinhas se perdia, fazendo com que a possibilidade de que outros projetos pudessem ser realizados para garantir a organização em associações, em grupos de trabalhos dentre outros meios de geração de renda, pudessem ser solidificados. Tais projetos e ações que poderiam assegurar a estas famílias reais condições de ocuparem e até mesmo gerarem postos de trabalho para a comunidade.

Por fim, vale registrar a relação entre o rio Madeira e o Programa, expressa pela conjunção condicional Se: Se o Rio mudou os rumos da pesquisa, o Programa Mulheres

Mil mudou a vida das mulheres ribeirinhas.

Nesse sentido, abriram-se novas possibilidades de estudo a fim de responder questões como: (a) Como é a vida das famílias ribeirinhas que se encontram sob a tutela do Estado a mais de um ano esperando uma definição dos rumos de suas vidas? (b) O que mudou nos sonhos das mulheres após a enchente de 2014, que destruiu o distrito de São Carlos do Jamari? (c) O que tem sido feito pelo poder público para assegurar a essas famílias o direito essencial à moradia? (d) Quais os impasses que justificam tanta morosidade no reassentamento das famílias de São Carlos do Jamari?

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