• Nenhum resultado encontrado

4 Considerações Finais e Considerações sobre uma Agenda Cartográfica

A partir dos dados apresentados e problematizados, acredita-se na abertura de uma agenda de pesquisa justificando a preocupação de articular a objetividade dos documentos formais que legislam as políticas públicas de esporte e lazer, mas tudo isso carece de uma percepção mais arguta da realidade.

De fato, observa-se um efeito cascata, cronologicamente falando, entre os primeiros dispositivos normativos em instâncias federais e suas repercussões nas instâncias estaduais e municipais em nosso corpus, com

ressalva para a criação da Secretaria de Esporte e Lazer de Lajes. Esse movimento pode indicar um momento de organização desse setor no campo das políticas governamentais.

O indicativo é confirmado pelo elemento de que, entre os oito documentos coletados na pesquisa, metade deles versa sobre criação, organização e competências de secretarias estaduais ou municipais de esporte e lazer. Já entre os outros quatro dispositivos que verdadeiramente versam sobre políticas públicas de esporte e lazer, observa-se que somente um deles tematiza (Macaíba), mesmo que fragilmente, o lazer como campo específico de ação. E ainda sobre esses documentos, observa-se também que somente dois municípios (Macaíba e Natal) estabelecem, em seus conteúdos, diálogos com a Política Nacional de Esporte.

Indicadores como esses consolidam uma visão do quadro legislativo do esporte e do lazer no Estado do Rio Grande do Norte e seus municípios adstritos, ao passo que espelham a fragilidade de nosso momento de construção e de consolidação de políticas (de estado e de governo) no campo do esporte e do lazer.

Nesse sentido, quando se reivindica um olhar mais arguto para esse campo, busca-se cultivar uma preocupação com a leitura da realidade para além dos documentos oficiais, ou mesmo uma leitura que valorize os intervalos (metafóricos e cronológicos) entre estes. Acredita-se, pois, que os documentos aqui disponíveis são sintomas de um cotidiano ainda caótico e controverso nas salas improvisadas de secretarias e de sujeitos envoltos ao esporte como gestores.

Assim, esse primeiro olhar, que é documental, carrega, portanto, limitações em perceber o contexto. Na verdade, ele torna-se somente alusivo ao que virá nas próximas páginas. As se debruçar sobre o depoi- mento dos gestores no que se refere a espaços públicos, programas sociais e recursos humanos e materiais avaliação de programas e projetos, entre outros elementos, a pesquisa ganha um fôlego de cartografia no

sentido menos geográfico clássico e mais no sentido pós-estruturalista (DELEUZE; GUATARRI, 1995), dialogando com os campos da filosofia, da política e da subjetividade.

Desse modo, a cartografia apontada aqui busca o acompanhamento de caminhos, que criam processos de produção e de conexão de redes entre os diferentes elementos que compõem a gestão de políticas públicas em esporte e lazer, a partir dos próprios gestores. Como a cartografia valoriza os percursos, é importante “[...] perceber e registrar movimentos, verificar amplitudes, tensões, desvios, sem deixar escapar os elementos minoritários.” (ROSÁRIO, 2008, p. 209).

Assim, os capítulos que se seguem vão apontar ao leitor temas espe- cíficos das políticas públicas que foram agrupados a partir de um único instrumento de coleta de dados (questionário com questões mistas), mas que são tratados a partir de certa autonomia por pesquisadores com múltiplas referências teóricas.

Os dados brutos se constituem como pistas (PASSOS; KASTRUP; ESCÓSSIA, 2009) sobre as políticas públicas em esporte e lazer, pois con- sidera-se que, para acompanhar os processos, não se pode predeterminar a totalidade dos procedimentos.

Espera-se que os leitores também exercitem seu ofício de cartógrafo, correlacionando e estabelecendo conexões entre os sintomas e as causas de nossas potencialidades e fragilidades no campo das políticas públicas em esporte e lazer. Dessa forma, é possível obter quantos mapas forem neces- sários para conjeturar diagnósticos e projeções do que se quer nesse campo.

Referências

ALMEIDA, B. S. de; MARCHI JÚNIOR, W. O financiamento dos programas federais de esporte e lazer no Brasil (2004 a 2008). Movimento, Porto Alegre, v. 16, n. 4, p. 73-92, jul. 2010. ISSN 1982-8918. Disponível em: http://www.seer. ufrgs.br/index.php/Movimento/article/view/13103. Acesso em: 27 abr. 2017.

BASTOS, F. da C. Administração esportiva: área de estudo, pesquisa e perspectivas no Brasil. Motrivivência, Florianópolis, n. 20-21, p. 295-306, jan. 2003. ISSN 2175-8042. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index. php/motrivivencia/article/view/930/723. Acesso em: 27 abr. 2017.

BOURDIEU, P. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 1990.

BRASIL. [Constituição, 1988]. Constituição da República Federativa do

Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: https://www.

senado.gov.br/atividade/const/con1988/CON1988_05.10.1988/ind.asp. Acesso em: 8 abr. 2017.

BRASIL. Decreto-lei n. 3.199, de 14 de abril de 1941. Estabelece as bases de organização dos desportos em todo o país. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, Seção 1, p. 000, 16 abr. 1941. (Retificação) Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, Seção 1, p. 7.452, 18 abr. 1941.

BRASIL. Lei n. 378, de 13 de janeiro de 1937. Dá nova organização ao Ministério da educação e Saúde Pública. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, Seção 1, p. 1210, 15 jan. 1937.

BRASIL. Política Nacional do Esporte. Brasília, DF: Ministério do Esporte, 2005. Disponível em: http://www.esporte.gov.br/arquivos/politicaNacional/ politicaNacionalCompleto.pdf. Acesso em: 29 mar. 2017.

DELEUZE, Gilles; GUATARRI, Félix. Mil Platôs: capitalismo e esquizofre- nia. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.

Perfil dos estados e dos municípios brasileiros: esporte – 2016.

Coordenação de População e Indicadores Sociais. Rio de Janeiro: IBGE, 2017. LAJES. (Município do Estado do RN). Lei n. 290, de 4 de novembro de 1994. Cria a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer e dá outras providências. 1994. MACAÍBA. (Município do Estado do RN). Lei n. 1.168, de 18 de janeiro de 2005. Autoriza o Chefe do Poder Executivo a desmembrar a Secretaria

Municipal de Cultura, Esportes, Lazer e Turismo, e dá outras providências.

Boletim Oficial do Município de Macaíba, Macaíba, 18 jan. 2005.

MACAÍBA. (Município do Estado do RN). Lei n. 1.765, de 29 de setembro de 2015. Autoriza o poder executivo a instituir o programa bolsa atleta e dá outras providências. Boletim Oficial do Município de Macaíba, Macaíba, 1º out. 2015a.

MACAÍBA. (Município do Estado do RN). Lei n. 1.783, de 28 de dezembro de 2015. Institui programas esportivos e de lazer destinados a agremiações esportivas amadoras, associações comunitárias e entidades congêneres e dá outras providên- cias. Boletim Oficial do Município de Macaíba, Macaíba, 28 dez. 2015b.

MEAD, L. M. Public Policy: Vision, Potential, Limits. Policy Currents, [S.l.], fevereiro: 1-4. 1995.

NATAL. (Município do Estado do RN). Decreto n. 10.413, de 29 de agosto de 2014. Dispõe sobre as competências, a estrutura básica e o Quadro de Lotação de Cargos Comissionados da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer – SEL, e dá outras providências. Diário Oficial do Município, Natal, ano XIV, n. 2.851, 30 ago. 2014.

NATAL. (Município do Estado do RN). Lei Ordinária n. 4.692, de 3 de novembro de 1995. Dispõe sobre a criação do Conselho e o Fundo Municipal de Apoio ao Esporte – FME, e dá outras providências. Diário Oficial do

Município, Natal, 7 nov.1995.

OURO BRANCO. (Município do Estado do RN). Lei n. 600, de 24 de março

de 2008. Dispõe sobre a organização administrativa da Prefeitura Municipal

de Ouro Branco, RN e dá outras providências. 2008.

OURO BRANCO. (Município do Estado do RN). Lei n. 870, de 29 de

março de 2016. Aprova o Plano Municipal de Esporte Educacional Seguro e

Inclusivo de Ouro Branco, RN, e dá outras providências. 2016a.

OURO BRANCO. (Município do Estado do RN). Portaria n. 121, de 31 de março

PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia; ESCÓSSIA, Liliana da (org.). Pistas

do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetivi-

dade. Porto Alegre: Sulina, 2009.

RIO GRANDE DO NORTE. (Estado). Constituição do Estado do

Rio Grande do Norte. Natal: Governo do Estado, 1989. Disponível

em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/70437/CE_ RioGrandedoNorte.pdf?sequence=1. Acesso em: 25 abr. 2017.

RODRIGUES, M. M. A. Políticas Públicas. São Paulo: Publifolha, 2011. ROSÁRIO, Nísia M do. Mitos e cartografias: novos olhares metodológi- cos na comunicação. In: MALDONADO, A. E. et al. (org.). Perspectivas

Metodológicas em comunicação: desafios na prática investigativa. João

Pessoa: Editora Universitária, UFPB, 2008. p. 195-220.

RUA, M. das G. As políticas públicas e a juventude dos anos 90. In: RUA, M. das G. Jovens acontecendo na trilha das políticas públicas. 2. ed. Brasília, DF: CNPD, 1998. p. 731-752.

SECCHI, L. Análise de políticas públicas: diagnóstico de problemas, recomendação de soluções. São Paulo: CengageLearing, 2016.

SILVA, D. A. S. Evolução histórica da legislação esportiva brasileira: do estado novo ao século XXI. Revista Brasileira de Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, [S.l.], v. 3, n. 3, p. 69-78, set. 2008.

SOUZA, C. Políticas públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano 8, n. 16, p. 20-45, jul./dez. 2006.

XAVIER, E. M.; DOMINGOS JR., R. A atividade física com um direito social para criançase adolescentes: um introito. EFDeportes.com. Revista Digital, Buenos Aires, ano 18, n. 184, set. 2013. Disponível em: http://www.efdeportes.com/ efd184/a-atividade-fisica-com -um-direito-social.htm. Acesso em: 25 mar. 2017.

Grande do Norte: os espaços e os