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Considerações Finais e Perspectivas Futuras

Participação em EIL

8. Considerações Finais e Perspectivas Futuras

Uma vez que este trabalho foi desenvolvido no laboratório dos SMAS de Sintra, não ficaria completo sem uma reflexão sobre a prevalência e os riscos que a Legionella representa para os sistemas de abastecimento. Como tal, para além de uma descrição da Legionella, das suas características, bem como da Doença dos Legionários e da sua ocorrência, foram apresentados alguns estudos nacionais e internacionais sobre a presença dessa bactéria nos sistemas de abastecimento. Embora não se encontre disponível um estudo sobre os sistemas de abastecimento nacionais, foi detectada Legionella em sistemas de distribuição de países como a Itália e a Letónia, com valores de 22.6% e 42.0%, respectivamente, de presença nas amostras analisadas. Estes resultados permitem concluir que a presença deste microrganismo nos sistemas de abastecimento apresenta sérios desafios para a saúde pública.

No que respeita aos métodos de desinfecção para eliminar Legionella dos sistemas de abastecimento, todos, quer físicos quer químicos apresentam vantagens e desvantagens, não existindo até à data, um método que se possa considerar óptimo. Assim, torna-se muitas vezes necessário combinar a aplicação de mais que um processo de desinfeção.

Quanto aos métodos de análise de Legionella, apenas dois dos métodos descritos nesta tese são normalizados, o método cultural normalizado pela ISO 11731 e o método por PCR normalizado pela ISO 12869. O LegiolertTM e o Legipid®, além de não estarem até ao momento normalizados, só permitem

detectar e quantificar ou Legionella pneumophila ou Legionella spp., respectivamente, o que representa uma desvantagem por não permitir dar resposta à legislação nacional.

O método cultural consiste numa análise demorada, podendo ocorrer durante o período de incubação crescimento de flora contaminante e não detecta células viáveis não cultiváveis. Por outro lado, uma análise por PCR também pode ser afectada por interferentes, muitas vezes presentes nas amostras de matrizes mais complexas, como por exemplo amostras de torres de refrigeração. Acresce ainda que, não existe até ao momento uma relação entre unidades formadoras de colónias e unidades genómicas, o que inviabiliza a aplicação da técnica de PCR para dar resposta a imperativos legais, pois a Legislação Portuguesa actual refere-se sempre à quantificação de Legionella em ufc. Contudo, é importante mencionar que na literatura a cultura continua a ser definida como o método de referência, apesar das limitações que apresenta.

No decorrer deste trabalho, a implementação do método teve início com a análise de Material de Referência e de amostras contaminadas artificialmente, permitindo assim a familiarização com as colónias

típicas de Legionella e o conhecimento do desempenho do meio de cultura. Por se tratar de um método normalizado, não foram efectuados os ensaios e cálculos relativos à sensibilidade, especificidade, selectividade, eficiência, falsos positivos e falsos negativos. Pelo que, para validação do método, o laboratório seguiu o procedimento interno de implementação/validação de métodos que contempla a determinação do critério de precisão por análise de amostras em duplicado, a estimativa de incerteza por realização de ensaios em paralelo executados por diferentes analistas, a elaboração de cartas de controlo para avaliação da produtividade dos meios de cultura e a participação em ensaios interlaboratoriais.

Os critérios de precisão determinados apresentaram valores entre os 0,284 e os 0,481. Os valores mais elevados foram observados para o método FME para os dois parâmetros, Legionella pneumophila e Legionella spp.. Os CP determinados para Legionella pneumophila resultam apenas de 10 valores de duplicados, no entanto, a variação do CP entre métodos é menor do que para o parâmetro Legionella spp..

O cálculo da estimativa de incerteza com base nos ensaios em paralelo ficou concluído apenas para o parâmetro Legionella spp. determinado pelos métodos Directo e por FM. Contudo, avaliando os resultados actuais verifica-se que a Incerteza Combinada varia entre os 0,1242 e os 0,1946, a Incerteza Intrínseca Relativa varia entre os 11% e os 20%, enquanto a Incerteza Operacional Relativa apresenta os valores entre os 20% e os 38%. Comparando os valores de Incerteza determinados para este parâmetro, com outros já implementados no laboratório, verifica-se que as Incerteza Combinada e Incerteza Intrínseca Relativa determinada para os parâmetros de Legionella spp. e Legionella pneumophila, são semelhantes aos valores já existentes para outros parâmetros. No entanto, em relação à Incerteza Operacional Relativa, esta apresenta valores ligeiramente superiores quando comparada com outros parâmetros. Importa referir que a Incerteza Operacional é a combinação de todas as incertezas associadas ao procedimento técnico, pelo que o facto da sementeira se fazer por espalhamento e o tempo de incubação ser tão extenso, podem ser factores determinantes para este aumento comparativamente aos outros métodos já implementados no laboratório.

A construção de Cartas de Controlo ou Cartas Guia para avaliação de performance dos meios de cultura, permitiu estudar o desempenho do meio e avaliar tendências. Foram construídas três Cartas Guia, uma para avaliação do meio BCYE, que foi comparado com um lote anterior do mesmo meio e apresentou um valor médio de 103%, sendo a produtividade pretendida entre os 70% e os 140%. Já para avaliação do meio de GVPC foram elaboradas duas Cartas Guia distintas, uma para crescimento de Legionella anisa, outra para Legionella pneumophila. Em ambos os casos pretende-se obter uma produtividade superior a 50% face ao meio de crescimento não selectivo BCYE. Obteve-se para L. anisa uma produtividade de 76% e para Legionella pneumophila uma produtividade de 66%. Estes resultados de produtividade, embora estejam afastados da situação ideal de 100% estão dentro do que era expectável para o meio GVPC.

Para realização de EIL, o Laboratório dos SMAS de Sintra participou no Programa Nacional de Avaliação Externa da Qualidade - Microbiologia de Águas, do Instituto Nacional De Saúde Doutor Ricardo Jorge, I.P. designado por Legionella Isolation Scheme. Dessa participação, obteve-se desempenho satisfatório em 6 dos 8 ensaios realizados.

Actualmente, o laboratório está a aguardar a emissão pelo IPAC do novo Anexo Técnico, que evidência a Acreditação dos parâmetros de pesquisa e quantificação de Legionella spp. e Legionella pneumophila em amostras de águas por método interno. É objectivo do laboratório obter a acreditação dos mesmos parâmetros de acordo com a Norma de Referência, para tal apenas necessita substituir a utilização do meio GVPC por meio BCYE+AB para amostras com elevada concentração de Legionella e baixa concentração de microrganismos interferentes.

A publicação da Lei nº 52/2018, que estabelece o regime de prevenção e controlo da Doença dos Legionários, obriga o registo de todos os equipamentos de transferência de calor que possam gerar aerossóis de água, a elaboração de um plano de controlo de pontos críticos e a realização de análises periódicas ao parâmetro Legionella em laboratórios Acreditados pelo IPAC, pelo que se prevê um aumento na procura desta análise por parte dos clientes externos e munícipes. Por outro lado, continua em discussão a imposição legal da análise de Legionella spp. e Legionella pneumophila em sistemas de abastecimento de águas, pelo que o Laboratório dos SMAS de Sintra já dispõe da capacidade de resposta face a essa eventual imposição.

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