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Com o aumento da tributação e com pouco retorno em melhorias em setores públicos, é possível afirmar a existência de um claro descontentamento da população brasileira com o cenário econômico e político atual. A maior acessibilidade às informações derivada do desenvolvimento tecnológico, em conjunto com o desenvolvimento das mídias e das redes sociais, possibilitou a crescente tendência de uma pressão popular por melhorias na estrutura socioeconômica do país. Dessa forma, maneiras inovadoras de formulações de políticas públicas se fazem necessárias. A Economia Comportamental, sendo uma área baseada em modelos da neurociência, na teoria microeconômica e na psicologia, disponibiliza ferramentas de auxílio na construção dessas políticas.

A eficácia de políticas públicas depende da compreensão do comportamento dos indivíduos, de como eles realizam o processo decisório, de como eles podem ser impulsionados a tomarem atitudes que melhorem o bem-estar social. Em outras palavras, a percepção de fatores psicológicos dos indivíduos que formam uma população é fundamental para que sejam implementadas políticas que, de fato, possam mudar ou aprimorar suas formas de agir, suas condutas e etc. Teorias do behaviorismo, os Behavioural insights, vêm cada vez mais sendo aplicados internacionalmente, com progressivos estudos empíricos e de campo que buscam efetuar a análise de como o ser humano raciocina em seus momentos de decisão, para que, assim, a atuação estatal possa ser mais eficaz. Reino Unido e Estados Unidos foram os pioneiros nas implementações dos insights nas políticas públicas, porém, diversos outros países estão seguindo o mesmo exemplo.

Atualmente, a ideia do ser humano como um agente econômico dotado de racionalidade, como postulado na Teoria Neoclássica, vem paulatinamente sendo desconstruída. A Economia Comportamental vem ganhando cada vez mais espaço, sendo gradualmente aprimorada. Tendo toda essa conjuntura em vista, a Economia Comportamental, seu surgimento, postulados e aplicações internacionais consistiram no cerne do estudo deste trabalho.

Após a análise de experimentos formulados por meio de estudos do comportamento do indivíduo, os quais fundamentaram políticas públicas internacionais, foi possível comprovar uma melhora no bem-estar social após adoção dos Behavioural Insights. No caso do Brasil, apesar de pouco difundida, a Economia Comportamental vem ganhando espaço, onde entidades públicas, como ENAP e GNova demonstraram interesse em sua utilização como forma de inovação na formulação das políticas públicas.

Questões éticas são por diversas vezes levantadas com o uso da Economia Comportamental na elaboração de políticas públicas. A Arquitetura das Escolhas pode ser considerada como forma de manipulação, com mecanismos que contêm diferentes variáveis de imposição, levantando também o questionamento das intenções e competências dos planejadores das políticas sociais, afinal estas são realizadas por governos que não necessariamente agem sempre visando o bem comum. Dado o aumento da eficiência das políticas públicas internacionais após utilizarem os Behavioural Insights em suas elaborações, as críticas e o cepticismo de seu uso reduziram. De acordo com a OCDE (2017), apesar de serem levantadas, poucas organizações reportaram preocupação com critérios éticos.

Conclui-se que a hipótese do presente trabalho foi confirmada, na qual a eficácia das políticas públicas pode ser melhorada via Economia Comportamental, sendo extremamente necessária como provedora de ferramentas para elaboração de metodologias constituintes de uma política pública adequada, dado que a mesma busca uma análise do comportamento do indivíduo, otimizando assim o efeito da política pública através de redução de custos ou de seus efeitos colaterais.

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