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As sociedades de cultura ocidental, baseadas num paradigma materialista, industrial, de consumo e produção; baseadas na competitividade, no fatiamento do conhecimento em disciplinas isoladas, num entendimento mecânico da realidade e na superioridade do conhecimento científico em relação a outras formas de produção de conhecimento, conduziram a uma sobrevalorização de determinadas características de raciocínio (o raciocínio lógico, linear, sequencial, analítico, o pensamento abstrato, convergente, calculado e objetivo, centrado na técnica e no detalhe). A sobrevalorização destas características de raciocínio acabou por determinar o modo como a escola é desenhada tanto ao nível físico/arquitetónico como programático, tendo em vista alimentar as indústrias com recursos humanos.

Essa conjuntura foi alimentando a perda de uma visão holística da realidade, o progressivo distanciamento do ser humano relativamente à Natureza e uma voraz sobre-exploração dos recursos naturais do sistema Terra, baseada na competitividade e no crescimento pelo crescimento. Tudo isso, tem tido como consequência o colapso ambiental à escala planetária.

As instituições governamentais e não-governamentais (nacionais e internacionais), reconhecendo os problemas ambientais com que nos deparamos e a necessidade de encontrar soluções rapidamente, têm-se desdobrado na produção de uma infinidade de metas, recomendações, decretos, referenciais, estratégias de educação ambiental, etc. Reconhecem a Educação e a transdisciplinaridade como fatores determinantes na alteração de comportamentos e atitudes. Percebemos que nenhuma dessas iniciativas e manifestações de intenções chegaram de forma concreta à sala de aula na disciplina de Desenho A, durante o período de estágio.

Percebemos também que, segundo as estatísticas sobre o ambiente em Portugal e um estudo sobre as práticas de educação ambiental, existem falhas, défices, ineficácias.

E fica a ideia de que no campo da educação ambiental, apesar do muito que

tem sido feito, há ainda muito trabalho a fazer. Fica a esperança de que no âmbito da “Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania”, e em convergência com uma série de documentos nacionais e internacionais de referência (alguns deles já

referidos anteriormente) se implemente, nas escolas públicas e privadas que integram o Projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular: o desenvolvimento de competências pessoais e sociais; a promoção do pensamento crítico; o desenvolvimento de competências de participação ativa; o desenvolvimento de conhecimentos em áreas não formais; e que haja aí lugar para a educação ambiental.

Verificamos, no documento “Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória” um ênfase numa visão humanista (centramento no Homem e na Humanidade) ao invés de numa visão holística da realidade. E na Lei de Bases do Sistema Educativo o impedimento de se programar a educação segundo diretrizes filosóficas.

Só uma nova diretriz filosófica, que permita pensar a humanidade não como o centro de toda a existência mas parte interdependente do Todo, permitirá a mudança de comportamentos e atitudes, necessária no cenário ambiental atual. Mas não é necessário um decreto, norma ou diretriz vindos de hierarquias superiores para que a educação ambiental se instale na sala de aula: os programas de Desenho A apresentam margem de manobra e flexibilidade suficientes para que tal aconteça, bastando para isso professores capacitados e motivados para tal.

É no processo de construção de uma visão holística da realidade que surge o campo das artes visuais, e o desenho em particular, como áreas de vital importância.

E são áreas de vital importância porque mobilizam nas suas práticas, formas de raciocínio diferentes daquelas em que o sistema educativo tem vindo a colocar ênfase: tipos de pensamento mais divergentes e simultâneos, mais intuitivos e metafóricos, subjetivos e não lineares - concentrados no todo de uma dada realidade. O projeto “solo na escola” mostra-nos como é possível trazer até à sala de aula uma prática que, ao mesmo tempo que capacita os alunos no sentido de produzirem os seus próprios materiais ecológicos de expressão plástica, coloca-os em contato com a natureza na recolha das matérias-primas. Para além de mobilizar conteúdos de diferentes áreas do conhecimento.

Depois, o caso de três artistas cujo trabalho se funde com o próprio modo de vida já em linha com valores mais consentâneos relativamente à projeção de um futuro sustentável. Por um lado, trazem-nos a utilização de materiais naturais, sustentáveis, recolhidos localmente e nesse processo os artistas colocam-se em

contato com a natureza. Por outro lado, a mensagem que transmitem é a da tomada de um posicionamento crítico face ao estado atual do planeta em termos ambientais.

Relativamente ao estágio, aconteceu enquadrado numa antiga escola industrial que surgiu precisamente para servir as indústrias locais com recursos humanos. E as recentes obras de requalificação materializam ainda os valores do paradigma civilizacional que aqui se apresenta como obsoleto, na medida da sua insustentabilidade. Como aqui já foi dito, a configuração da sala de aula acabou por impedir o desenvolvimento da primeira proposta de prática didática que, do meu ponto de vista estaria muito mais alinhada com tipos de pensamento mais divergentes e simultâneos, mais intuitivos e metafóricos, subjetivos e não lineares - concentrados no todo de uma dada realidade. Ao mesmo tempo que transformaria a sala de aula num verdadeiro laboratório de transdisciplinaridade e produção de materiais de expressão plástica sustentáveis, capacitando os alunos para essa mesma produção e levando-os ao contato com a natureza.

Recuperando o ponto de vista de Vilaça (2008), esse seria um processo educativo muito mais voltado para a ação sobre a realidade local dos alunos, mais do que para a mera execução de atividades para cumprir programa. A proposta que acabou por ser realizada, por estar muito mais enquadrada no programa e no poder disciplinador do formato da sala de aula, foi muito mais direcionada para o domínio do detalhe e da técnica assim como das características de raciocínio a que todo o sistema educativo dá primazia: raciocínio lógico, linear, sequencial, analítico, o pensamento abstrato, convergente, calculado e objetivo. No entanto, acreditando no potencial do desenho para modificar a inteligibilidade do real (ponto 6.1), espera-se que desta prática didática germinem novas cadeias de pensamento no âmbito das questões ambientais.

Aparentemente, encontramo-nos numa época de transição entre paradigmas civilizacionais: de um modelo baseado no antropocentrismo competitivo e consumidor de recursos, na separatividade, no crescimento pelo crescimento, para um modelo baseado na unicidade, no trabalho colaborativo e numa visão ecológica e holística da realidade. Em que o ser humano não está acima de tudo, é parte do Todo: existe numa relação colaborativa e interdependente com tudo o que o rodeia.

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10. Anexos

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