Propomos neste momento, traçar considerações finais sobre esta pesquisa, tendo como pano de fundo os objetivos propostos inicialmente. Relembramos que, primeiramente, buscamos perceber se contribuições educativas para o lazer se faziam presentes nas reflexões e/ou nos relatos das práticas pedagógicas de professores de Educação Física Escolar, assim como refletir juntos outras possíveis relações da Educação Física Escolar e a educação para o lazer. Em seguida a este processo de discussões e questionamentos, tratamos de identificar se e como estas intervenções repercutiram nas reflexões e/ou ações pedagógicas dos professores participantes em relação à educação para o lazer nas aulas de Educação Física Escolar.
Identificamos a existência de elementos constitutivos do espaço escolar ligados à sua estrutura organizacional que podem refletir ou estabelecer relação com a formação de representações acerca do lazer físico e esportivo pelos alunos. Para além disso, percepções relacionadas aos entendimentos e práticas pedagógicas dos professores de Educação Física Escolar participantes apontam, através de seus relatos, contribuições educativas para o lazer dos alunos em suas aulas. Notamos que estas ações se manifestam de maneias diferenciadas segundo os objetivos dos professores, podendo se expressar implícita e explicitamente nas aulas de Educação Física.
Diante do sentido de práticas subentendidas, implícitas, caracterizamos as ações pedagógicas relatadas pelos participantes desenvolvidas com objetivos que não diziam respeito à contribuição educativa para o lazer dos alunos fora da escola. Estas práticas subentendiam contribuir, embora os professores não tivessem pensado nisso ao propô-las. Todos os participantes relataram contribuições implícitas da Educação Física na escola para as vivências de lazer dos alunos. A seguir, apresentamos de forma sucinta exemplos de tais contribuições da Educação Física Escolar:
- Atividades práticas e discussões acerca das diferenças humanas na tentativa de inclusão de todos os alunos nas aulas de Educação Física Escolar;
- Discussões com os alunos sobre valores e atitudes expressas em situações de jogos, brincadeiras e danças as quais demonstravam características como agressividade, desrespeito, timidez, egoísmo, preconceitos com pessoas de habilidades diferenciadas;
- Diversificação dos conteúdos da Educação Física Escolar ministrados nas aulas;
- Conversas com os alunos sobre a utilização ou vivência dos conteúdos da Educação Física em outros contextos fora da escola.
As ações explícitas relacionam-se àquelas expressamente enunciadas, caracterizando desta maneira, relatos de práticas e reflexões desenvolvidas pela vontade própria de professores a fim de contribuir para as vivências de lazer dos alunos, mesmo que tivessem também outros objetivos propostos. Identificamos as seguintes práticas pedagógicas:
- Discutir com os alunos acerca das vivências de lazer e suas barreiras diante da diversidade de raça, faixa etária e características físicas constitutivas em nossa sociedade;
- Incentivar as práticas físicas e esportivas vivenciadas fora da escola e relatadas pelos alunos ao professor;
- Privilegiar a expressão lúdica nas vivências corporais para que venham se manifestar nos momentos de lazer dos alunos;
- Diversificar os conteúdos das aulas de Educação Física Escolar a fim de contribuir com vivências potencializadoras de hábitos saudáveis nos momentos de lazer;
- Propor pesquisas e discussões sobre lazer físico e esportivo no meio ambiente;
Percebemos que a interface da Educação Física Escolar com a educação para o lazer pode ainda aprofundar-se em reflexões e ações explícitas, elaboradas e pensadas para este fim. A relação da Educação Física Escolar, com as vivências de lazer físicas e esportivas pode adquirir uma dimensão própria e ser valorizada nas práticas pedagógicas, garantindo aos alunos a apropriação das manifestações corporais que constituem formas de expressão cultural também nos tempos de lazer.
Ainda dentro do nosso primeiro desafio para a pesquisa, construímos outras práticas educativas relacionadas à Educação Física Escolar e a educação para o lazer:
- Resgatar a cultura de brincadeiras e jogos antigos relacionados com as práticas corporais;
- Propor criação e transformações de brincadeiras e jogos;
- Discutir significados e a importância do lazer físico e esportivo junto aos alunos;
- Enfatizar o lúdico ao propor as vivências dos conteúdos culturais físicos e esportivos para suas possíveis manifestações nos momentos de lazer;
- Buscar uma formação crítica dos alunos acerca da cultura corporal para que possam discernir informações veiculadas pela mídia;
- Demonstrar que o lazer está também na atitude das pessoas, não dependendo somente de fatores como o acesso a equipamentos específicos e recursos financeiros para seu usufruto;
- Incentivar relações humanas solidárias, respeitosas e inclusivas nas vivências físicas e esportivas;
- Orientar os alunos acerca das vivências corporais no meio ambiente;
Por fim, diante do nosso segundo objetivo percebemos, através das entrevistas finais, construções e ampliações de conceitos e práticas em relação à Educação Física, ao lazer e a educação para esta vivência.
As repercussões diferenciaram-se de acordo com as possibilidades da realidade de cada professor, assim como dos entendimentos que constróem acerca das contribuições que a Educação Física Escolar pode oferecer.
As mudanças práticas não puderam ser efetivamente identificadas nos relatos dos professores pelas circunstâncias por eles citadas como, por exemplo, a semana de recesso escolar no período entre o encontro e a entrevista final e planejamentos anuais já elaborados. Para alguns, embora o programa para a Educação Física estivesse definido, ações educativas voltadas para o lazer, dentro das citadas anteriormente, foram acrescentadas na prática pedagógica.
Diante disso, o desenvolvimento desta pesquisa possibilitou-nos diferentes aprendizagens através dos levantamentos bibliográficos, dos contatos iniciais com as escolas e professores, das vivências de momentos alegres, otimistas, de grandes esforços, mas também de insegurança e incertezas. Enfim, um conjunto de elementos constitutivos da pesquisa contribuíram para a aprendizagem. No entanto, gostaríamos de ressaltar e enaltecer um outro ensinamento, fruto dos encontros com os professores.
Encontros... Parecem ser tão corriqueiros, mas por vezes mostram-se raros. Encontros nos quais as pessoas, prazerosamente, se envolvem, se olham, se ouvem, conversam, desabafam, acolhem, compartilham sentimentos e experiências, são cúmplices e parceiros, incentivam, sugerem, enfim, encontros “humanos”, possibilidades de conhecer e criar novas maneiras de ver o mundo com e a partir do diálogo permanente.
O encontro pode surgir, dentre outras formas, a partir da percepção de que algo precisa ser discutido e/ou modificado. Ir ao encontro é colocar-se a caminho e disponibilizar-se para o debate e a aprendizagem, vislumbrando propostas e contribuindo para a formação de novos olhares sobre o objeto de estudo, manifestando-se ativamente na revisitação dos conteúdos tradicionais.
Os encontros com os participantes da pesquisa permitiu-nos perceber que o ato de encontrar-se com seus parceiros profissionais tem apresentado barreiras, ocasionando certa raridade. Muitas vezes se sentem sós, inseguros dos trabalhos pedagógicos que vêm desenvolvendo. Através das falas dos participantes percebemos como nossos encontros, humanamente, representaram ricas trocas de experiências, construção e ampliação de conhecimentos, compartilhamento de situações nas quais se sentiam únicos ou isolados, revelando uma reciprocidade de sentimentos.
Precisamos encontrar formas de abertura para irmos ao encontro das pessoas, principalmente dos nossos colegas de profissão. Conversar, trocar experiências, construir diálogos frutíferos, descobrindo criativamente novas formas de construir a prática pedagógica da Educação Física na escola.
Assim, para além dos diálogos propiciados na formação inicial dos estudantes, propostas para um contínuo encontro entre os professores de
Educação Física, pesquisadores e conhecedores de diferentes realidades práticas escolares, poderiam ser elaboradas visando conceder a oportunidade de serem ouvidos, acolhidos, poderem conversar, desabafar, compartilhar sentimentos e saberes práticos e para, através da cumplicidade e parceria, construírem encontros “humanos” em busca de novos olhares sobre as práticas escolares.
Assim, acreditamos que as políticas públicas e diretrizes educacionais podem se constituir vias para que estas oportunidades se efetivem no campo da Educação Física. Além desta maneira, ao utilizarmos o referencial teórico da pesquisa-ação, vislumbramos que esta proposta constitui também uma possibilidade das interações entre “professores-pesquisadores” se concretizarem, mediada por “pesquisadores-acadêmicos”.