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propostos pelo SUS para a concretização da ESF como estratégia contra hegemônica de atenção à saúde, portanto nega a integralidade. Os resultados indicam a reprodução do paradigma biomédico na organização do serviço e na produção das práticas de saúde, bem como a manutenção dos processos de trabalho e de gestão do serviço orientados para a ótica autocrática de base taylorista.

Na realidade estudada, a manutenção desses modelos tem dificultado o trabalho educativo com mulheres na perspectiva emancipatória e participativa e distanciado o cuidado da integralidade. A inexistência de intervenções educativas é justificada, sobretudo, pela estrutura física do serviço e pelo modelo de gestão ambos atendendo ao modelo clínico individual, que inviabiliza o coletivo.

A desvalorização do trabalho profissional, a falta de apoio logístico e a prioridade para a produtividade foram citados como fatores de desmotivação para o trabalho na ESF e como dificuldades para o trabalho educativo com as mulheres. Soma-se a isso a gestão centralizada e hierarquizada adotada pelos/as dirigentes. Diante disso, forma-se um ambiente de desestímulo e descrédito para o trabalho educativo, que se dilui diante da prioridade para o alcance de metas.

A ESF tem a superação da cultura biomédica como desafio primordial para a transformação desse cenário e para a construção de práticas integrais. Contudo, isso não será possível sem que também haja a reorientação dos processos de ensino-aprendizagem na formação de profissionais da saúde, ainda influenciado por esse paradigma. Assim, transformar a formação e a atenção à saúde são movimentos simultâneos e complementares. Uma alternativa a essa transformação é a inclusão de metodologias ativas no processo de formação profissional e a incorporação da Educação Permanente como forma de qualificação de trabalhadores/as para o desenvolvimento das competências exigidas ao trabalho na ESF.

Nesse sentido, enfatizamos a responsabilidade dos serviços e de gestores/as do sistema de saúde com a continuidade da formação das/os trabalhadoras/es da atenção básica. Para além das limitações existentes na formação acadêmica, considera-se necessário um olhar diferenciado, por parte das pessoas que gerenciam as unidades básicas de atenção à saúde, com a responsabilidade ética e política de instrumentalizar técnica e pedagogicamente as/os profissionais para a complexidade do trabalho na ESF e para a tarefa basilar de educar em saúde.

Esse debate nos leva a algumas reflexões: o que a gestão do SUS tem feito para qualificar seus/ suas trabalhadores/as? Que estratégias tem utilizado para aperfeiçoar as

potencialidades de profissionais da atenção básica em favor da coletividade? A inexistência de trabalhos que priorizam a educação em saúde na ESF é realmente uma consequência da escassez de recursos e déficits estruturais? Por que profissionais e gestores/as não tem valorizado a educação em saúde enquanto elemento estruturante das ações de cuidado na ESF?

Desse modo, acredita-se que reorientar as práticas desenvolvidas na conjuntura analisada exige de trabalhadores/as, mulheres (e usuários/as, num contexto mais amplo) e gestores/as da atenção básica a aposta na mudança dos modos tradicionais de gestão e de atenção adotados. A partir disso, será possível reorientar o trabalho educativo com as mulheres na ESF e desenvolver práticas educativas mais horizontais, dialógicas e participativas, capazes de impactar na resolução de problemas e que sejam sensíveis às demandas das mulheres.

Operacionalizar a integralidade, portanto, implica em mudanças das práticas e dos processos de trabalho individual e em equipe para a produção de cuidado humanizado, ético e resolutivo. Essas mudanças exigem esforço e compromisso conjunto de trabalhadores/as, usuários/as e gestores/as para revisão de valores, paradigmas e construção de estratégias mais participativas e integradoras.

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7.2 ARTIGO 2

O artigo “Resistência de mulheres ao modelo biomédico de educação em saúde” foi elaborado a partir das instruções as/os autoras/es para publicação e apresentação aos editores da Interface- Comunicação, Saúde, Educação, uma publicação interdisciplinar, trimestral, editada pela UNESP (Laboratório de Educação e Comunicação em Saúde, Departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina de Botucatu e Departamento de Educação, Instituto de Biociências de Botucatu), dirigida para a Educação e a Comunicação nas práticas de saúde, a formação de profissionais de saúde e a Saúde Coletiva em sua articulação com a Filosofia, as Ciências Sociais e Humanas Disponíveis no link: http://interface.org.br/wp- content/uploads/2015/01/Interface_Author-Guide-portugues-Final.pdf.

RESISTÊNCIA DE MULHERES AO MODELO BIOMÉDICO DE EDUCAÇÃO