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O trabalho teve como pergunta norteadora a relação entre a Lei Eloy-Chaves e a pressão da esfera pública em colocar novas demandas, com carácter social, na agenda governamental. A inserção de políticas sociais na agenda institucional fica evidente tanto nos argumentos de Oliveira (2015) sobre a mutação do conceito “questão social”, quanto pelos dados sobre as Mensagens Presidenciais, conforme explicitado no Capítulo 3 deste documento. A segunda parte da pergunta norteadora não tem uma resposta empírica, pois não há como medir a pressão que a esfera pública conseguiu exercer para a entrada dos direitos sociais na Agenda Pública. Entretanto, o trabalho traz um argumento que tais mudanças ocorreram pela ascensão de opiniões públicas da esfera trabalhista expondo narrativas destes cidadãos.

Esta hipótese baseia-se tanto nas narrativas que são expostas nos processos legislativos analisados, quanto na literatura consultada, construindo a partir de uma série de fatos um argumento para colocar que as novas demandas ocorreram por uma pressão de esferas públicas antes ignoradas. No argumento, coloca-se uma readequação do movimento trabalhista, assim como um novo paradigma ao sistema econômico durante a Primeira Guerra Mundial. Desses dois fenômenos, os trabalhadores conseguiram organizar-se de uma forma que não pudessem ser ignorados perante a oligarquia da Primeira República.

Com este argumento, o trabalho responde que houve novas demandas no contexto da Lei Eloy-Chaves – que a pesquisa desenha como os anos de 1917 a 1923, conforme os dados sobre a Agenda Pública – e que estas novas demandas são ocasionadas pela pressão exercida pela readequação da sociedade civil, entendendo que há um elo perdido temporal entre as opiniões públicas e a agenda institucional (SOROKA e LIM, 2003). Porém há algumas fraquezas na resposta. A primeira delas é a incapacidade de analisar de forma empírica os movimentos da esfera pública, tanto pelo seu conceito amplo, quanto pela ausência de dados. O método utilizado para apreender tal fato foi dedutivo, que consequentemente pode trazer falhas pela subjetividade do autor frente aos seus dados. O ato de deduzir é realizar um salto no escuro, com os dados e os fatos conseguindo jogar certa iluminação no outro lado. Ao

104 saltar-se, pula-se onde há maior expectativa de uma aterrisagem segura conforme o conhecimento adquirido anteriormente, mas há sempre incertezas.

Outro ponto a ser considerado é o reducionismo do termo Agenda Pública. Por uma questão prática, utilizou-se dados condensados sobre a Agenda, porém, ao se fazer a pesquisa, havia pleno conhecimento que a Agenda Institucional não se resume apenas às Mensagens Presidenciais. Pelo contrário, as Mensagens Presidenciais são um resumo da Agenda. Outro fator limitante da pesquisa foi ater-se aos ambiente democráticos institucionais nos processos legislativos, não houve movimento para abrir o acervo pessoal dos envolvidos nos processos legislativos.

Dos objetivos específicos, dois não puderam ser contemplados. A capacidade de entender a dinâmica da esfera pública na Primeira República para mapear sua evolução temática e comportamental não foi atingido devido ao fato de a pesquisa utilizar-se de um conceito de esfera pública de difícil padronização para a aquisição de dados consistentes. A pesquisa também não responde por completo ao objetivo de compreender a inovação proposta pela lei Eloy-Chaves frente a outras iniciativas referentes à seguridade social. Sua inovação é entregar uma previdência tripartite para funcionários privados, inovou-se em um projeto legislativo célere e com um corpo de beneficiados enxuto. Caso se expandisse o conceito de inovação para além das fronteiras brasileiras, o modelo de capitalização proposto era seguido pelos ferroviários argentinos e baseava-se na previdência bismarckiana. Pela dubiedade deste objetivo em sua redação, coloca-se que não há uma resposta clara no projeto.

O objetivo geral da pesquisa foi a revelação do sentido da criação da Lei Eloy- Chaves a partir dos atores políticos, o contexto e as instituições sociais que introduziram o tema na agenda de decisão durante a Primeira República. O trabalho consegue desenhar de forma clara o contexto e as instituições sociais presentes na aprovação do Decreto nº362, porém pouco avança nos atores sociais.

A análise consegue expor que os atores envolvidos na lei foram essenciais para sua promulgação e subverteram a arena política para conseguir uma decisão ao seu favor. Essa subversão ocorre no escopo do Projeto 362, que versa sobre aposentadorias e não regulação do trabalho. Além disso, apenas um pequeno escopo de trabalhadores foi agraciado, os ferroviários de vias particulares. Apesar disso, não se consegue compreender as motivações destes autores em promulgar tal lei

105 A anedota do carro proferida por Eloy-Chaves demonstra que o personagem conseguiu sensibilizar-se à nova conjuntura. E esses novos tempos estavam chegando de forma acelerada: a alfabetização, fator de inclusão nas eleições, estava em uma crescente conforme o censo de 1910 e 1920 devido a um esforço de setores governamentais (FERRARO e KREDLOW ,2004). Os movimentos operários firmavam-se em associações perenes e começavam a organizar-se em torno de lideranças. Contudo, Zaniratto (2003) coloca o sistema de Caixas Previdenciárias como um sistema de coerção a estes novos tempos. O benefício só viria àqueles trabalhadores que seguissem a idealização do trabalhador proposta pela oligarquia. A instituição de caixas neste formato acabou extinguindo por inanição as sociedades comunalistas presentes anteriormente. Apesar disso, o essencial para entender o argumento da Lei Eloy-Chaves como coercitivo é entender o papel central dos ferroviários dentro da economia cafeeira, como trabalhadores especializados e essenciais na logística de grandes volumes, e sua manutenção da rotina de greves mesmo após a Lei de Acidentes do Trabalho em 1919.

Os parlamentares tidos como radicais no assunto trabalhista, como Mauricio de Lacerda e Manuel Villaboim, estavam excluídos desta discussão pela não renovação do mandato. A demanda dos trabalhadores não se alinharia à resposta do governo. Os personagens presentes são defensores de direitos sociais moderados. Dessa forma, o projeto não consegue compreender se os atores políticos presentes no processo legislativo da Lei Eloy-Chaves fizeram tal proposta antecipando direitos sociais conforme a aceitação da oligarquia ou se trabalharam conforme a oligarquia em propor direitos sociais para moldar esferas públicas.

Para esta resposta, o trabalho prospecta alguns possíveis caminhos. O primeiro deles é tentar acessar os acervos pessoais dos atores políticos envolvidos para tentar desvendar suas motivações. O segundo possível caminho é seguir o trabalho de tais autores após a aprovação da Lei Eloy-Chaves: sabe-se que a Emenda nº1 de 1926 redesenhou as competências do governo federal para o legislar de direitos sociais e depois há uma série de regulações aprovadas. Outro caminho possível para solucionar esta questão centra-se na expansão da previdência aos moldes da Eloy- Chaves até o final da Primeira República, quais foram os beneficiados e quais parlamentares envolveram-se nestes processos legislativos. Talvez, com tais dados

106 consiga-se chegar em uma conclusão mais clara se a previdência nasceu como elemento de coação da classe trabalhadora ou como um degrau na longa escada para os direitos sociais.

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