• Nenhum resultado encontrado

A base que norteou a elaboração dessa dissertação foi o grande questionamento do que promovia os problemas que enfrentamos na educação e o papel que o ensino de Filosofia tem nos documentos oficiais e, mais especificadamente, na Proposta Curricular do Estado de São Paulo. A inserção da disciplina de Filosofia no ensino básico foi fundamental, pois ela é a principal ferramenta que fornece ao estudante a crítica diante de tantos entraves para a sua formação autônoma e a garantia das experiências formativas. Porém, já faz seis anos que essa disciplina - junto com a Sociologia - faz parte do currículo escolar e é uma matéria obrigatória, mas ainda encontramos muitos problemas. Isso faz com que sua relevância e contribuição não se concretizem plenamente. Por isso, essa dissertação pesquisou os indícios que fazem com que a Educação e, mais especificadamente, o ensino de Filosofia, não realizem as suas funções na educação brasileira.

Iniciamos a investigação com um olhar para os principais documentos que norteiam o campo prático da Educação, entre os quais se encontra a Lei de Diretrizes e Bases Nacionais que consideramos o mais importante. É ele que irá estipular as tarefas que deverão ser cumpridas em âmbito nacional, regional e estadual. Logo no início desse documento, conforme já mostramos, o foco é dado a uma educação que contribua para a formação da autonomia. Porém, após essa explanação, relata-se que a formação educacional do sujeito no ensino básico tem que o direcionar para cumprir tarefas no mercado de trabalho. Além disso, o conceito de cidadania, exaltado também como a principal tarefa da educação, está ligado às habilidades que o estudante tem em se relacionar com os problemas envoltos ao seu trabalho para que consiga solucionar problemas que eventualmente possam surgir nesse mesmo âmbito. Além disso, engrandece a sociedade tecnológica, tanto é que discute a necessidade das medidas educacionais serem feitas com vistas para fornecer aos estudantes os instrumentos necessários para que ele ganhe autonomia perante as técnicas. Também já encontramos a palavra mais relevante que todos os currículos e propostas devem conter: as competências.

Outro documento que analisamos foram as Orientações Nacionais de Filosofia para o ensino médio. É através dele que a Proposta Curricular do Estado de São Paulo foi elaborada e os conteúdos presentes nos Cadernos do Professor e do Aluno foram

feitos. Nessas Orientações há também contradições, pois estão atreladas às finalidades existentes nas LDB.

Diante disso, a questão central dessa dissertação foi a de investigar se a Proposta Curricular do Estado para o ensino básico de filosofia garantia a formação de experiências formativas, autênticas, ao estudante, ou se contribuía para o processo de barbarização existente nas relações sociais capitalistas.

Acreditamos que o ensino de Filosofia no meio educacional seja um caminho para a garantia das experiências formativas ao estudante e, com isso, a desbarbarização poderá ocorrer, levando à superação do processo de alienação do atual sistema econômico capitalista. Diante dessas discussões, utilizamos como base teórica para esses questionamentos, as discussões feitas por Benjamin acerca dos aspectos positivos e negativos da técnica diante das relações sociais. Junto a ele, também nos debruçamos em alguns escritos de Adorno. Para esses teóricos, a educação contribuirá demasiadamente para refletir sobre as conseqüências da tecnologia e modo como esta pode contribuir para a manutenção dos estados já postos pela sociedade capitalista, mantendo o estado de barbárie.

Adorno alega que desbarbarizar é questão fundamental para a educação. A tecnologia tida como algo vantajoso para sociedade, apenas estimulou ainda mais a barbárie e, é claro, o processo de mutilação das experiências formativas.

A tese que gostaria de discutir é a de que desbarbarizar tornou-se a questão mais urgente da educação hoje em dia. O problema que se impõe nessa medida é saber se por meio da educação pode-se transformar algo de decisivo em relação à barbárie. Entendo por barbárie algo muito simples, ou seja, que, estando na civilização do mais alto desenvolvimento tecnológico, as pessoas se encontrem atrasadas de um modo peculiarmente disforme em relação a sua própria civilização. (ADORNO, 2003, p.155).

A tecnologia promove a barbarização principalmente porque ela se submete aos interesses do capital. Com isso, a formação do sujeito deixa de ser significativa e se torna uma semiformação. Esse processo ganha o respaldo da indústria cultural. Nessa perspectiva, os estudantes do ensino básico continuam no campo da heteronímia, sem refletir no que ocasionou a destruição de suas experiências.

Conforme já dito na seção dois de nosso trabalho, o filósofo Benjamin alegou que com a perda da consciência histórica e a alienação promovida pelo capitalismo, perdemos a Erfahrung, a experiência autêntica advinda da consciência histórica, e houve o crescimento da Erlebnis, a experiência vivida que não carrega nenhuma espécie

de memória? Tal evento pode ser comprovado com a falência da arte de contar. O sujeito que não possui a memória torna-se mero reprodutor de um cotidiano medíocre e mutilador de quaisquer espécies de sentimentos, humanidade e emancipação.

Para que não haja mais a perda de memória é fundamental elaborar o passado. Com isso, a ideologia capitalista se torna perceptível para o sujeito que antes não compreendia os processos de alienação. Todas as coisas obscuras e bárbaras que ocorreram na construção alienada da história da humanidade são trazidas para a realidade, refletindo-se no seu terror e na violência que precede e sucede a nossa atualidade. Dessa forma, a esperança retirada dos sofredores por atos de violência em prol dos benefícios de uma minoria é retornada.

Diante de tantos aspectos negativos que a tecnologia implanta no ser humano, principalmente quando o estudante está em processo de formação de sua consciência enquanto ser social verificamos que a Proposta apresenta indícios que fazem com que o aluno permaneça no estado de barbarização, especialmente quando quase todas as ações educacionais se direcionam para as exigências existentes na sociedade tecnológica e no mundo produtivo capitalista. Dessa forma, torna-se quase que impossível assegurar experiências formativas, já que, via de regra, o estudante se conecta apenas aos processos adaptativos e não supera os entraves presentes neles. Por isso, a disciplina de Filosofia é tão relevante, pois ela pode levar o estudante à reflexão de sua história e, dessa forma, permitir que suas experiências se libertem dos interesses do capital. As análises realizadas nessa pesquisa pretendem ter contribuído na perspectiva da construção desse caminho.