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Essa pesquisa buscou desenvolver formas e métodos de escutar na Escola Emaús, situada em Monte Gordo, Camaçari com os alunos do grupo de 03 anos e a partir daí reconhecer que a relação professor-aluno traz elementos capazes de demonstrar que a escuta sensível interfere diretamente na aprendizagem das crianças dessa faixa etária.

A experiência na referida escola conseguiu demonstrar que cada uma das crianças tem maneiras diferentes de comunicar-se e reafirmar a importância do diálogo e interação no ambiente escolar. Demonstrou também que o trabalho com crianças é algo que exige cuidados e atenção além do que já estamos acostumados, principalmente o estar sensível e atenta à fala das crianças e às outras formas de comunicação.

A minha fundamental dificuldade de estar na sala de aula era quando as crianças se expressavam de formas diferentes, eu como professora só queria ouvir comentários sobre o assunto que era abordado naquele momento, o interromper com outras falas, ou expressões, para mim era um ato de desrespeito ou falta de concentração. Não entendia que as interrupções eram outra linguagem expressa, que poderia sim colaborar de forma eficiente para o desenvolvimento individual e coletivo das crianças na sala de aula.

Deste modo, eu não entendia tanta movimentação, atitudes gerais demonstradas pelas crianças e os vários tipos de comunicação que expressavam. Tudo no entorno era um mundo inexplorado, elas traziam suas vivências, choro, risos, brincadeiras, gestos ou até mesmo aquela criança que ficava calada no seu cantinho tinha algo a dizer. Passei a ouvir a estimular cada expressão e retirar daí o que precisava para tornar a aula envolvente e produtiva.

Sinceramente, tive uma percepção do que a minha prática pedagógica poderia me acrescentar no exercício da rodinha, o parar, saber o que cada “cabecinha” estava pensando me abriu horizontes antes inexplorados. Em sala de aula, com as crianças a rotina da roda a cada dia é uma surpresa, com música, com história, com diversos assuntos abordados, tudo contribuiu para que meu exercício da pedagogia seja vivenciado de forma diferente, para que haja a interação através da comunicação. Entendo que a prática pedagógica é a principal influenciadora nos aspectos a que estão ligadas a Educação Infantil que é destinada às crianças nas fases iniciais de convivência escolar, e nesse caso, a rodinha foi a principal

ferramenta para desenvolver o diálogo que insere a escuta sensível do professor retratada neste trabalho.

Logo, com o olhar e a escuta sensível, pude perceber na minha prática, a criança com seus movimentos, usando o seu próprio corpo para brincar e se expressar de várias formas, apresentando diferentes linguagens para se comunicar no momento em que interage com as outras crianças nas brincadeiras nos espaços oferecidos.

Pois é através da brincadeira de faz de conta que ocorre um dos momentos de desenvolvimento, no qual ela exercita em sua imaginação, a capacidade de planejar, de imaginar, os seus conteúdos e as regras existentes em cada situação. Neste momento, a criança consegue comunicar-se com o mundo do adulto, no qual adquire controle interior, autoestima e confiança em si mesma, levando-a a agir de maneira mais ativa para que vivencie experiências de tomada de decisões.

Por isso, entendo que o professor da Educação Infantil precisa estimular em diferentes áreas de desenvolvimento da criança e perceber a sua curiosidade e desenvolver seu próprio questionamento, ideias, sentimento e desejos, para que as crianças expressem seus sentimentos a partir do modo como é direcionada a atividade. A interação aluno-professor reflete nas suas experiências, como entendimento das ações de cada ser.

De modo que, para entender essa “pseudo interferência” é preciso que o educador esteja com a sua atenção mais voltada em o que as crianças pensam o que conhecem e como se comunicam através das diferentes linguagens (a fala, balbucios, choro, risos, desenhos, gestos, brincadeiras). Por entender que a escuta sensível é algo imprescindível para a prática pedagógica em sala de aula.

Através dessas experiências vivenciadas, com olhar de pesquisador, no âmbito escolar me fizeram perceber que as crianças quando estão brincando, transparecem nelas formas de comunicação, através do corpo e da fala, são momentos em que as expressam como veem o mundo ao seu redor. A partir da atitude de escutar para identificar os seus gostos e curiosidades, mudei e ampliei o meu olhar, ou melhor, dar às crianças o direito à fala foi e tem sido uma experiência que enriqueceu e enriquece, transformou e transforma, a cada dia, de maneira significativa, a minha prática pedagógica. Por tudo aqui apresentado a pesquisa desenvolvida afirma que a escuta sensível do professor da Educação Infantil pode tornar a prática educativa mais eficaz na construção do conhecimento das crianças de 03 anos.

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