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O tema estilo de vida vem sendo amplamente estudado, especialmente por disciplinas da área da saúde, sugerindo que sua importância na manutenção e promoção da saúde ou no processo de adoecimento está sendo crescentemente reconhecida e investigada.

A medicina, como vimos no levantamento bibliográfico do presente trabalho, é a área da saúde que mais produz publicações abordando esta temática. Especialidades como a cardiologia tem se interessado cada vez mais pelo assunto. Porém a medicina, resguardada na lógica biomédica e na metodologia quantitativa de pesquisa, apresenta uma série de limitações ao estudar o estilo de vida.

Isto porque se trata de um tema que abrange diversos conteúdos de ordem subjetiva e difícil de ser acessados ou modificados nas pessoas. A psicologia ambiental apresenta-se, pois, como a área da Psicologia que mais tem contribuído para o aprofundamento do estudo acerca desta temática devido a seu olhar cuidadoso para a relação pessoa/ambiente e seu aparato teórico que contempla a compreensão dos fenômenos relacionados a esta temática.

O estilo de vida não deve, portanto, ser reduzido a práticas, condutas e hábitos das pessoas, pois concebendo-o desta maneira estaríamos perdendo a maior riqueza que é justamente a sua complexidade, bem como a circularidade dos fatores subjetivos nele envolvidos. Por isso, ao se propor qualquer programa de modificação de estilo de vida, seja para pessoas saudáveis seja para portadores de doenças crônicas, deve-se levar em conta aspectos da subjetividade da pessoa e não somente a sua rotina e hábitos.

Entendendo esta natureza complexa e dinâmica do estilo de vida, compreendemos porque programas de modificação de estilo de vida raramente funcionam a longo prazo, como foi constatado por Loureiro (2007) e também no levantamento bibliográfico do presente trabalho. Não basta apenas inserir arbitrariamente na rotina da pessoa mudanças de alimentação ou práticas de esporte, pois essas mudanças não são consistentes nem duradouras quando impostas de fora para dentro, ou seja, quando não estão relacionadas com o universo de crenças e valores das pessoas, considerando inclusive o ambiente onde elas estão inseridas. Isto poderia talvez mudar alguns hábitos temporariamente, mas não chega a modificar o estilo de vida da pessoa, pois para isso seria necessário

que houvesse mudanças mais profundas, na subjetividade de cada um, ou seja, naquilo que acreditam e valorizam.

Reside aí, portanto, uma lacuna nas produções científicas acerca desta temática, pois como foi constatado no levantamento bibliográfico aqui realizado, não foram encontrados trabalhos publicados que tratem este tema em toda a sua complexidade, envolvendo fatores subjetivos, aprofundando o olhar sobre os elementos que constituem o estilo de vida das pessoas e que fatores influenciam neste complexo processo.

No presente trabalho, procuramos modificar a abordagem desta temática ao estudar o estilo de vida em uma população saudável. A população alvo foi constituída por estudiosos e praticantes de Yoga que possuíssem um grau avançado de estudo desta filosofia oriental milenar. Os resultados mostram que a prática do Yoga proporcionam a estes participantes um respaldo de valores e práticas que vão além dos exercícios físicos, influenciando também sua maneira de pesar e agir no dia-a-dia.

Considerando a concepção de estilo de vida aqui utilizada, a saber, a expressão de um conjunto de elementos que apresentam relevância na vida diária dos praticantes e estudiosos de Yoga, guiando seus relacionamentos, suas escolhas e revelando seus valores e motivações para as ações do dia-a-dia, foi possível identificar, a partir da análise dos resultados, quatro elementos/temas principais que compõem o estilo de vida dos participantes. São eles: auto-cuidado (prática de meditação, Yoga, exercícios físicos e alimentação adequada); respeito nas relações (cultivo da paz, harmonia e tolerância nos relacionamentos); busca por aprimoramento pessoal (prática de auto-conhecimento e exercício da espiritualidade) e ações voltadas para a sustentabilidade (condutas pró-ambientais).

A espiritualidade apareceu no presente trabalho como um importante aspecto do estilo de vida dos participantes. Corroborando as colocações de Bassani (2010) sobre a Avaliação Ecossistêmica do Milênio, onde foi constatado, segundo a autora, que nos locais onde houve redução da espiritualidade, ocorreu aumento da devastação e degradação ambiental, levando a conclusão de que quanto menor a espiritualidade, maior os níveis de degradação ambiental registrado.

A autora acrescenta ainda que as mensagens de alerta resultantes desta Avaliação apontam para mudanças de valores e percepções sobre o ambiente natural e seus recursos e também para mudanças de hábitos de consumo e de

produção. Em outras palavras, o desenvolvimento da espiritualidade por parte dos habitantes do planeta pode conduzi-los a construção de estilos de vida voltados para ações sustentáveis, tão desejadas e necessárias no atual contexto histórico-cultural.

Entendemos, portanto, que é necessária a realização de mais trabalhos que abordem esta temática de forma aprofundada e voltada para a saúde para, a partir daí, consolidarmos o conceito de estilo de vida em sua natureza ampla e complexa. Possibilitando inclusive a formulação de programas de intervenção no estilo de vida das pessoas, porém não como vem sendo feitos nos trabalhos aos quais nos referimos anteriormente, mas abordando este tema em toda a sua complexidade para que seja possível gerar mudanças consistentes na maneira de viver das pessoas em geral.

Sugerimos ainda que, em trabalhos posteriores, seja aprofundado o olhar sobre a qualidade de vida desta população, uma vez que a presente pesquisa não o fez, pois teve como foco seu estilo de vida. Consideramos importante também um aprofundamento sobre os conflitos existentes no processo de adoção de um estilo de vida baseado na filosofia do Yoga em meio ao contexto urbano, onde as exigências sociais e culturais apresentam-se aparentemente como um obstáculo para este feito.

Reconhecemos aqui que o estudo e a intervenção no estilo de vida das pessoas devem ser realizados pautados nos profundos conhecimentos da psicologia ambiental, pois esta apresenta conteúdos que podem contribuir e embasar os estudos acerca desta temática. Acreditamos ainda que este aprofundamento dos estudos sobre o tema resultaria na melhoria da qualidade de vida das pessoas e ainda nas condições ambientais que vivenciamos atualmente. Esperamos, assim, que o presente trabalho tenha contribuído para ampliar o olhar sobre este fenômeno, ressaltando a importância em estudá-lo no contexto da psicologia ambiental.

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