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Os resultados apresentados e discutidos na forma dos três casos nos permitem concluir que, no que se refere à questão da inclusão, as respostas que a escola vem dando às necessidades educacionais especiais de crianças com paralisia cerebral ainda parecem mínimas, e a possibilidade mais viável parece a implementação de estratégias de ensino pouco diversificado, que ainda está na dependência da boa vontade e competência do professor de classe comum. Entretanto, quando a adequação envolve gastos, tais como as modificações para tornar o ambiente físico mais acessível, a necessidade de uso de recursos de alta “tecnologia assistiva” ou de pessoal especializado, a política de inclusão continua deixando a desejar.

Mendes (2002) alerta para o perigo de que a política de inclusão escolar esteja servindo ao propósito de mascarar a redução de gastos públicos, e de diluir os recursos antes destinados a serviços de ensino especial separados da classe comum.

Num contexto no qual as mudanças adotadas são mínimas e ainda se encontram na dependência da boa vontade e competência do professor, parece ser muito variável o impacto da escolarização exclusiva em classe comum para crianças com paralisia cerebral, na Educação Infantil.

O ganho acadêmico no caso dos graus mais severos de comprometimento motor parece não depender exclusivamente da ação do professor da classe comum, e irá requerer suporte de pessoal especializado. Isso implica na necessidade de uma proposta de ensino colaborativo, no qual os professores (do ensino regular e da educação especial) juntos buscarão um ensino de melhor qualidade para todos.

Os benefícios da socialização, por outro lado, parecem depender muito da ação do professor de classe comum, e a falta de uma mediação adequada das interações entre crianças com e sem paralisia cerebral pode levar a experiências de discriminação e de rejeição social, o que compromete os objetivos da inclusão escolar. O presente estudo indicou que a aceitação social e os benefícios da socialização não parecem depender necessariamente do grau de limitação, mas sim da atitude do professor do ensino comum. Tal procedimento, em se tratando da professora, deve ser reformulado, para que o reconhecimento da diversidade não reflita em discriminação de preconceitos.

No tocante à implementação de estratégias diversificadas para atender às necessidades educacionais especiais de crianças com paralisia cerebral, o que se observou foi que os professores parecem desconhecer de que forma o ensino pode ser

diferenciado para atender seus alunos de modo geral, e não necessariamente apenas aqueles com paralisia cerebral.

As estratégias de ensino observadas ainda estão muito tradicionais, centradas na figura do professor, carregadas de construção verbal envolvendo a passividade do aluno, dificultando interação entre pares. Enfim, as práticas pedagógicas observadas pareceram distante do que a literatura vem apontando sobre práticas efetivas para promover o ensino-aprendizagem de modo geral, e sobre o que a inclusão escolar, em particular, tem apontado como estratégias efetivas de ensino.

Um ponto interessante a ser observado se refere ao descompasso entre o que os professores dizem fazer e o que se observa de sua prática. A professora Cláudia, por exemplo, que foi a única que praticamente falou que seu ensino é igual para todos demonstrou, na prática, adotar estratégias diferenciadas para sua aluna Clarinha. As demais, que afirmaram adotar diferentes estratégias, na prática demonstraram usar as mesmas estratégias para todos. Enfim, os resultados indicam que não há consciência e que, portanto, falta a intencionalidade necessária ao ato de ensinar. As professoras não apenas desconhecem como fazer adequações, mas também não as reconhecem, mesmo quando as implementam.

De maneira geral, a inclusão deve se tornar uma luta de todos, envolvendo os professores, os alunos, a escola com seus membros - as merendeiras, secretarias, diretora e outros profissionais – mas, principalmente, exige a participação e interação da família no que diz respeito a todos os aspectos relacionados ao processo de ensino e aprendizagem dos seus filhos, desde a socialização até atividades acadêmicas.

Nas palavras de Mendes (2005), o futuro da política de inclusão escolar em nosso país dependerá de um esforço coletivo, que obrigará a uma revisão na postura de pesquisadores, políticos, prestadores de serviços, familiares e indivíduos com necessidades educacionais especiais, para trabalhar numa meta comum, que seria a de para garantir uma educação de melhor qualidade para todos.

De fato, há muito que ser feito, desde os aspectos estruturais nas escolas - como rampas, banheiros adaptados, etc - modificações nos cursos de formação de professores; aquisição de recursos educacionais e tecnológicos, que contribuam para a permanência e participação do aluno nas classes comuns. Para tanto, como já discutido, a inclusão escolar ainda depende do apoio dos serviços da Educação Especial.

Cabe ressaltar que a inclusão escolar desde a educação infantil é um passo muito importante na vida dessas crianças com necessidades educacionais especiais; é o

momento certo de exercerem o direito de se educar juntas cada qual com suas peculiaridades. Mas, para isso, não basta estar numa mesma classe do ensino regular, pois há necessidade de promover suas habilidades e competências e não apenas em função de suas limitações.

Concluindo, percebe-se que o olhar que os professores têm sobre as crianças na educação infantil privilegia especificamente o aluno, desconsiderando muitas vezes o ser criança que necessita de atividades lúdicas. Tal situação merece ser repensada para que se valorize esta etapa de acordo com as suas reais características e não como preparatória para as outras. Além do fato de ser extremamente importante pensar a crianças como um todo e não apenas em suas dificuldades. Sobre esse aspecto, é preciso repensar as escolas de Educação Infantil ao mesmo passo em que se luta por uma escola inclusiva.

O estudo mostrou que aspectos como o currículo, estratégia de ensino, formas de avaliação, organização do espaço e tempo, manejo da disciplina, relação família-escola, incentivo à motivação e às interações humana que ocorrem no âmbito da sala de aula estão comprometendo a proposta de escolarização inclusiva de crianças com necessidades educacionais especiais.

Mas esta conclusão não é prerrogativa para esse tipo de crianças, pois tais condições, de modo geral, comprometem a aprendizagem de todos os alunos. Neste sentido, a discussão sobre a inclusão escolar deve ultrapassar a questão de onde tais alunos serão ensinados, avançando para o debate de como melhorar a qualidade da escola e do ensino para todos os alunos (Mendes, 2005).

Finalmente, é preciso lembrar que, se a política de inclusão escolar continuar colocando sob a responsabilidade quase que exclusiva do professor a condução do processo, é muito provável que ela falhará. As professoras estão fazendo o que podem, com os recursos pessoais que conseguiram acumular ao longo de suas vidas. Infelizmente, por melhor boa vontade que elas tenham, isso não tem sido suficiente. Não vai aqui uma crítica pessoal ao trabalho delas, mas uma ênfase na necessidade de tirá-las deste isolamento e da injusta sobrecarga que hoje pode representar o fato de ter uma criança com deficiência em sua sala de aula. Portanto, é hora de se avançar na definição e provisão dos suportes necessários para se construir escolas verdadeiramente inclusivas.