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Voltar para frente, expressão vinda da fala de Artur, é a metáfora que escolhemos para descrever o que compreendemos ser tarefa de analista diante de um sujeito psicótico: fazer construções.

Termo utilizado por Freud (1937) em contrapartida à interpretação, as construções remetem-se à tarefa do analista quando esse trata de recuperar um fragmento esquecido da história do sujeito. Mais acostumados com a imagem que aproxima o psicanalista do decifrador de enigmas, do arqueólogo, a tarefa de construir é muitas vezes, tal como os fragmentos das histórias, esquecida. A clínica da psicose, contudo, nos trouxe de volta a ela.

As construções, na nossa clínica, no caso de Artur, não foram apenas alicerces. Ao contrário, constituíram a própria essência do trabalho. Construir, nesse sentido, não foi antever, precipitar ou ainda encurtar caminhos. Não é decifrar o que não se apresenta como enigmático. Com Artur, preciso foi construir enigmas.

E, ainda que possamos reconhecer na psicose, no delírio, algo da verdade histórica do sujeito _tal como Artur o fez, ele mesmo, a partir de seus escritos_, o caminho possível foi tão somente ajudá-lo a construir ou, em suas palavras, voltar para frente.

Artur nos mostrou que, na psicose, não há possibilidades de reparação da realidade, pois é ela, a realidade, que se encontrava despedaçada, a ruptura acontecera num momento primordial.

Ao longo do trabalho, e, obviamente da clinica, acompanhamos o caminho que Artur encontrou para recompor suas origens, que atravessa tanto o mito como o romance. Esses gêneros, porém, no caso de Artur, não são

literários, mas, talvez, literais. Não se enlaçam, como vimos, na trama da cultura, de modo que Artur parece vivê-los de maneira não-ficcional, concreta.

Na tragédia neurótica, mesmo quando se sabe que todos os limites foram ultrapassados, ainda se pode voltar atrás, numa tentativa mesmo que falha de reparação. Na psicose, o que resta é construir, voltar para frente.

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