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CONSIDERAÇÕES FINAIS Evidências crescentes confirmam a importância crucial de interações

entre células cancerosas e resíduos de carboidratos durante a progressão tumoral. As lectinas são definidas como proteínas ligadoras de carboidrato, excluindo enzimas e anticorpos. As lectinas podem ser: (1) lectinas tipo C (incluindo as selectinas); (2) lectinas tipo P; (3) pentraxinas e (4) galectinas (28).

A GAL-3 consiste de três domínios: (1) domínio N-terminal compreendendo cerca de 20 aminoácidos; (2) domínio composto de 10 repetições de aminoácidos com resíduo aromático conservado (domínio R), e (3) domínio de reconhecimento de carboidrato na porção C-terminal composto de aproximadamente 140 aminoácidos. A expressão de GAL-3 ocorre em diferentes células e tecidos normalmente, ou mesmo durante fases evolutivas. Assim, por exemplo, há expressão em fibroblastos, macrófagos, basófilos, mastócitos, condrócitos e osteoblastos, células endoteliais, além do cérebro, ovários, estômago, fígado, cólon e pele (29).

A expressão aumentada de GAL-3 em células cancerígenas foi inicialmente identificada em tumores de mama (32). Em seguida, foi descrita em adenocarcinoma de cólon, tumores gástricos e carcinoma hepatocelular. Em carcinoma de tiróide, desde o estudo de Xu et al, tem-se aprofundado no uso desta lectina para distinção de lesões foliculares de tiróide (33).

A GAL-3 tem sido implicada em várias funções biológicas em células tumorais: (1) interação célula-célula; (2) adesão, migração e invasão; (3) crescimento tumoral e metástase; (4) proliferação e regulação de ciclo celular; (5) apoptose; (6) angiogênese (29). Especificamente em tumores de tiróide, Yoshii et

al avaliaram os efeitos da transfecção de DNA complementar anti-sense de GAL-3 em carcinoma papilífero, que apresenta expressão elevada deste marcador. Determinaram que a presença de GAL-3 era importante para manutenção do fenótipo maligno transformado (34).

Na tentativa de associar o marcador com a agressividade tumoral, poucos estudos correlacionaram a expressão de GAL-3 com a evolução dos pacientes. Kawachi et al. encontraram expressão aumentada de GAL-3 nos tumores primários com metástase, quando comparados com aqueles sem metástase. Contudo, a expressão de GAL-3 nos linfonodos era menor que no tumor primário. Sugerem que na continuidade da progressão tumoral, em estágios tardios, a expressão diminuída de GAL-3 possa facilitar a liberação de células cancerosas da lesão primária para invasão e metástase (35).

Outro aspecto também a ser considerado para GAL-3 é a sua localização na célula tumoral. No tecido tiroidiano normal, a GAL-3 não é expressa (36). Depois de sintetizada no citoplasma, freqüentemente permanece neste compartimento, embora possa ser secretada ou translocada para o núcleo. Em neoplasias malignas de tiróide, a expressão citoplasmática de GAL-3 ocorre de maneira muito mais importante que a nuclear. Em adenocarcinoma de cólon foi encontrada associação entre a localização de GAL-3 e o grau de diferenciação celular. Contudo, nos tumores de tiróide, benignos ou malignos, há expressão

predominantemente citoplasmática, sem relação com agressividade

histopatológica ou estado de dediferenciação (37).

Quanto aos resultados tão divergentes entre os diferentes estudos para distinção de lesões foliculares, alguns aspectos metodológicos merecem

consideração: (1) uso de diferentes critérios de positividade/malignidade entre os estudos; (2) uso de critérios histológicos distintos para definição de lesões foliculares; (3) obtenção de anticorpos monoclonais de diferentes fontes; (4) utilização de sistemas de detecção imunohistoquímicos com e sem biotina.

Apenas um estudo comparou anticorpos monoclonais para GAL-3 de diferentes empresas. Foram estudados casos de carcinoma folicular e não foi encontrada diferença na expressão da lectina (38). Os autores descrevem apenas a ocorrência de maior coloração de fundo com anticorpo da empresa Novocastra. Vale ressaltar que este não era o objetivo do estudo e que foi feito na tentativa de atenuar este efeito ao comparar seus resultados com os de outros centros.

Outro fator interferente pode ser o sistema de detecção utilizado pela grande maioria dos autores, inclusive no presente estudo. São métodos de detecção baseados em biotina. Na glândula tiróide, as células oxifílicas são ricas em biotina endógena e a imunohistoquímica para GAL-3 pode promover resultados falso-positivos em lesões celulares oxifílicas quando baseada em métodos de detecção com biotina, especialmente quando é necessária a recuperação antigênica induzida por calor (39,40). Os centros que obtêm os melhores resultados com GAL-3 na diferenciação de lesões foliculares utilizam sistemas de detecção sem biotina.

Martins et al, utilizando a técnica de RT-PCR quantitativa, mostraram positividade de GAL-3 em 80% das amostras de bócio multinodular e em 60% das amostras de adenoma folicular (41). Outros estudos também descreveram expressão de GAL-3 em lesões foliculares benignas, em tiróide normal e doença de Graves (42,43,44). Sabe-se que há expressão de GAL-3 no endotélio, e que

pode estar aumentada em histiócitos e outras células inflamatórias. Assim, é possível que ocorra uma contaminação da amostra tecidual com células não tumorais que expressam GAL-3 e, através da RT-PCR, seriam selecionados como casos positivos para GAL-3. Na imuno-histoquímica, é possível identificar as células tumorais e considerar, ou não, a expressão de áreas distintas. Nos casos avaliados, houve expressão de GAL-3 em células não-tumorais apenas em áreas de tiroidite ou em histiócitos, de maneira isolada. Estudo recente comparou a expressão de GAL-3 através das técnicas de RT-PCR e imuno-histoquímica. Os autores descrevem que a expressão em nível protéico foi pouco maior do que a molecular, através da quantificação de mRNA, nos casos de carcinoma papilífero (45).

Outro aspecto de interesse quanto à positividade para GAL-3 em alguns casos de adenoma folicular é a especulação que possam representar lesões malignas, mas ainda sem identificação de invasão capsular ou vascular. Embora os mecanismos moleculares da tumorigênese não estejam completamente elucidados, a observação de que lesões benignas como bócio multinodular apresentam focos de expansão clonal, sugerem um estágio nas várias etapas da possível evolução de bócios e adenomas para carcinoma (46). Assim, os adenomas positivos para GAL-3 poderiam se tratar de lesões malignas em uma etapa sem invasão histologicamente identificável.

Há, ainda, a hipótese de que a marcação nas células adenomatosas seja influenciada por secreção de citocinas por linfócitos em áreas de tiroidite (47). Contudo, em nenhum dos nossos três casos positivos de AF havia presença de

tiroidite. Não houve interferência da presença de tiroidite nas avaliações de expressão de GAL-3, tanto nos casos benignos quanto nos malignos.

O diagnóstico da variante folicular do carcinoma papilífero não é fácil, como demonstrada pela grande variabilidade entre observadores, mesmo entre patologistas endócrinos experientes (48). As características deste tumor que mais dificultam seu diagnóstico são: (1) um padrão de distribuição multifocal ao invés de difuso das características nucleares de carcinoma papilífero, e (2) a forma mais comumente encontrada é a encapsulada que é uma lesão solitária com ausência de qualquer característica invasiva (22). A GAL-3 mostrou ser um ótimo marcador para esta variante de carcinoma papilífero, podendo ser utilizada na caracterização de nódulos suspeitos à histologia.

Considerando apenas a variante oxifílica de adenoma e carcinoma folicular, Nascimento et al mostraram expressão maior de GAL-3 em carcinomas (59 x 7,1%) (49). Volante et al relatam em uma grande série de lesões oxifilicas valores de sensibilidade de 94% e especificidade de 87% (50). Contudo, no presente estudo, encontramos apenas um caso positivo entre 14 adenomas oxifílicos e outro, dos 04 carcinomas foliculares variante oxifílica.

Alguns estudos têm sido publicados utilizando GAL-3 associada à PAAF, por imuno-citoquímica, em nódulos de tiróide. Em estudo multicêntrico e prospectivo, Bartolazzi et al descrevem valores de sensibilidade, especificidade e acurácia de 100%, 98% e 99%, respectivamente, na distinção de lesões benignas e malignas da tiróide de material citológico de PAAF (51). Porém, estudo recente, não conseguiu reproduzir tais resultados, alcançando valores de sensibilidade de 89%, especificidade de 75% , VPP, 74% e VPN, 89%, avaliando PAAF de lesões

foliculares com diagnósticos histopatológicos de adenoma e carcinoma folicular (52).

Finalmente, estudos mais recentes têm utilizado painéis de marcadores, incluindo GAL-3, para tentar melhorar a sensibilidade e especificidade. Incluem-se os marcadores CITED-1, CK19, HBME-1, CD26, heparanase, entre outros (53-58). A associação de diferentes marcadores parece ser a área mais promissora para avaliação de lesões suspeitas.

Concluímos que a galectina-3 é um bom marcador para CPFV e apresenta elevados valores preditivos negativo e positivo. Pode ser útil, assim, na avaliação de nódulos de tiróide que apresentem características citohistológicas típicas de carcinoma papilífero, mas de maneira dispersa ou escassa. Não deve ser utilizada para distinção de adenoma e carcinoma folicular da tiróide.

5. BIBLIOGRAFIA

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